| Originalmente publicado no Teletime | Fornecedores de telecomunicações ainda estão com o pé atrás em relação à realização do leilão de 5G conforme proposto pela Anatel. Para empresas como Ericsson, Nokia, Intel e Cisco, as condições para a realização do certame e para a implantação da tecnologia no País ainda precisam estar melhor definidas antes. Porém, com o Brasil enfrentando crise econômica amplificada pela pandemia do coronavírus, a agência fica em uma encruzilhada para saber quando é o melhor momento para promover a venda de espectro.

Para o diretor de políticas públicas da Cisco do Brasil, Giuseppe Marrara, o leilão do 5G seria uma “importante medida anticrise”, já que injetaria investimentos na economia e traria aumento expressivo na eficiência e produtividade. Contudo, a cautela também é recomendada. “É melhor acontecer um leilão quando o governo está em uma situação complicada? É melhor acontecer agora, com a possibilidade de ser arrecadatório? Ou é melhor esperar, mas não muito, para que tenha troca por investimento”, disse ele durante evento online promovido pelo site Teles.Síntese.

O diretor de políticas públicas na Intel Brasil, Emílio Loures, destaca que a implantação ainda demoraria para acontecer, com o início ficando apenas para a segunda metade de 2021, mas a massificação ainda mais para frente. O timing é importante, mas no cenário atual, com perspectiva de queda de PIB, esperar investimentos fortes é algo que preocupa as teles. “Ninguém está esperando que o 5G vá ser o mais importante em termos de receita em 2021. Só agora que estamos chegando à 70% da base em 4G”, declara. “O problema é que, quanto mais atrasamos, mais longa será a curva”, opina.

Questões estruturantes

Diretor geral da Nokia no Brasil, Luiz Tonisi, diz que é necessário resolver questões estruturantes no Brasil antes, como a insegurança jurídica em relação à renovação de espectro no novo modelo, o ambiente legal para instalar a quantidade necessária de antenas (com a Lei das Antenas); maiores definições da Internet das Coisas; investimento das empresas nas redes, com virtualização do acesso e do core; e finalmente, a precificação. “Até que ponto o leilão é considerado não arrecadatório?”, questiona.

O executivo da Nokia questiona também o contexto do mercado, com a possível venda da Oi Móvel para a TIM e a Vivo ainda em jogo, além da forte desvalorização do real frente ao dólar. Vale lembrar que o presidente da Anatel, Leonardo Euler, afirmou que a possível consolidação do mercado não vai interferir no cronograma do leilão.

O quanto antes o leilão se realizar, melhor é para economia, afirma o presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, Eduardo Ricotta. Mas ele alerta: “É importante ter um leilão correto. Se sair rápido, mas dar errado, vai ficar pior, e o impacto nas empresas será ainda maior”, declara. O argumento é que o 5G será importante para todos os setores da economia ao trazer ganhos de eficiência. “A tecnologia não é o problema, é parte da solução.” O executivo destaca inclusive que, caso se entenda que a renovação de espectro só caiba para novas licenças, as antigas terão que ser devolvidas, e os acessos atuais ao espectro vinculado, desligados.

Há ainda o benefício indireto. Segundo Ricotta, a companhia encaminhou um estudo ao Ministério da Economia que mostra: a cada 10% de cobertura adicional, R$ 30 bilhões são gerados em arrecadação de impostos. “A discussão que temos que ter, e estamos tentando mostrar isso para o governo, é que, em vez de olhar o preço da licença, tem que olhar toda a cadeia”, destaca.

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!