| Publicada no Teletime | A Conexis, entidade setorial que representa as operadoras de telecomunicações (antigo SindiTelebrasil), deve apresentar à Anatel na próxima semana um estudo independente encomendado à LCA Consultores com uma análise detalhada de impactos sociais e econômicos dos diferentes modelos para solucionar as interferências que o serviços de 5G na faixa de 3,5 GHz terão na recepção de sinais via satélite pela banda C (TVRO).
A expectativa é que o estudo se aprofunde em aspectos de custos e dimensionamento dos projetos para mitigação do problema pelas duas abordagens que estão na mesa: a instalação de filtros contra interferências nos casos necessários, como querem as teles; ou a migração dos canais abertos de TV disponíveis no satélite para a banda Ku, como propõem a emissoras de TV. Será o mais completo estudo econômico já feito até aqui sobre qualquer um dos modelos, pois analisará os cenários geográficos em que efetivamente o problema de interferência poderá acontecer com a maior probabilidade como também os custos atualizados de equipamentos e logística de instalação, já considerando o cenário cambial atual e os resultados de testes com filtros.
Racional favorável
Apesar das contas ainda estarem sendo finalizadas, o mais provável é que, proporcionalmente, a vantagem do modelo de mitigação por filtros se mantenha, ainda que em valores absolutos apareçam valores maiores do que os que já vinham sendo estimados nos dois cenários (R$ 450 milhões para o modelo de filtros e R$ 2,8 bilhões no modelo de migração para a banda Ku). O aumento se dá em função do câmbio e de novas metodologias de cálculo da quantidade de domicílios afetadas pelas interferências.
As operadoras sustentam que os indicativos seguem sendo amplamente favoráveis ao modelo de mitigação com filtros: custos substancialmente menores, possibilidade de implantação muito mais rápida no 5G e menos complexidade logística. O argumento central das teles é que a migração para a banda Ku causaria um impacto social e econômico muito maior, pois todos os domicílios que dependem de banda C para receber o sinal de TV teriam que mudar para a banda Ku. Além disso, a liberação do espectro de 3,5 GHz só poderia ocorrer quando toda a migração das parabólicas de TVRO para a banda Ku acontecesse; e haveria um custo muito maior considerando-se toda a base de parabólicas que precisaria ser trocada, onerando ainda mais os vencedores do leilão de 5G, reduzindo assim as perspectivas de contrapartidas ao Estado (seja na forma de pagamento pelas frequências ou na forma de compromissos de cobertura e atendimento).
Filtro comemorado
Um dos aspectos que deu segurança para as operadoras de telecomunicações para redobrar os esforços no sentido de convencer a Anatel do modelo de mitigação por filtros foi o resultado dos testes de campo, encerrados na semana passada. Apesar dos critérios bastante rigorosos colocados pela agência, dizem fontes das operadoras, o filtro se mostrou efetivo nos testes reais. Até o momento, apenas um modelo de três testados em campo se mostrou dentro do parâmetros da Anatel, mas isso não é visto com nenhuma preocupação ou incerteza pelas operadoras. Ao contrário, a leitura é de que houve o reforço da tese de que os filtros são viáveis. Mesmo com um mercado de fornecedores de filtros ainda limitado, as operadoras acreditam que no momento em que a política púbica de instalação de filtros estiver estabelecida, haverá muitos outros fornecedores com a mesma tecnologia para produzir os LNBFs.
Uma fonte lembra que a Anatel tem sido extremamente rigorosa nas exigências contra interferências, mas que em situações reais o problema será muito menor do que o pior cenário colocado pela agência como parâmetro. Um exemplo são os testes realizados pela Brisanet, conforme antecipou este noticiário. Naquela oportunidade, a operadora cearense utilizou um filtro que sequer foi levado aos testes de campo conduzidos pelos associados da Conexis, e mesmo assim mostrou-se plenamente capaz de eliminar as interferências no cenário testado pela Brisanet.
Banda C complicada
Um argumento que tem sido colocado pelos radiodifusores para defender o modelo de migração para a banda Ku é o de que, com isso, a banda C poderia, no futuro, ser mais facilmente liberada para futuros leilões de espectro para atender as demandas do 5G. Mas as operadoras de telecomunicações não se mostram sensíveis a este argumento. Para elas, a banda C no Brasil, para além da faixa de banda C estendida onde estão os sinais abertos das emissoras de TV, é muito mais relevante do que é nos EUA, ocupando um papel relevante na comunicação de dados corporativos mesmo nos serviços de distribuição de canais de TV entre afiliadas e para operadoras de TV paga. Ou seja, será muito difícil que no futuro a Anatel consiga liberar mais espectro na banda C para o 5G, considerando 16 satélites que operam na faixa. Esse debate, dizem as teles, ficará evidente agora, que a agência precisará se deparar com os estudos das operadoras de satélite sobre os valores de compensação pelas interferências do 5G e necessidade de liberação de espectro para banda de guarda. Essa é apenas uma fração do total da banda C e ainda assim fala-se em valores na casa de pelo menos R$ 300 milhões para limpeza da faixa.
Evento
O papel dos satélites no 5G e os impactos dos diferentes modelos de mitigação são alguns dos temas discutidos no Congresso Latinoamericano de Satélites, que acontece até o dia 6 e é organizado pela Teletime. Mais informações sobre o evento pelo site www.satelitesbrasil.com.br . Nesta sexta, 2, a Anatel discute sobre o leilão de 5G e o setor de satélite, e na próxima segunda, 5, os debates tratam do mercado de TV e da agenda regulatória para o setor.