[Matéria atualizada em 04/05/2020, às 17h] Atualmente, uma das pontas frágeis do combate ao novo coronavírus é a pouca informação sobre o vírus. Uma maneira de correr atrás disso é coletar dados das pessoas através do celular. Não à toa, muitos países estão desenvolvendo aplicativos para fazer um mapeamento epidemiológico da Covid-19. É o caso, por exemplo, do Reino Unido, que deve lançar em breve um app para alertar se a pessoa teve contato com alguém infectado, assim como metade da União Europeia, que está discutindo ou adotando rastreamento de localização. No Brasil, até o momento, as ações são regionais. As operadoras fizeram acordo com o Governo do Estado de São Paulo para monitorar o isolamento social a partir de mapas de calor que indicam maior ou menor concentração de pessoas por área. Enquanto isso, no Rio, a Zoox Smart Data, empresa que aplica big data e inteligência artificial em segmentos como o de hospitalidade, varejo e transporte, em parceria com o Instituto D’Or, desenvolveu a iniciativa Dados do Bem (Android, iOS). Sua proposta é coletar dados para conhecer melhor a doença no estado, criar mapas de distribuição da Covid-19 e identificar a concentração de transmissão e análise da evolução da imunidade na população. Por enquanto, o Dados do Bem será usado no estado fluminense, mas o CEO da Zoox, Rafael Albuquerque, informa que está negociando com outros quatro estados e fechando acordos com municípios para sua aplicação.

O aplicativo foi desenvolvido em poucas semanas e já está disponível nas lojas Google Play e App Store. Lançado em 15 de abril, o Dados do Bem acumula 150 mil downloads. Somente no dia 27 de abril foram 100 mil.

“O que nos motivou para desenvolvermos o aplicativo é a questão do confinamento. Não existe um plano de saída porque não há números apurados, não tem inteligência para resolver”, explica Albuquerque.

Como funciona

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Tenda do Dados do Bem para a realização dos testes rápidos. Foto de divulgação/Gustavo Cegalla

O usuário deve baixar o aplicativo e responder as perguntas sobre os sintomas, se a pessoa faz parte de algum grupo de risco e se trabalha na área da saúde. Em seguida, o algoritmo faz uma seleção entre os usuários que são profissionais da saúde e que tenham sintomas compatíveis com a Covid-19 para fazer um teste rápido, de graça, oferecido pelo Dados do Bem. Porém, os testes rápidos são oferecidos apenas para menos de 10% dos usuários do aplicativo. A proposta não é fazer testagem em massa, mas fazer uma amostra populacional.

Os testes rápidos estão disponíveis desde o último dia 28 de abril. Esses escolhidos – e somente eles – recebem um aviso com dia e hora para comparecer ao estacionamento do Via Parque, shopping da zona oeste da cidade onde estão sendo feitos os testes . Lá, o usuário apresenta um QR Code de identificação criado pelo app e faz o teste.

Depois do teste feito, o resultado sai em poucas horas, via notificação push. “Não queremos que a pessoa fique esperando pelo resultado, para não termos aglomeração. Por isso o resultado só é entregue cerca de duas horas depois. Até para dar tempo para a pessoa chegar em casa”, diz Albuquerque.

Se o resultado for positivo para a presença do novo coronavírus ou de anticorpos da doença, o aplicativo pede para que o usuário indique o nome e o telefone de cinco pessoas com as quais teve contato recentemente. Essas pessoas receberão um SMS e terão prioridade para fazer os testes, mesmo não sendo da área da saúde.

No momento, os dados coletados pela ferramenta serão compartilhados com o Governo do Estado do Rio de Janeiro. O material é anonimizado para que seja possível pensar em políticas públicas a partir desses resultados.

Machine learning, geolocalização e Big Data

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QR Code que identifica o usuário que vai realizar o teste rápido. Foto: Divulgação/Gustavo Cegalla

Segundo o médico e pesquisador infectologista do IDOR e da Fiocruz Fernando Bozza, o app é uma forma que o time encontrou para juntar tecnologia com inteligência epidemiológica. “A iniciativa do aplicativo tem como caráter a saúde populacional e não individual. Por isso, os dados são anonimizados. “Há limites com relação às testagens, mas do ponto de vista coletivo as informações são muito úteis. Com os testes, mesmo que poucos, conseguimos entender onde estão os clusters (grupos). É possível identificar o deslocamento da doença, sua mobilidade, como as pessoas se deslocam pelos bairros e onde estão determinados conglomerados de pessoas positivas. Tem uma camada de informação – de sintomas – relativamente simples, mas que ajuda em um nível mais macro”.

A partir dessas informações, o time do Dados do Bem é capaz de fazer modelos preditivos de modo a saber para onde a Covid-19 vai expandir. “É uma nova maneira de pensar a epidemiologia. Certamente teremos que pensar outros modelos”, conta Bozza.

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Fernando Bozza é médico e pesquisador do IDOR e da Fiocruz. Foto: divulgação

O Dados do Bem se serve de machine learning e big data, com dados de geolocalização e de outras fontes, sendo um meio de captura de informações para controlar a mobilidade da população, prever o tempo de fila nos postos de testes e entender a progressão da Covid-19 .

“Juntamos a questão em três pilares: informação, que está no formulário; gestão da informação de testagem propriamente; e uma terceira parte, de big data, que envolve várias camadas (mobilidade, mais outros dados que venham de outros locais – dos próprios governos, como dados demográficos, geográficos do IBGE, entre outros). No final, queremos ter um conjunto de informações que seja clara, útil e, ao mesmo tempo, atualizada, dinâmica e que ajude no entendimento da epidemia”, explica o médico e pesquisador.

Para a próxima versão do aplicativo, que deve sair em breve, a Zoox e o Instituto D’Or fecharam uma parceria com as principais operadoras do país para que elas não cobrem pelo uso de dados e ajudem no plano de comunicação do Dados do Bem.

O CIO da Zoox Smart Data, Rafael Rodrigues, alerta para que, quem baixar o app não o apague porque ele continua rodando a geolocalização, que vai ajudar na coleta de dados. Para estimular que o usuário acesse ao Dados do Bem com frequência, ele disponibiliza as estatísticas mais recentes da Covid-19 no Brasil, como o número de casos confirmados, a quantidade de óbitos, a porcentagem de letalidade e um mapa do novo coronavírus por estado. É também possível receber informações básicas sobre o que é a doença, seus sintomas, como é a transmissão, fake news, entre outros temas.

A segunda versão já está pronta e uma terceira está no roadmap. Ainda para estimular que as pessoas não apaguem o Dados do Bem, os desenvolvedores pretendem inserir lives a partir de maio com informações à população sobre a doença e o que está acontecendo no Brasil. “Queremos que ele seja um centro de inteligência sobre a Covid-19 e para que o app tenha valor para seus usuários”, afirma Albuquerque.

 

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