Em sua primeira versão online por causa da pandemia de Covid-19, o WebSummit será realizado entre 2 e 4 de dezembro com mais de 100 mil participantes e cerca de 800 palestrantes, de acordo com a organização daquela que é considerada a maior conferência de tecnologia do mundo. A Startup Portugal, entidade público-privada criada em 2016 para implementar a estratégia de apoio ao desenvolvimento do empreendedorismo em Portugal, mais uma vez participará do evento. Para falar sobre esta participação e novidades de projetos para 2021, entrevistamos o diretor executivo, João Mendes Borga.

Startup Portugal; WebSummit

João Borga, diretor da Startup Portugal: “Notamos que os empreendedores brasileiros entendem cada vez mais que Portugal pode ser uma das formas mais seguras para expandirem os seus negócios para a Europa”

Mobile Time – Como será a participação do Startup Portugal no WebSummit? Além do fato de ser excepcionalmente um evento online, quais são as novidades preparadas para o público?

João Mendes Borga – O fato de ser um evento excepcionalmente online muda muito do trabalho que realizamos no evento. A nossa missão continua a ser representar Portugal enquanto ecossistema, demonstrar o talento disponível entre os empreendedores e startups que operam a partir do país, e preparar quem vai dos nossos programas para tirar o melhor partido possível do evento.

Paralelamente, usamos esta plataforma para promover o país junto dos visitantes, e sendo a conferência totalmente online torna-se muito mais difícil mostrar o porquê de Portugal ser um dos hubs tecnológicos mais promissores da Europa — que não tem só talento e infraestrutura, mas que tem uma qualidade de vida que contada quase parece mentira. Da segurança das nossas cidades, à qualidade da comida e ao custo de vida comparativamente a outros países, este é um ecossistema muito singular. Tivemos de procurar, por isso, alternativas para tudo isto, que passaram por uma maior envolvimento na programação da conferência, algo que nunca tinha acontecido, a uma maior proximidade com a equipa da Web Summit para conseguirmos alternativas de comunicação que passem a mensagem e, claro, por um processo de seleção ainda mais exigente para as startups que vão participar na Web Summit através do nosso programa Road 2 Web Summit.

Qual foi o impacto no número de atendimentos, volume e natureza de negócios predominante em 2020 do público junto à Startup Portugal?

Devido à pandemia, a Startup Portugal acabou por ser muito procurada, mas também por procurar os empreendedores. Percebemos desde início que o nosso papel não se poderia ficar só pela reação, mas também pela ação — e muito desse trabalho passou por fazer lobbying junto do governo para que olhasse para a importância do ecossistema empreendedor nacional e pudesse tê-lo em conta na altura de criar programas de apoio, algo que felizmente conseguimos e que continuamos a fomentar.

Em relação aos empreendedores brasileiros: poderia informar como tem sido a evolução e as características de negócios em Portugal deste público nos últimos anos? Quais foram os impactos da pandemia sobre a procura por novos empreendimentos de brasileiros?

Os empreendedores brasileiros são uma parte cada vez maior do tecido empreendedor nacional, e isso é ótimo. O Brasil é um País enorme, que tem de tudo — inclusivamente alguns dos ecossistemas de startups mais desenvolvidos do mundo. Notamos que os empreendedores brasileiros entendem cada vez mais que Portugal pode ser uma das formas mais seguras para expandirem os seus negócios para a Europa e isso nota-se na sua procura por programas como o Startup Visa ou o Tech Visa.

Não menos importante, esta procura tem um impacto importantíssimo no tecido empreendedor do país, pelas razões que mencionei antes: o Brasil tem empreendedores de todos os tipos, e não só as suas contribuições se sentem nas economias local e nacional, como a experiência que muitos deles trazem são cada vez mais notórias na maturidade do ecossistema português.

Notamos que há, da parte do empreendedor brasileiro, uma propensão muito grande para negócios altamente digitalizados, seja para soluções de e-commerce, de realidade aumentada, ou serviços diretos ao consumidor que, felizmente, tiveram uma taxa de sobrevivência muito grande durante a pandemia porque, naturalmente, estavam do lado certo da crise para ajudar a superá-la.

Por ser um evento online, haverá algum tipo de atendimento e consultoria individualizados do público junto à Startup Portugal? Caso sim, de que forma, por favor?

Na Startup Portugal estamos a desenvolver uma plataforma de atendimento que nos permita fazer essa consultoria e atendimento individualizados o máximo possível. O foco da nossa campanha na WebSummit será o de falar com o máximo de interessados possível, classificá-los por interesse e marcar reuniões com membros da nossa equipa o quanto antes. Os que não conseguirem marcar uma reunião durante o evento, poderão encontrar-se conosco mais tarde, numa série de webinars temáticos que vamos realizar, precisamente para podermos fazer alguma dessa consultoria e não deixarmos nenhum dos interessados sem resposta.

