A mãe de Paula Gomes possui 50 anos de estudo e trabalho na teoria do caos. Física, recentemente, ela passou a analisar os caóticos exames de eletroencefalogramas e descobriu uma maneira de detectar crises em pessoas com epilepsia. A partir daí, a filha – que tinha acabado de sair da empresa para a qual trabalhava – pegou a ideia da mãe e desenvolveu dois produtos interligados. O primeiro dele foi o Aurora, um aparelho que cabe na palma da mão e deve ser colocado na cabeça. A proposta é que ele seja capaz de detectar com 30 minutos de antecedência uma crise epiléptica no usuário. A outra ferramenta desenvolvida foi um aplicativo para servir como um diário para quem tem a doença. E assim nasceu a Epistemic, startup ainda em fase inicial de desenvolvimento do protótipo, mas que participou, no ano passado, do Samsung Creative Startups, programa que seleciona empresas para serem aceleradas. No caso da Epistemic, a empresa recebeu, entre outros benefícios, aporte de R$ 200 mil, mentoria e uma viagem para Coreia do Sul, visitar a sede da Samsung aceleradora. Durante esse período, desenvolveram uma segunda versão para o aplicativo (Android).
“Minha mãe achou um jeito de detectar as crises e se pudesse prever seria ótimo para o paciente e o cuidador também. Lançamos a empresa para continuar sua pesquisa e descobrir uma maneira de prever as crises epilépticas porque, às vezes, a pessoa tem uma crise, mas não repara”, explicou Gomes, cofundadora da Epistemic.
Em testes com sinais pré-colhidos – usando eletroencefalogramas de pacientes do Hospital das Clínicas da Unicamp –, Aurora foi capaz de identificar crises epilépticas em 73% dos casos. Mas para que o produto seja comercializado, ainda são necessários outros testes. O próximo passo, seria fazer testes a partir de coletas de sinais de eletros comparando com aqueles feitos nas máquinas de hospitais. “Aurora tem apenas dois canais e o equipamento hospitalar, mais de 20”, explicou Gomes. Em seguida, a Aurora passará por testes com pacientes internados. E, em uma terceira fase, os testes acontecerão na casa dos pacientes. “Mas essa é uma fase maior, mais cara. Teremos que produzir vários aparelhos e fazer consultas regulares com os pacientes”, explicou.
Aplicativo
Depois de desenvolver uma segunda versão para o app, a ferramenta, além de servir como diário para o usuário, também estará conectado com o Aurora, sendo capaz de enviar a localização do paciente para o cuidador, por exemplo, assim como seus jornais diários para o médico, que pode ler a partir do site da Epistemic e que inclui gráficos e histórico do usuário do aparelho.
O Epistemic App está disponível na Google Play em versão freemium. Para aquilo que pode ser inserido pelo usuário manualmente, ou seja, as respostas das perguntas do diário, seu uso é gratuito. Mas para usar o pareamento com smartwatches, identificando qualidade do sono, atividade física, por exemplo, a assinatura mensal custa R$ 34,99. E, caso o usuário não pague a mensalidade, deverá pagar R$ 34,99 por envio de seus dados ao médico.
Ainda sem previsão de lançamento, a estimativa é que, uma vez com tudo dando certo, Aurora custe em torno de R$ 4 mil. “Mas, como tudo em tecnologia, com escala, conseguimos diminuir o preço”, estima Gomes.