A pior Internet que existe hoje vai para os brasileiros que mais precisam dela para corrigir as desigualdades, para ter oportunidades que o mundo sem Internet não os ofereceu. Esta é a constatação de Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e Datafavela, a partir de pesquisa recente da entidade nas comunidades carentes do País. Durante a live do movimento Antene-se, promovida na terça-feira, 4, para chamar a atenção da necessidade de infraestrutura de telecom, Meirelles afirmou que a perspectiva da maioria da população não é a mesma da indústria – e que nada adianta discutir acesso sem discutir qualidade.

“Em todos os nossos estudos, ou a falta de tecnologia aparecia como problema, ou a tecnologia aparecia como solução. Muitos dos favelados têm acesso à Internet quando estão na beiradinha da favela, e não quando estão em suas casas. Enquanto os mais ricos têm computador em 83% das dos seus lares, este número cai pra menos de 20% entre os moradores de favela. Todos têm smartphones, mas 86% de quem tem celular pré-pago, o plano acaba antes do período programado”, apontou.

Segundo ele, 32% dos estudantes brasileiros das classes C, D e E não assistiram às aulas em 2020 por questões tecnológicas. Nas favelas, 54% dos estudantes não frequentaram aulas online por problemas de conexão; 11 milhões e 200 mil pessoas passaram a receber renda por meio de aplicativos, mas não conseguem aproveitar o máximo das vendas porque não têm sinal de qualidade.

Preto Zezé, presidente da Cufa (Central Única das Favelas), que também participou da live, concordou com Meirelles, e disse que 25% da população favelada não tem nenhum acesso à Internet – e os outros têm acesso muito ruim. Ele afirmou ainda que a população das favelas brasileiras produzem, hoje, R$ 119 bilhões em bens de consumo. “Não podemos ver a favela só como um lugar de carência, mas também como uma oportunidade de exploração e inovação. É uma economia, um polo de geração de renda”, ressaltou. Meirelles completou, dizendo que “não existe falar em retomada da economia sem que ricos e pobres tenham as mesmas condições de utilizar a Internet para aquilo que interessa: mudar a vida pelo emprego, e pela educação”.

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o presidente da Anatel, Leonardo Euler, que também estiveram na live, não responderam aos questionamentos de Meirelles e Zezé sobre a qualidade de acesso nas favelas, porque já tinham saído do debate no momento de suas falas.

 

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