| Publicada originalmente no Teletime | O uso da frequência de 6 GHz para aplicações como Wi-Fi foi determinado pelo Conselho Diretor da Anatel em maio, com a aprovação da revisão do Regulamento sobre Equipamentos de Radiocomunicação de Radiação Restrita. Porém, para a associação global da indústria móvel GSMA, há dúvidas sobre a própria demanda para o espectro não licenciado, e há a possibilidade de futuras aplicações em 5G, ainda que isso não esteja sendo discutido na União Internacional de Telecomunicações (apenas uma pequena faixa de 100 MHz entre 7.025-7.125 MHz será estudada em 2023). A entidade afirma que a saída seria dedicar não toda a capacidade, mas apenas parte inferior dela para o Wi-Fi 6.

A proposta tem sido a de dedicar 500 MHz na parte “de baixo” da faixa, uma vez que já haveria harmonização com as implantações dos Estados Unidos e Europa. “E espera um pouco mais com os 700 MHz de cima, porque os outros estão decidindo o que fazer. O único país que tomou a decisão para o Wi-Fi foram os EUA, enquanto a China deixou para o serviço móvel”, destacou a diretora sênior de espectro futuro da GSMA, Luciana Camargos, em entrevista ao Teletime.

A Europa teria se decidido pela destinação de 500 MHz dos 6 GHz para o Wi-Fi 6. Os Estados Unidos, por sua vez, já dedicaram toda a banda de 1,2 GHz da faixa para o uso não licenciado. A diretora da GSMA lembra, contudo, que as condições daquele país são diferentes da realidade brasileira, inclusive na demanda.

“O medo que passamos ao Conselho Diretor foi que, se liberar o Wi-Fi 6 agora no Brasil, e a tecnologia avançar com decisões da WRC e andamento da região 1 [Europa], o Brasil perderá.” Segundo Camargos, o País estaria promovendo a destinação de 1,2 GHz “considerando que há demanda, e eu nem sei se há, é algo que a gente questiona. Se o Brasil liberar tudo, pode haver risco de não conseguir seguir essas regiões”. O País está na região 2 (Américas) na UIT.

O argumento da GSMA é que o gargalo da Internet fixa não seria no espectro não licenciado, mas sim na fibra que chega até o roteador – ou seja, a última milha. “A África tem um problema de backbone muito grande. E como vai entrar com Wi-Fi 6, o que ele vai resolver em gargalo? O Brasil tem muitas áreas parecidas”, diz.

Preocupações

Uma preocupação é com a interferência. Segundo a entidade, a Anatel não teria promovido testes para convivência das aplicações não licenciadas e serviços como backhaul em micro-ondas. “A primeira preocupação é: cadê os testes? A Anatel fez com o 700 MHz, faz agora com a banda C, mas onde estão os testes com o Wi-Fi? Todos os conselheiros falaram que não há previsão para isso”, declarou Luciana Camargos. “As operadoras móveis têm 20 mil links de backhaul nessa faixa toda, e o compartilhamento seria muito complicado”, declara.

Outra preocupação levantada por Camargos é que a ocupação de aplicações não licenciadas pode ser um caminho sem volta, como aconteceu com a faixa de 2,4 GHz. A diretora da GSMA trabalhava na Anatel nessa época, e diz que houve indefinição por um certo tempo, baseada na promessa de que haveria algum tipo de compartilhamento com o uso licenciado. “Ficamos anos discutindo na SEO [superintendência de espectro e órbita] até que um dia disseram que teria que sair todo o mundo”, afirma.

WRC-23

A agenda da conferência mundial de radiofrequências (WRC) de 2019 já não havia definido a faixa de 6 GHz para o serviço móvel (IMT). Ainda assim, a GSMA acredita que o tema poderia ser incluído na próxima edição, em 2023 (WRC-23). “Teoricamente, o uso para o 5G estaria fora dessa conferência, mas a gente tem que avaliar que, quando [outra] região começa a usar, tende a haver uma harmonização internacional”, justifica.

Diretor de políticas públicas da GSMA para a América Latina, Lucas Gallitto complementa: “Não tem nenhuma pressa. O Brasil hoje é o País que está mais na frente da discussão e tem liderança nesse tema. Agora estamos esperando a decisão do conselho diretor, e eles vão ter uma consulta pública.”

 

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