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Quanto a pandemia impactou o mercado de telefonia brasileiro móvel ao longo de 2020? Quais serviços digitais registraram maior crescimento, segundo as teles? O que mudou no comportamento do assinante móvel, em uso de dados, de voz e de apps? Essas são algumas das perguntas levantadas junto a fontes do setor e das quatro maiores operadoras móveis, nesta segunda matéria da série especial do Mobile Time sobre um ano de pandemia no Brasil.

Antes de analisar os impactos em cada operadora, vale uma análise mais macro, da relação da sociedade como um todo com a conectividade móvel, pois isso pode explicar alguns dos resultados encontrados.

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Marcos Ferrari, presidente da Conexis: “Todo mundo percebeu o quanto a conectividade digital é relevante para o futuro da sociedade”

“Houve uma mudança em termos da percepção do digital pela sociedade. Todo mundo percebeu o quanto a conectividade digital é relevante para o futuro da sociedade”, comenta Marcos Ferrari, presidente da Conexis Brasil Digital (antigo SindiTelebrasil), entidade que representa as operadoras de telecomunicações.

O diretor de marketing da Vivo, Alfredo Souza, concorda: “A principal mudança diz respeito ao novo patamar de importância que a conexão ganhou para a sociedade em geral. Nossos serviços se mostraram essenciais, conectando médicos e pacientes, pais e filhos, professores e alunos, artistas e espectadores, empresas e consumidores.” 

O consultor Fernando Moulin, da Sponsorb, resume da seguinte forma: “Durante a pandemia, a sociedade acelerou 10 anos em um no seu processo de digitalização.”

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Alfredo Souza, diretor de marketing da Vivo: “Nossos serviços se mostraram essenciais”

Em termos financeiros, as operadoras sentiram um baque nos primeiros meses de medidas restritivas à circulação de pessoas e crise econômica, o que refletiu em uma queda na quantidade e no valor médio das recargas de pré-pagos. Mas a partir do terceiro trimestre os balanços das operadoras deram sinais de recuperação, e algumas registraram crescimento de receita e de lucro no quarto trimestre de 2020 quando comparado com o mesmo período de 2019. A resiliência do setor de telecomunicações no enfrentamento da crise é destacada pelo vice-presidente de estratégia e transformação da TIM, Renato Ciuchini: “o setor de telecom foi muito resiliente. É uma boa noticia para um setor que costuma ser massacrado por investidores e analistas.”

Junto com a resiliência, o setor demonstrou união e realizou uma série de ações conjuntas, como o desenvolvimento de um painel com mapa de calor da população e sua disponibilização gratuita para governos; o envio de quase 1 bilhão de mensagens de texto (SMS) com alertas relacionados à saúde por parte de órgãos públicos; e a não cobrança de dados (zero rating) no uso do app do Auxílio Emergencial e no acesso ao site da Justiça Eleitoral durante as eleições.

Rede móvel

Durante o ano passado, houve um aumento entre 20% e 40% no tráfego de dados móveis, relatam as operadoras. Esse resultado ficou dentro do ritmo que vinha acontecendo nos anos anteriores.

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Renato Ciuchini, vp de transformação da TIM: “O setor de telecom foi muito resiliente”.

“Esse aumento não é fora da curva em comparação ao que a gente observava nos últimos anos. E aconteceu mais recentemente, no fim do ano passado, quando as pessoas começaram a sair mais de casa. No período mais severo de 2020, com isolamento social mais intenso, observamos até uma queda no tráfego da móvel, nos primeiros meses da pandemia”, relata Roberto Guenzburger, diretor de marketing do varejo e empresarial da Oi.

Sobre a redistribuição geográfica do tráfego, o CTO da Claro, André Sarcinelli, explica: “nas regiões empresariais e regiões com universidades, onde havia maior volume de uso entre 8h e 20h, o tráfego sumiu. Enquanto isso, regiões periféricas, que durante o dia quase não tinham tráfego, registraram aumento. E até áreas mais sazonais, como cidades do interior ou do litoral, que antes tinham tráfego alto apenas no fim de semana e nas férias, também verificaram um aumento.” Essa migração, contudo, não demandou mais investimento em infraestrutura, porque as redes móveis já estavam preparadas para os picos sazonais registrados nesses locais.

A Vivo, por sua vez, notou também um aumento no compartilhamento da franquia de dados móveis, recurso que a operadora oferece para os seus assinantes. A quantidade de envios de Internet através dessa ferramenta aumentou 27,6% em 2020 e o total de GBs transferidos entre usuários cresceu 70,4%, na comparação com 2019. “Acreditamos que esse crescimento deve-se à evolução natural no uso do recurso, às ações de divulgação que realizamos e também à maior relevância que a conexão passou a ter para as pessoas na pandemia, justamente por ser o elemento-chave que garante o funcionamento da sociedade como um todo”, diz Souza, da Vivo.

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Roberto Guenzburger, diretor de mareketing da Oi: “O cliente está usando o celular em casa consumindo mais a banda do Wi-Fi.”

Se a rede móvel não sofreu um impacto pesado decorrente do isolamento social da população durante a pandemia, o mesmo não pode ser dito sobre as redes de banda larga fixa. Houve um forte aumento no tráfego dentro de redes residenciais com Wi-Fi, informam as fontes de operadoras convergentes entrevistadas para esta matéria.

A Oi, por exemplo, verificou um aumento médio de 50% no tráfego de dados por residência ao longo de 2020. “O cliente está usando o celular em casa consumindo mais a banda do Wi-Fi, da sua banda larga residencial, especialmente com fibra óptica”, diz Guenzburger, da Oi. A operadora também verificou um aumento da quantidade de dispositivos conectados por casa. E um reflexo disso é que os produtos de maior sucesso no marketplace da Oi no ano passado foram dispositivos para redes Wi-Fi Mesh.