Haverá o lançamento de novos programas de incentivo a empreendedorismo em Portugal no evento para 2021? Caso sim, quais seriam e para quais públicos são destinados?

A grande novidade que a Startup Portugal tem vindo a preparar desde março, a nível de iniciativas, é o programa de residências/identidade digital, criado em parceria com a Agência de Modernização Administrativa e com o governo português em geral. O E-Residency 2.0 servirá para nómadas digitais, mas também para empreendedores que tenham o mercado europeu em vista, permitindo que se tenha acesso a tudo o que um residente português tem, sem com isso precisar de vir ao país: criar uma empresa, abrir uma conta bancária, acessar os serviços da Autoridade Tributária, entre outras coisas. Tudo digitalmente e online. Isto será importante para todas as audiências, sem qualquer dúvida. Especificamente para o WebSummit, vamos reativar, ou esperamos poder fazê-lo, o programa Road 2 Web Summit de forma presencial. A edição deste ano foi um sucesso, com uma curva de aprendizagem muito alta, mas estes eventos mais orientados para comunidade são sempre muito melhores quando podemos conhecer os empreendedores, criar laços com eles e, desta forma, acompanhar o seu processo de escalar de forma mais próxima.

O WebSummit é um evento que tem privilegiado a promoção da equidade entre homens e mulheres na tecnologia. A Startup Portugal pretende desenvolver alguma campanha ou ação voltado a este público? Caso sim, qual?

A Startup Portugal não tem nada especificamente criado para apenas a paridade entre gêneros, mas é uma das nossas missões e uma das posições mais claras que temos, por um sem número de razões. Mas reconhecemos que o ecossistema português é ainda pouco diverso, e é uma das razões porque procuramos trazer talento não nacional, e ao mesmo tempo aumentar o perfil das mulheres empreendedoras que comecem em Portugal empresas de sucesso e sirvam de exemplo para outras mulheres, de forma a tornar o tecido empresarial mais rico e, também, mais inclusivo. É algo que fazemos muito do lado da comunicação, com iniciativas como o nosso Podcast Start Now Cry Later, apresentado pela jornalista Mariana Barbosa, ou com as nossas políticas de recrutamento — felizmente, a equipa da Startup Portugal é maioritariamente feminina, e haver essa forte presença no ecossistema também transmite uma mensagem de urgência no tópico.

A Startup Portugal pretende realizar missões de prospecção de oportunidades de negócios em quais países em 2021, como e por quê? O Brasil será contemplado? Caso sim, de que maneira e quando?

O Brasil é um dos países com quem vamos colaborar mais em 2021, sem dúvida. Estamos neste momento a desenvolver projectos com empreendedores de Salvador no sentido de ajudarmos a fomentar o ecossistema local e, mais tarde, podermos ter a expansão para Portugal como o estágio seguinte e natural para as startups que surgirem fruto desse esforço concertado. Vamos investir muito em relações com o continente africano, também, por via da nossa proximidade com a iniciativa Cabo Verde Digital, e vamos fomentar a relação entre o nosso ecossistema de startups e os do Chile, da Dinamarca e da Índia.

Para além do WebSummit: em função da pandemia, quais são os canais de atendimento da Startup Portugal a pessoas interessadas em empreender em Portugal hoje? 

O principal canal, que fizemos questão de criar no início do ano e, por acaso, independentemente da pandemia, é o nosso Balcão do Empreendedor. É uma plataforma que de momento funciona de forma totalmente digital, mas que tem uma equipa específica para responder a questões de empreendedores e startups em qualquer estágio de desenvolvimento que se encontrem: da criação de empresa à procura de investimento, da internacionalização à relocalização para Portugal.

Quais foram os maiores desafios e impactos encontrados pela Startup Portugal na migração do trabalho da equipa para o 100% digital?

A nossa equipa, felizmente, já trabalhava parcialmente de forma remota antes da pandemia. Temos parte dos nossos colaboradores em Lisboa, e outra parte no Porto. Portugal é pequeno, mas 300km são uma distância grande para nós, o que fez com que tivéssemos de adotar muitas ferramentas de gestão de equipa digitais faz algum tempo. O desafio tornou-se, por isso, poder partilhar esse conhecimento com o ecossistema e poder apoiar outras empresas a fazê-lo de forma rápida e eficaz. A pensar nisso, criamos em março a iniciativa Stay Home, Keep Growing, que conservou o esforço de mais 30 parceiros e 22 páginas de Facebook para transmitir conteúdos relevantes de forma gratuita, criados por outras startups e comunidades, de forma a dar-lhes as ferramentas certas para o conseguir. Chegamos a uma audiência de mais de 300 mil pessoas, e transmitimos esses webinars para mais de 10 mil indivíduos.

 

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