|Publicada no Teletime | Apesar de ter sofrido negativa das operadoras brasileiras, o governo dos Estados Unidos afirma que as controladores das teles já teriam mostrado simpatia à cruzada contra a Huawei. O subsecretário de Estado norte-americano, Keith Krach, afirmou em discurso na FGV na quarta-feira, 11, que América Móvil, Telecom Italia e Telefónica, respectivamente donas da Claro, TIM e Vivo, já teriam sinalizado adesão à iniciativa das redes sem presença de fornecedores chineses, a “Clean Networks”.

É o que Krach alega, pelo menos. Após o Itamaraty ter afirmado aderir ao programa Clean Networks (embora uma decisão final do governo não tenha sido feita até o momento), o discurso retórico do representante do governo Donald Trump no Brasil trouxe questionamentos sem provas – em determinado momento ele afirma que a Huawei estaria “oferecendo [equipamentos] de graça em muitos países”.

Primeiro, Krach afirmou ter conversado com as “três principais empresas de telecom no Brasil”, mas depois citou apenas diálogos com os executivos das controladoras nos respectivos países. Segundo o subsecretário, a suposta adesão das empresas ao programa Clean Networks “já fala sobre si mesmo” para justificar a medida contra a Huawei.

Vivo

A primeira empresa procurada foi a Telefónica, mas não no Brasil. “Eu fui à Espanha e jantei com o CEO, José [María Álvarez-Pallete] López, e ele foi dos primeiros CEOs dessa área que disse que sim, terá ‘rede limpa’ na Telefónica Espanha; na Telefónica Alemanha; na O2 do Reino Unido, que é a maior de todas; e que vão proteger a Telefônica Brasil também”.

Aqui, cabe um adendo: em junho, o secretário de estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou que a Vivo teria se comprometido com o banimento da fornecedores “não confiáveis”, o que a empresa não confirmou (ou negou).

López afirmou em um “pacto digital” que a empresa estaria no “Caminho Limpo”, mas a declaração de que a Telefónica Alemanha e a Vivo no Brasil teriam um “futuro sem equipamentos de fornecedores não confiáveis” consta apenas no site do governo norte-americano.

Claro e TIM

Keith Krach seguiu afirmando que as outras operadoras também já teriam se comprometido. “A Claro também, tive uma ótima conversa na semana passada com Carlos, e ele entende sim o valor da confiança”. Presumivelmente, o subsecretário está falando de Carlos Slim, o bilionário mexicano dono do grupo América Móvil.

Por sua vez, a TIM já teria aceitado fazer parte do programa, ainda de acordo com Krach. “A Telecom Italia também conversou bastante com os executivos e membros do conselho da Itália, e eles também decidiram que o negócio deles vai ser limpo”, afirmou.

Porém, nem a Claro, nem a TIM (ou Telecom Italia) aparecem na lista de operadoras que apoiam esse programa no site do governo dos EUA. Além disso, é importante ressalvar que as citações de executivos das teles podem ser interpretadas como compromissos com a própria cibersegurança, mas não necessariamente contra a China.

Rebate da China

Em pronunciamento na noite da quarta-feira, a Embaixada da China no Brasil se manifestou contra as declarações dos Estados Unidos, afirmando que as declarações de Keith Krach são “acusações mal-intencionadas” e que ele “espalhou mentiras políticas contra a China e empresas chinesas”. Diz ainda que o objetivo seria tentar “implantar distúrbios na parceria sino-brasileira”, além de “coagir outras nações a sacrificar seus próprios interesses, servir ao ‘America First’ e manter seu monopólio tecnológico”.

“A chamada ‘rede limpa’ pregada pelos Estados Unidos é discriminatória, excludente e política. É de fato uma ‘rede suja’, e sinônimo de abuso do pretexto da segurança nacional por parte dos EUA para promover guerra fria tecnológica e bullying digital”, afirma a nota da embaixada. O órgão chinês cita ainda que o próprio governo norte-americano promoveu “em grande escala e de forma organizada e indiscriminada, atividades de vigilância e espionagem cibernéticas contra governos, empresas e indivíduos estrangeiros, além de líderes de organismos internacionais”.

A Embaixada da China diz que propôs iniciativas de  segurança de dados e reiterou que “não há nenhuma legislação na China que exija as empresas a colaborar com a espionagem cibernética”, o que é um dos constantes argumentos do governo norte-americano para justificar os ataques. “Como a maior fornecedora de equipamentos de telecomunicação no mundo e líder em 5G, a Huawei tem mantido um excelente histórico de segurança e está disposta a assinar com qualquer país um acordo de ‘anti-backdoor'”, declarou.

 

 

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