| Publicado originalmente no Teletime | O presidente da Anatel, Leonardo Euler, já dá como certo que a pandemia do coronavírus, além das questões da faixa de 3,5 GHz, devem influenciar no cronograma do leilão de 5G. O certame estava originalmente programado para o final de 2020. Além disso, ele considerou que, ainda que a frequência tenha um ecossistema já em desenvolvimento, o uso de refarming de espectro atualmente usado no 4G também pode ser considerado para a implantação o 5G.

“Existem outras faixas nas quais já há desenvolvimento de soluções 5G, como na de 2,1 GHz (a banda H), e as faixas de 700 MHz e 1,8 GHz”, declarou Euler durante live da Aliança Conecta Brasil F4 nesta sexta-feira, 22. “Outros países já fazem refarming, então tem a possibilidade de upgrade nas redes mais novas em LTE, e com isso possibilitar também de nós capitalizarmos o 5G com outras faixas”, afirma.

A possibilidade já havia sido aventada também pela Ericsson. No início desta semana, o presidente da fornecedora na região do Cone Sul da América do Sul, Eduardo Ricotta, confirmou que há conversas com operadoras no sentido de haver compartilhamento de espectro (com refarming) em faixas de 4G para o 5G.

Atraso

“A pandemia certamente gera algum impacto no cronograma, e também na própria cadeia de suprimentos do 5G”, declarou Leonardo Euler. Ele também considera que a tecnologia poderá acabar sendo um serviço sem percepção de essencialidade para o consumidor final. “Em termos de handsets, a capacidade [de consumo do usuário] na crise econômica decorrente da pandemia tem efeitos. Em vez de ter um ‘must have’, ele terá um ‘nice to have’, e isso causa impacto nas projeções”, afirma.

Isso é algo que preocupa ainda mais ao se considerar que o 3,5 GHz ainda é o carro-chefe para a tecnologia de quinta geração. Euler diz, “em tom matemático”, que a equação do 5G está sujeita à restrição imposta na política pública – ou seja, a preservação do serviço de TV parabólica, a TVRO. “A gente precisa evoluir bastante, seja na forma em que endereçamos a mitigação, seja na estratégia de migração para dar cabo à política pública formulada”, declarou. Ele lembra, contudo, que as TVROs não são um serviço regulamentado. “Têm a sua importância, mas são orientados por instrumentos muito rudimentares e acabam recebendo sinais na banda adjacente.”

Os testes de campo da Anatel com o CPqD precisaram ser interrompidos no começo da pandemia, mas a agência continuou a executar simulações computacionais para avaliar a convivência do 5G com as TVROs. Isso culminou na nota publicada na quinta-feira pelo Comitê de Espectro e Órbita, o qual Euler também preside, destacando que os resultados com os filtros LNBF ainda são insatisfatórios.

Além das TVROs, a agência também investiga a possibilidade de interferência nos enlaces do serviços fixos satelitais (FSS). “Existem links que estavam na banda C estendida, de 3.625 MHz, e temos que garantir que o 5G não gere interferência nisso.”

Evento

A Aliança Conecta Brasil F4 é uma entidade presidida pelo ex-deputado federal Daniel Vilela que tem como propósito refletir e fazer propostas para o desenvolvimento da banda larga no Brasil. Criada em fevereiro deste ano, a Aliança se posiciona como um “think tank” que congrega operadores de telecomunicações, empresas de tecnologia e atores do setor público. O evento desta sexta-feira foi organizado por Teletime.

 

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