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Com a macroeconomia engatinhando, o câmbio afetado pela alta do dólar e a possível falta de peças no horizonte do mercado de smartphones, as fabricantes devem preparar uma racionalização de seu portfólio entre 2021 e 2022. Renato Meireles, analista de pesquisa e consultoria em consumer devices da IDC Brasil, acredita em um movimento similar ao ocorrido no começo da recessão de 2015, quando as empresas adequaram seus produtos à crise financeira e ao bolso do consumidor.

“Os fabricantes vão buscar trazer mais receita para dentro de casa. Tudo aumentou na operação: frete e peças, por exemplo, embora também tenha incrementado a receita com o avanço do tíquete médio”, explicou em conversa com Mobile Time. “A tendência é ver produtos sendo ofertados na faixa de preço intermediário-premium (R$ 899 a R$ 1,9 mil) e super premium (R$ 2 mil a R$ 2,9 mil) e veremos os players reduzindo ofertas em entrada (até R$ 899)”, completou.

Meireles afirmou que essa estratégia abre espaço para a gama de entrada. Contudo, explicou que mesmo quem está vendendo nesta faixa “quer subir a régua” e ir para o intermediário de olho no aumento de faturamento. “Celular com especificações avançadas – câmera, tela e memória – o usuário só encontra a partir de R$ 900. Antes era na faixa dos R$ 600. Portanto, vai ter racionalização por conta do preço, câmbio e maturidade do mercado nacional”, prevê.

Vale dizer que este movimento foi notado no resultado do primeiro trimestre de 2021 pela IDC. Na análise, a faixa intermediária mantém 80% do mercado e seguirá crescendo durante o ano. E os super premium, que geralmente são consumidos pela camada de maior poder aquisitivo (A e B) da população, registraram aumento de 53% no sell-in. Isso acontece pelo fato dos consumidores comprarem mais no mercado interno, devido às restrições de viagens para o exterior por conta do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Tíquete médio e vendas

Com as fabricantes em modo de sobrevivência, o tíquete médio dos smartphones deve se manter em crescimento até 2022. Neste período, 2021 manterá a dinâmica de 2020 em aumentos da ordem de dois dígitos: “Em 2020, o tíquete cresceu dois dígitos, 30% no terceiro trimestre, que foi o mais alto. E cresceu 16% no primeiro trimestre de 2021, ou seja, continua alto”.

IDC

Renato Meirelles, analista de mobile phones e devices na IDC

No acumulado de 2021, a expectativa é de um incremento de 10% no tíquete médio dos celulares, em comparação com o ano anterior. Para o final de 2022, o percentual será menor, 0,8%, mas ainda em crescimento.

Assim, o cenário fica desafiador para os varejistas. Aqui, Meirelles citou cinco desafios para os comerciantes:

– O aumento do tíquete médio e um eventual repasse ao consumidor;

– A possibilidade de produto ficar parado no canal;

– A falta de componentes, que, embora não impacte o varejo diretamente, acaba impactando indiretamente, pois o varejo depende da indústria e tem pipeline de posicionamento de produto na prateleira.

– A consolidação do mercado de celulares com os dois líderes, Motorola e Samsung, dando pouca margem de negociação;

– E as restrições de vendas nas lojas físicas com o avanço do coronavírus.

“Nesta crise, o e-commerce cresce, mas o varejo ainda depende das lojas físicas. O brasileiro ainda é um consumidor muito forte neste canal”, afirmou. “Para um varejo tornar-se saudável em 2021 e os próximos anos, o ideal é levar seu ecossistema para o online. Precisa tornar (o negócio) mais sustentável e não tão dependente do offline”, analisa.

Mercado cinza e novos modelos de negócios

Com o tíquete médio em alta e restrição de peças no Brasil, o consumidor volta os olhares ao mercado cinza. Mesmo em queda por conta de ações conjuntas entre Abinee, Senacon, fabricantes e marketplaces, o grey market deve fechar o ano de 2021 com 4 milhões de peças no mercado nacional e uma receita próxima de R$ 6 bilhões, segundo Meirelles. Ou seja, o mercado cinza seria equivalente às vendas da LG em 2021, se a marca se mantivesse no mercado.

“O mercado cinza diminuiu, mas o tíquete médio segue aumentado. Isso impulsiona o consumidor a buscar produtos no grey market. Por mais que tenha ações de combate, ainda tem marketplace vendendo esses devices com diferença de R$ 500 a R$ 1 mil (comparado ao smartphone no mercado oficial)”, afirmou. “Os marketplaces começam a avisar que o device não tem garantia, nem selo da Anatel, nem assistência, mas o cliente compra mesmo assim pelo preço. Porém, o consumidor precisa ter consciência que comprar no mercado cinza deixa de arrecadar impostos para o Brasil. É dinheiro de imposto que iria para saúde e educação”, analisou.

Meirelles cita como alternativa para o consumidor o mercado de usados e refurbished. O analista explica que há um crescimento acelerado – porém, incipiente – neste segmento na casa de dois dígitos que deve se manter até 2024, em vista do aumento do preço dos produtos.

“Se olhar para um, dois anos atrás, você acha dispositivos com bons componentes. Nesse momento em que existe uma demanda por premium e super premium, as empresas de refurbished tendem a expressar crescimento. É algo atrativo, competitivo para fabricantes que trazem novos smartphones, e uma tendência para os próximos anos”, concluiu.

 

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