O Sindicato do Metalúrgicos de Taubaté (Sindmetau) confirmou na noite desta terça-feira, 6, o fim das operações fabris da LG em sua cidade e eventual demissão de seus mais de 1 mil funcionários. O presidente da instituição sindical, Claudio Batista, confirmou ao Mobile Time o aguardado fim da unidade de smartphones, mas também de monitores e PCs na fábrica.
De acordo com Batista, monitores e PCs serão levados para a unidade de Manaus. A decisão foi apresentada pela LG na tarde desta terça-feira, após reunião com o sindicato. Na ocasião, a LG informou ao sindicato que Manaus dá melhores condições tarifárias à empresa, com isenções que não possui no estado de São Paulo.
Agora, Sindmetau e LG vão definir planos de saída para os funcionários. Isso envolve: plano médico, participação nos lucros e resultados (PLR), indenização social, qualificação profissional, assistência sindical por 24 meses, quitação, absenteísmo, condições para instáveis e gestantes. Após o acerto por ambas as partes, a decisão será levada para a assembleia dos trabalhadores.
“Todas as questões estarão em negociação a partir de agora. Estudaremos quais as alternativas possíveis para serem aplicadas neste caso”, disse Batista, que afirmou que até sexta-feira, 9, o Sindimetau dará um retorno.
Embora a LG afirme que manterá os 300 funcionários do call center, a notícia cai como uma bomba para os mais de 1 mil trabalhadores da fábrica, sendo 600 em monitores e notebooks e 400 em smartphones. Além disso, a região de Taubaté, cidade a 400 km da capital, já tinha sido afetada com a saída da Ford do Brasil.
Durante todo o processo de desligamento da divisão de smartphones, a LG foi procurada por Mobile Time, mas não respondeu as questões sobre a fábrica.
Impactos
Pouco antes da confirmação do fim das operações em Taubaté, este noticiário conversava com especialistas para entender o impacto da saída da LG da indústria nacional de smartphones. Fernando Moulin, business partner na Sponsorb e professor na ESPM, indicou que este é um reflexo da defasagem na indústria nacional.
“O 5G e o 6G estão cada vez mais iminentes. A gente precisa de rápido apoio por parte do poder público e arcabouço institucional para desenvolver a tecnologia no Brasil”, disse Moulin. Por outro lado, o próprio executivo reconhece que houve falhas da LG em se reposicionar no mercado, após o CDMA. Algo que Motorola e Samsung fizeram e conseguiram sobreviver, em especial por entender as demandas do consumidor: “Nesse caso, a LG ficou sem posição. A Motorola se reinventou. A Apple cresceu no premium. Em Android, corremos o risco de ter dois players, Samsung e Motorola, com os chineses na esteira. As operadoras não vão querer diversificar muito o portfólio”.
“É uma triste notícia para o mundo, e mais para o Brasil, que era o principal mercado da LG. É algo que aconteceu com Siemens 15 anos atrás, e com Nokia e Microsoft há cinco anos. No mercado de celulares você precisa trabalhar com volume e no segmento premium”, completou.
Alerta na Indústria
“O que acontece são impasses de PPB (Processo Produtivo Básico, que faz parte da Lei de Informática e concede benefícios fiscais às empresas que investem em atividades de pesquisa e desenvolvimento). Não sabemos os impactos de impostos. Manaus tem incentivos fiscais mais favoráveis. A decisão entre Manaus e Taubaté é também para combater o rombo fiscal da companhia”, disse Renato Murari de Meireles, analista de mercado em mobile phones & devices da IDC Brasil. “A guerra de preços, a isenção fiscal, impostos atribuídos aos produtos, é algo que alertamos à indústria”, completou.
Vale lembrar, a Abinee chegou a engajar-se em disputas com o governo de São Paulo e o governo federal no começo do ano, para evitar que isenções fiscais fossem tiradas das indústrias. Na época, a associação alertou que isso causaria demissões e fugas de empresas dos estados para a Zona Franca de Manaus.
Câmbio e estratégia
Moulin, da Sponsorb e ESPM, lembra ainda outro peso para a decisão da LG: o dólar. “A questão do dólar é uma questão para se colocar em mente. A maxidesvalorização do dólar ante o real no governo Bolsonaro impacta uma empresa, ou seja, já começa com 40% de prejuízo”, disse o especialista do setor mobile. “Por mais que venda, o dólar a R$ 6 não sustenta. Causa um prejuízo global em produtos e serviços”, concluiu.
Assim como Moulin, Meireles acredita que o dólar foi, sim, um fator preponderante para a LG sair do mercado. Aponta ainda outros problemas como negociações com fornecedores para lançar dispositivos e suprir a demanda, além da crise de logística durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV 2).
“Principalmente no segundo semestre de 2020, tivemos a retomada do mercado, a curva em V acelerou a demanda que o mercado não esperava. Quem sofreu muito foi a própria a LG, que cresceu mas sentiu com a crise de supply chain. Essas questões entraram na ponta do lápis”, disse o analista da IDC.
“Não só a LG sofreu com abastecimento. A Motorola também. Isso acontece pois tivemos Vivo, Oppo, realme e Xiaomi ganhando participação de mercado. As OEMs começam a olhar mais para eles (chineses novos entrantes). LG e Motorola ficam por último no abastecimento. Samsung e Motorola têm um portfólio mais denso e conseguem segurar o repasse, que não foi tão agressivo para o consumidor. Já a LG precisou repassar e o consumidor sentiu”, concluiu Meireles.