A implantação do 5G ainda se encontra em situação indefinida no Brasil, após algumas decisões sobre questões técnicas do governo, mas já podemos olhar para outros países que já o utilizam para começar a traçar alguns paralelos e prever os desafios envolvidos na massificação dessa tecnologia. Ao mesmo tempo, verifica-se que as operadoras apostam alto no 5G, embora os consumidores ainda não tenham percebido inteiramente os benefícios proporcionados por uma rede de altíssima velocidade e baixa latência, entre outros diferenciais.

No Brasil, no dia 19 de março o ministro das Comunicações, Fábio Faria, anunciou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) enviou à análise do Tribunal de Contas da União (TCU) o edital do leilão do 5G, com a precificação do direito de uso das radiofrequências que receberão a tecnologia e os investimentos que serão exigidos como contrapartida. A expectativa é que o leilão, aprovado pela Anatel em fevereiro, ocorra em julho ou agosto deste ano.

Observando os mercados norte-americano e europeu, talvez os que têm mais similaridade com o nosso, nos países que já lançaram o 5G ocorre um fato interessante: parte das operadoras não está cobrando a mais do seu consumidor pela oferta de melhores taxas de download e upload. Os planos de 4G e 5G têm o mesmo preço, e eventuais variações estão relacionadas a outros fatores, como serviços adicionais ou de terceiros.

Adicionalmente, percebe-se que o consumidor final ainda não vê com clareza como o 5G pode ajudá-lo no seu dia a dia. Em dezembro de 2020, a empresa de análise de dados J.D. Power divulgou uma pesquisa feita nos Estados Unidos segundo a qual 20% dos consumidores não sabem nada a respeito do 5G e 42% entendem “o básico”. Além disso, 53% deles não estão dispostos a pagar mais pelo 5G e 36% disseram que não sabem qual operadora oferece o melhor serviço.

Na Europa, a situação não é muito diferente. Um estudo feito pela Ipsos para a European Telecommunications Network Operators’ Association (Etno) revelou que ainda há desinformação e controvérsias a respeito do 5G. Foram ouvidas mais de 7 mil pessoas de 23 países europeus, e 96% disseram conhecer a tecnologia, mas apenas 25% afirmaram conhecer “muito bem”. Há dúvidas, porém, quanto à confiabilidade das fontes de informação. Um em cada três entrevistados revelou que se informa sobre o 5G apenas nas mídias sociais, e mais de 40% afirmaram que não estão satisfeitos com a comunicação oficial. Ou seja, o conhecimento é alto, mas o entendimento é muito baixo e há uma clara demanda por informações confiáveis.

Apesar desse desconhecimento, que sugere a necessidade de ações de marketing mais efetivas, as operadoras norte-americanas estão investindo fortemente na banda C, destinada à implantação das redes 5G. Em fevereiro, a Federal Communications Commission (FCC) concluiu um leilão em que foram vendidas todas as 5.684 licenças disponíveis, pelo valor recorde de US$ 81,11 bilhões. Só a Verizon gastou US$ 45 bilhões na compra de 3.511 licenças, seguindo-se a AT&T, com US$ 23 bilhões, e a T-Mobile, com US$ 9 bilhões.

A esse alto valor das licenças ainda devem ser computados todos os equipamentos de infraestrutura e antenas para operar o 5G, que também deverão representar um custo elevado. Um ponto a mais em relação aos investimentos são os preços dos terminais 5G, que, apesar do esforço dos fabricantes e da rápida queda nos preços, ainda possuem uma diferença em relação aos seus “irmãos mais velhos” 4G.

Essa é a complicada equação a ser resolvida pelas operadoras. De um lado, existe a necessidade de grandes investimentos e, de outro, um desejo ainda pouco evidente do consumidor de pagar a mais pela nova tecnologia. Com a consequente dificuldade de explorar receitas adicionais, possivelmente as operadoras terão de se concentrar em novos negócios, para agregar novas receitas e ajudar a pagar esse enorme investimento.

Uma das grandes apostas é a oferta da banda larga a residências e empresas, principalmente se explorarem localidades não cobertas, ou ainda complementando seus negócios correntes. Aparentemente esse é o primeiro passo dado pelas operadoras americanas, iniciar a oferta de banda larga nas áreas que já estão cobertas com 5G, a preços mais competitivos que os preços praticados com a oferta de banda larga por tecnologias como cabo ou fibra.

No Brasil, existe a possibilidade de operadores de menor porte financeiro, que hoje estão restritos a áreas de menor atuação, comprarem bandas de frequência e, com isso, poder aumentar sua oferta de serviços a áreas maiores. Isso pode ser uma ótima notícia para o consumidor final, que ganhará novas possibilidades, novos provedores de serviço, aumentando a concorrência, e quem sabe podemos ter um cenário que pode ter maior competitividade, com preços menores e maior qualidade de serviço.

Outro segmento que promete bastante para a adoção do 5G é a indústria 4.0, cujos equipamentos interconectados e conectados à rede prometem aumentar significativamente a produtividade das empresas. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a tecnologia vai revolucionar a produção do país. Igor Calvet presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), por exemplo, acredita que estamos diante da melhor e mais profunda política industrial dos últimos anos. O 5G deve alterar a produtividade e a eficiência das empresas brasileiras, o que não estava sendo conseguido por outras vias. Nesse caso poderemos testemunhar tanto o aparecimento de novas empresas com ofertas de serviços de redes privadas para indústrias e mesmo outras áreas como agricultura ou também a construção de parcerias entre empresas pertencentes a esses nichos com as operadoras, que ajudarão a levar a oferta ao cliente final.

O certo é que há expectativas altas no País. Um estudo feito no ano passado pela consultoria OMDIA e a Nokia, divulgado durante o Futurecom Digital Summit, previu que o 5G pode movimentar mais de R$ 5,5 trilhões no Brasil nos próximos 15 anos e proporcionar um aumento de 1 ponto percentual no PIB nacional entre 2021 e 2035. São projeções animadoras, mas que, para se concretizarem, exigem que e as operadoras estejam preparadas para esse novo cenário, atentas aos desafios e, principalmente, às oportunidades de negócios.

 

 

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