A Apple começa a traçar seu caminho no 6G com a contratação de profissionais especializados. Conforme observado pela Bloomberg e confirmado por esta publicação nesta quinta-feira, 18, a companhia possui pelo menos duas vagas para engenheiros de redes móveis com conhecimento em 5G e 6G.
As posições de “Wireless Research Engineer – 5G/6G” foram publicadas na última terça-feira (16), sendo uma posição para a sede em Cupertino e outra para a filial da empresa em San Diego. Em ambas as vagas, a Apple dá claras indicações que pretende ter um papel mais ativo na criação da sexta geração de rede móvel, uma tecnologia que não tem data específica para ser lançada, mas a expectativa é para ser ativada na próxima década.
Na descrição de trabalho para os candidatos, a Apple diz que tem “a missão de pesquisar e desenvolver tecnologias sem fio para a próxima geração de redes acessadas por rádio em todas as suas camadas diferentes (PHY, MAC, CP e DP)”.
Afirma ainda que os engenheiros contratados estarão no “centro de um grupo de pesquisa de ponta para criar a próxima geração de comunicação por rádio” ao definir “conceitos de sistemas, propor ideias e pesquisa de algoritmos, simular sistemas complexos, além de definir rápidas plataformas de prototipagem e especificar protocolos de RAN para a próxima geração de sistemas celulares (6G)”.
Análise
Inicialmente, um usuário leigo pode ver essa iniciativa como uma disputa com os grandes players de rede, como Huawei, ZTE, Ericsson e Nokia. Em especial pela nebulosidade neste segmento, com as restrições do governo dos EUA que não devem recuar na administração de Joe Biden, exceto se houver contrapartidas dos chineses.
Na prática, a Apple está apenas sondando e buscando soluções, afinal são apenas duas vagas. É algo que a companhia dirigida pelo CEO Tim Cook fez no passado, ao contratar engenheiros do setor automobilístico, TVs, medicina, meios de pagamentos e mais recentemente em arquitetura de chipsets para iniciativas que podiam ou não dar certo.
Por outro lado, a empresa há algum tempo busca aumentar suas margens e diminuir a dependência de fornecedores, em especial de semicondutores e insumos de radiofrequência, como a Qualcomm.
Além disso, vale lembrar que este cenário de independência da Apple se alinha pelas seguintes razões:
- A Qualcomm é o principal fornecedor de equipamentos para dispositivos móveis 5G do mundo. Possui 39% de market share no terceiro trimestre de 2020, segundo a Strategy Analytics;
- A Apple travou batalhas legais longas com Qualcomm por disputa de patente em redes celulares;
- Apple comprou da Intel a divisão de modem para handset e suas patentes em 2019. Ou seja, há uma base de dados enorme para desenvolver modems em dispositivos como Macs, iPads, iPhone e Apple Watch;
- Como resultado, a Apple começou a desenvolver o primeiro modem da companhia para dispositivos móveis no final de 2020, segundo a Bloomberg.
- E a pandemia do novo coronavírus mostrou a necessidade de a companhia depender menos de fornecedores na fabricação de dispositivos, de modo que controle melhor a sua cadeia de suprimentos para evitar falta de estoque ou eventuais atrasos em lançamentos. Durante a conferência com analistas sobre os resultados do quarto trimestre de 2020, o CFO da Apple, Luca Maestri, confirmou que há problemas na demanda para entrega dos novos iPhones com 5G.