No Brasil, ainda existem 20 milhões de domicílios sem acesso a Internet, o equivalente a 26% do total do País. Das residências com acesso, 27% têm Internet por meio de conexão móvel. O celular é o principal dispositivos para acessar a Internet para 99% dos usuários da rede. Porém, mais de 47 milhões de brasileiros simplesmente não acessam a Internet, ou um em cada quatro brasileiros. E, entre os que usam, 58% acessam exclusivamente pelo celular. O percentual é mais acentuado se o recorte for entre as classes D e E, onde 85% dessa camada da população acessa a Internet apenas pelo handset, ou na área rural (79%). O uso exclusivo do celular também predomina entre a população preta (65%) e parda (61%), frente a 51% da população branca. O Brasil tem 134 milhões de usuários de Internet, o que representa 74% da população com 10 anos ou mais. Os dados são da pesquisa TIC Domicílios 2019, divulgada nesta terça-feira, 26.
“As classes A, B e até mesmo a C possuem múltiplos dispositivos, mas aquela população que usa exclusivamente o celular não podemos considerar que esteja integrada porque existe uma exclusão de segundo nível que é ter a habilidade digital”, explica Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, responsável pela pesquisa. Ou seja, existe uma diferença entre saber usar o aparelho nas redes sociais, mandar uma mensagem por WhatsApp – chamada entre os pesquisadores de uso experimental – e ser hábil na ferramenta, saber produzir conteúdo e acessar conteúdos de qualidade. “Quando conseguirmos resolver essa camada (de acesso à Internet), teremos que reparar uma segunda, de habilidade digital, ou seja, um usuário capaz de criticar o que está absorvendo, capaz de produzir conteúdo”, completou.
A pesquisa também apontou que o uso de soluções digitais ofertadas pelo governo são limitadas às camadas mais ricas da população (classes A, B e C). “Aquele cidadão que usa múltiplos dispositivos tem mais acesso à informação, interage melhor com o governo e possui mais habilidades digitais”, explica Barbosa. Para o gerente do Cetic.br, um exemplo que evidencia a falta de conhecimento de usar a tecnologia é o Auxílio Emergencial, com muita gente tendo dificuldade de baixar o aplicativo. “A falta de acesso à Internet e o uso exclusivamente por celular, especialmente nas classes D e E, evidenciam as desigualdades digitais presentes no país e apresentam desafios relevantes para a efetividade das políticas públicas de enfrentamento da pandemia. Isso revela de forma clara as desigualdades no Brasil. E a pesquisa deixa claro que temos alguns gaps que as políticas públicas vão ter que resolver”.
Informação
A busca por informações está entre as principais atividades realizadas na Internet, sobretudo a busca por produtos e serviços (59%), seguida por assuntos relacionados à saúde ou a serviços de saúde (47%). Essa última apresenta uma proporção menor entre pessoas de 60 anos ou mais (39%) e nas classes D e E (31%).
Durante a apresentação da pesquisa, o coordenador da TIC Domicílios, Fabio Storino, explicou que fazer buscas sobre saúde, por exemplo, está mais presentes entre as pessoas que possuem banda larga fixa. “São domicílios com mais dispositivos – computadores ou tablets, por exemplo –, capazes de realizar essas atividades em maior proporção do que aqueles apenas com a conexão móvel domiciliar, assim como são as pessoas com computadores em casa que fazem trabalho remoto e atividades escolares em maior proporção do que quem tem apenas o celular”.
Computadores
A TIC Domicílios verificou que, pelo quarto ano consecutivo, os computadores estão cada vez mais escassos nas casas brasileiras. Em 2016 o dispositivo estava presente em 50% dos domicílios e, em 2019, 39%. Pelo recorte socioeconômico, enquanto 95% dos domicílios da classe A possuem algum tipo de computador, eles estão presentes em apenas 44% dos domicílios da classe C e 14% dos domicílios das classes D e E.
Metodologia
A pesquisa TIC Domicílios 2019, que completou 15 anos, realizou entrevistas entre outubro de 2019 e março de 2020, pouco antes do início do isolamento social, em 23.490 domicílios em todo o País de forma presencial.
Barbosa disse também que o Cetic.br avalia fazer adaptações na metodologia de modo a viabilizar uma pesquisa com processos mais rápidos ainda durante esse período de pandemia por conta do novo coronavírus. “Estamos com um planejamento de uma pesquisa com foco específico, como, por exemplo, o comércio eletrônico. Queremos analisar as questões de fenômenos de agora. Avaliá-los é fundamental e estamos estudando viabilizar isso. O grande problema é que produzir dados de qualidade não é simples”.