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André Sarcinelli, CTO da Claro: “Todo o ecossistema se mobilizou”

Na Claro, no começo da pandemia, em duas semanas o tráfego residencial cresceu 45%. O volume de dados atingido em março era o esperado para acontecer somente em setembro do ano passado, relata Sarcinelli. O CTO da Claro agradece o apoio que teve de fornecedores, muitos dos quais trouxeram equipamentos às pressas de avião, porque de navio levaria muito tempo, e também a compreensão dos principais players de streaming OTT, que adaptaram a resolução dos vídeos para não sobrecarregar as redes. “Todo o ecossistema se mobilizou”, relembra.

Apps e serviços digitais

Serviços digitais de video streaming, educação, gaming, delivery, redes sociais e bancos foram os que mais cresceram em 2020 em razão do isolamento social, relatam as fontes.

Na TIM, a campeã foi a categoria de apps de delivery, com crescimento de 160% na comparação entre janeiro de 2021 e janeiro de 2020. Depois vieram os apps de redes sociais (+80%) e de bancos (+50%). Entre os serviços oferecidos pela operadora, o destaque ficou com a parceria com o C6, lançada logo no começo da pandemia, e que gerou a abertura de 1,1 milhão de contas em seis meses.

Na Claro, Sarcinelli confirma que houve crescimento enorme de plataformas de m-commerce, especialmente delivery de comida, mas também marketplaces em geral. Apps de streaming de video, por sua vez, aceleraram seu crescimento. E, por outro lado, aplicativos de mobilidade urbana, como Waze, Uber, 99 etc, despencaram nas primeiras semanas, mas foram depois voltando aos poucos ao longo do ano.

Na Vivo, os serviços digitais tiveram um aumento de receita de 31% em 2020, impulsionado principalmente pelas categorias de vídeo e de educação. A vertical de vídeo, na qual estão incluídas parcerias com Disney+, Amazon Prime, Globo Play, Telecine, dentre outros, teve um salto de 270% em faturamento. E a vertical de educação, com serviços como Busuu e Casa do Saber, cresceu 150%.

Na Oi, houve aumento expressivo do consumo de vídeo e de games. Serve de exemplo o serviço de streaming da própria operadora, o Oi Play, que saltou de 200 mil reproduções de vídeo por mês logo antes da pandemia para 1 milhão em fevereiro deste ano. Guenzburger cita também os serviços de clube de livros da Skeelo e o Oi Jornais, que dá acesso a jornais diários, como outros destaques positivos de 2020.

Voz

Talvez o mais surpreendente tenha sido o crescimento nas chamadas de voz pelas redes móveis. Esse serviço vinha caindo há vários anos seguidos e teve uma reviravolta em 2020. A Claro, por exemplo, registrou um aumento de 16% no tráfego de voz no ano passado. Foi o primeiro crescimento em sete anos. “Voz era um serviço que vinha caindo ano após ano. Acho que muita gente foi para áreas onde não tinha o serviço de telefonia fixa”, avalia Sarcinelli. Até junho, o aumento da voz estava sendo de 25%. Mas o movimento foi perdendo força no segundo semestre. Em dezembro, por exemplo, o incremento no tráfego de voz foi de 8% em comparação com o mesmo mês de 2019.

2021

Para este ano, há grande expectativa para o leilão de 5G, mas as redes só devem ser lançadas comercialmente em 2022. 

Em termos de novos negócios, há muita movimentação na busca por parcerias especialmente em serviços financeiros, na esteira do que fez a TIM com o C6. Esta, por sua vez, agora negocia acordos similares com serviços na área de saúde e de educação: a proposta é usar seus ativos para escalar a operação do parceiro em troca de participação acionária nele.

Nas relações com governos e órgãos legislativos, o setor de telecom espera que avancem a modernização das leis municipais para instalação de antenas e também o uso do Fust para a promoção de conectividade em áreas carentes de acesso. Outra prioridade, segundo Ferrari, da Conexis, é uma reforma tributária que reduza o peso dos impostos sobre os serviços de telecomunicações: “Não existe melhor forma de inclusão digital do que a reforma tributária.” Ele reconhece, contudo, que não será fácil. “Já fizemos reuniões com vários senadores e deputados. Há sensibilidade quanto ao tema. Só que é difícil por causa de dois conflitos: o setorial, para decidir quem paga mais ou menos, e o federativo”

De todo modo, qualquer expectativa para 2021, seja de ordem operacional, de negócios ou legal, precisará levar em conta o recrudescimento da pandemia, que atinge neste fim de março os piores índices desde o seu começo. Além da retomada de medidas restritivas à circulação de pessoas, a crise econômica, que combina alto índice de desemprego e pressão inflacionária, são variáveis que testarão, mais uma vez, a resiliência do setor de telecomunicações. A diferença é que agora, sociedade, empresas e governos estão um pouco mais preparados para encarar o desafio.

Tela Viva Móvel

O futuro das operadoras móveis será discutido em painel do 20º Tela Viva Móvel, que acontecerá em formato online no dia 11 de maio, com participações confirmadas de: Flávia Pollo Nassif, CEO da DialMyApp Brasil; Marcio Carvalho, CMO da Claro; Renato Ciuchini, vice-presidente de estratégia e transformação da TIM; Roberto Guenzburger, diretor de marketing da Oi; r Rodrigo Gruner, diretor de inovação e serviços digitais da Vivo. Para mais informações, acesse www.telavivamovel.com.br ou contacte a equipe de eventos do Mobile Time: [email protected] ou ligue para 11-3138-4619.

 

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