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O eventual desligamento das redes de 2G e 3G pode colaborar para ampliar a capacidade das redes 4G e 5G DSS, propiciar redes compartilhadas ou mesmo uma rede única entre as operadoras brasileiras, como explicam os fornecedores de redes e chipsets para smartphones e celulares.

Com base no relatório da GSMA que aponta as conexões 2G caindo de 10% para 1% até 2025, limitadas basicamente a soluções de comunicação entre máquinas, e o 3G, que hoje corresponde a 15%, desaparecendo do País no mesmo intervalo, os executivos de Huawei, Nokia, Qualcomm e MediaTek conversaram com Mobile Time sobre:

  • o destino das frequências;
  • os benefícios para operadoras e público em geral;
  • quais setores que podem ganhar mais acesso à conectividade.

Alternativas

Para Wilson Cardoso, CSO da Nokia no Brasil, a migração das frequências para 4G e 5G será tranquila, do ponto de vista técnico. Deu como exemplo o fato de que a maioria das ERBs que a companhia têm instaladas no Brasil (12 mil) são SingleRAN, ou seja, a ativação para redes celulares acima do 3G seria por software. Contudo, o executivo não vê vantagem neste uso. Explicou que ao migrar as bandas do 3G para o 4G há uma perda de espectro. E migrar para o 5G não é o ideal pelo tamanho da portadora (aquela que permite a transmissão das ondas de conexão) nas regras atuais do 3GPP. Dito isso, Cardoso vê outra solução para as frequências.

“No futuro, talvez, o ideal é combinar o espectro em uma solução técnica. Talvez uma rede única compartilhada entre as operadoras. Ou uma rede de transbordo e transporte”, diz o executivo da Nokia. “É importante lembrar, assim como 900 MHz, o espectro também é fragmentado no 850 MHz. Mas são frequência baixas, ricas e importantes. É um ponto para a Anatel estudar”, completa.

Carlos Roseiro, diretor de soluções integradas da Huawei no Brasil, lembra que as operadoras compram a frequência pela frequência, não é algo necessariamente destinado ao 2G, 3G, 4G ou 5G. Explica ainda que as operadoras não precisam esperar aval para fazer refarming do 2G e 3G, como a Telefônica realiza atualmente na Espanha.

“Pode fazer o refarming para o 4G. No 5G não creio que será usado, em especial pelas frequências mais altas que entram no leilão novo. Talvez via DSS, mas para aumentar a capacidade do 4G. O DSS é um compartilhamento de espectro, ele pode trabalhar do 2G ao 5G com tecnologia SingleRAN”, afirma Roseiro.

Benefícios

Os profissionais citam os lados positivos de desligar o 2G e o 3G. Para as operadoras, Roseiro e Cardoso apontam a redução de gastos (principalmente com energia) e a abertura de espaço mais espaços nas antenas. “A vantagem seria renovar a geração tecnológica de equipamentos. Hoje, combinamos 1,8+21.1+2.6 GHz em uma caixa. Antes eram três caixas. Eu posso buscar o ganho operacional naquele espaço a mais. E tem a redução de energia, pois os equipamentos 2G e 3G consomem mais”, diz Cardoso.

“Se desligar uma rede (2G e 3G), eu consigo liberar espaço para uma antena 5G. Depende do estado de modernização e da configuração de antena. Mas ao mesmo tempo é uma questão de custo. O equipamento 5G é bem menor. No 2G e 3G os equipamentos eram colocados com guindaste. Hoje são 25 kg de equipamento, duas pessoas conseguem fazer”, completa Roseiro.

Para Samir Vani, country manager da Mediatek no Brasil, custa muito manter um usuário em 2G e 3G. Esta será uma batalha que as operadoras entrarão para baixar os custos. Com isso, o profissional acredita em uma migração rápida, pois não há mais como segurar esse gasto. Vani afirma que hoje, o usuário 2G e 3G leva pouco valor para a operadora, pois consome pouco dado.

Por sua vez, Helio Oyama, diretor de desenvolvimento de negócio da Qualcomm, lembra das melhorias para o consumidor com a evolução para o 4G e 5G, como redes com baixa latência e melhor velocidade. “Essa migração para mim é quase obrigatória e natural que ocorra. 4G e 5G são mais eficientes em interface aérea. Transmitem mais bits por Hertz. A rede consegue trafegar muito mais velocidade de bits por segundo. Outra questão é capacidade, dar acesso para mais usuários com experiência de uso boa. Essa é a importância da introdução do 5G o quanto antes”, explica o diretor.

Novos setores

Outro tema debatido na conversa com os executivos foi sobre qual setor da indústria ou tecnologia será beneficiado com a mudança. Se criada uma rede única de baixa frequência, como previu em sua fala anterior, Cardoso vê os segmentos de logística e veículos como os grandes beneficiados da migração.

“Logística seria um grande setor beneficiado. Se tivesse uma rede nacional, haveria logística com inteligência artificial e machine learning. Um grande passo para o futuro de carros autônomos, comboios, que será avançado com o 5G. Se começarmos a criar essa estrutura única para veículos autônomos, começamos a criar um arcabouço para o futuro. Smart cities também é um caminho”, prevê o CSO da Nokia.

Roseiro, da Huawei, recorda que cada vez mais aparecem serviços que demandam mais throughput de rede e precisam de mais capacidade 4G e 5G, como serviços de vídeo (streaming e videochamada). Explica ainda que essas tecnologias precisam de um “esforço contínuo de melhoria”: “O 5G traz a pimenta adicional aos serviços. É uma tendência boa para o cliente e para as operadoras aumentarem suas receitas”, completa.

Oyama, da Qualcomm, também cita as realidades aumentada e virtual como beneficiadas. Vani, da MediaTek, prevê que, com uma eventual mudança dos equipamentos M2M do 2G para NB-IoT, o segmento de cidades inteligentes deve ser o principal beneficiado.

 

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