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O Brasil é o segundo maior mercado da indiana Gupshup, empresa que fornece uma plataforma self-service para o desenvolvimento de bots em canais de mensageria. A empresa montou um time no Brasil e começa a preparar uma série de lançamentos para o mercado nacional. Pretende trazer para cá o seu serviço próprio de mensageria, o GIP, e promete a inclusão da língua portuguesa dentro do seu motor de processamento de linguagem natural. 

Mobile Time conversou com o CEO e fundador da Gupshup, Beerud Sheth. O executivo, aliás, vai participar do painel de abertura do Super Bots Experience, dia 24 de agosto, junto com o CEO da Take, Roberto Costa, e o vice-presidente da Sinch para a América Latina, Eduardo Henrique, em um debate sobre fusões e aquisições, IPOs e rodadas de investimento no mercado brasileiro de chatbots.

Mobile Time – Poderia contar um pouco sobre a história da Gupshup?

BeerudSheth Gupsgup

Beerud Sheth, fundador e CEO da Gupshup

Beerud Sheth – A empresa nasceu em 2005. Vimos o poder do SMS e da mensageria móvel escalar globalmente. Sempre fomos muito inovadores. Antes de olhar para mensageria corporativa, tentamos mensageria para o consumidor final por SMS. Éramos como o Twitter em SMS. Tínhamos 70 milhões de usuários antes de 2010. Mas não conseguimos sustentar isso. Era muito tráfego pago e custava caro. A regulamentação na Índia nos impedia de botar publicidade, e assim não podíamos monetizar. Então mudamos para o mercado corporativo, porque empresas podiam pagar. Viramos uma plataforma de mensageria corporativa na Índia, com SMS. Mas estávamos sempre inovando. Hoje usamos Slack, Facebook Messenger, WhatsApp, Alexa, Google Assistente e GIP (Gupshup IP). Competimos em CPaaS. Outros têm apenas em SMS e WhatsApp, mas na Gupshup sempre buscamos ser os primeiros em muitas coisas, o que nos ajudou. Outras companhias focam em faturamento e rentabilidade, enquanto nós focamos em investir em inovação.

A Gupshup hoje é uma empresa global?

Estamos na África, no sudeste Asiático e na América Latina. Estamos crescendo e sempre buscando superar novos limites.

Qual é a sua principal fonte de receita hoje? SMS ou WhatsApp?

SMS ainda é a maior. Mas isso está mudando. O WhatsApp está crescendo rapidamente e ficando cada vez mais importante em nossos negócios. E o GIP também é muito importante.

Qual é o seu maior mercado fora da Índia?

O Brasil é o nosso segundo maior mercado, depois da Índia.

Por que vieram para o Brasil?

Percebemos que muitas empresas estavam usando nossa plataforma no Brasil, então decidimos localizar o produto e ter presença local. Nosso time ainda é pequeno, mas já temos muitos negócios no Brasil, porque nosso produto é fácil de usar, não tem fricção. É diferente de outras companhias que têm muita gente e negócios menores que os nossos. Não precisamos de uma grande equipe de vendas.

Estamos empolgados pelo fato de os brasileiros estarem usando serviços de mensageria conversacional. Estão interessados em conversas automatizadas e transações automatizadas. A adoção tem sido ótima no Brasil.

Quais os planos para o primeiro ano de operação local no Brasil?

O foco é aumentar nossa base de consumidores o mais rapidamente possível. O volume de mensagens e a receita podem vir depois. O primeiro passo é conseguir clientes usando a plataforma da Gupshup.

Quais as principais semelhanças e diferenças entre os mercados indiano e brasileiro de mensageria?

Primeiro vou falar das semelhanças. Os dois países são mobile centric, com um ecossistema mobile first. Email e voz não são muito fortes, enquanto mensageria é grande, com muitos heavy suers. Os dois mercados são sensíveis a preço, mas querem bons produtos, aceitam novas ideias e novas tecnologias. Essas semelhanças estão entre as razões de termos sucesso na Índia e no Brasil, porque nossos produtos, processos e estratégia de precificação são similares, ao contrário de empresas europeias ou americanas que vêm fazer negócios no Brasil trazendo experiências muito diferentes. Os preços e os requisitos dos consumidores são diferentes.

Sobre as diferenças: o mercado indiano é muito maior que o brasileiro e a língua é diferente, embora isso não seja um problema. O grau de automação é diferente entre os dois países. No Brasil ainda há muitos casos de suporte ao cliente, enquanto na Índia há mais casos de automação com chatbots, mas a diferença é pequena.

Seu motor de processamento de linguagem natural está em português?

Nosso NLP está em inglês, mas vamos ter em português também. Uma das coisas legais em IA é você poder usar um modelo de linguagem e treiná-lo para outras línguas. Vamos investir bastante em capacidades conversacionais para diferentes mercados. Incluiremos mais línguas rapidamente. 

A próxima será o português?

Temos foco primeiro em outras línguas regionais da Índia, mas vamos avançar em várias simultaneamente.

O mercado brasileiro de bots está passando por um processo de consolidação, com muitas fusões e aquisições. A Gushup pretende comprar alguma empresa aqui?

Vamos avaliar opções globalmente, mas especialmente no Brasil. A ideia é que tenha produtos com capacidades avançadas. Estamos focando em mensageria conversacional e IA. Se houver companhias que fizeram um bom trabalho nessas áreas vamos olhar. Mas tem que fazer sentido em termos de produto, de equipe, e de preço.

O que é o GIP?

Vou contextualizar primeiro. Há por aí muitos canais de mensageria, como SMS, WhatsApp, Skype etc, mas todos nasceram no P2P e depois adicionaram B2C. E todos têm medo de que se tiver muita mensagem B2C as pessoas vão parar de usar. Então, criam diferentes regras sobre para quem uma empresa pode mandar mensagem, ou sobre qual tipo de conteúdo pode ser enviado etc. Há restrições de funcionalidades também, que são adicionadas devagar porque não querem atrapalhar a experiência do cliente. Sabemos que o mercado corporativo quer um canal de alta qualidade e com poucas restrições. Quer ter a melhor experiência possível e e poder enviar diferentes tipos de conteúdo, desde que não seja spam. Se o consumidor aceita, por que não posso mandar mensagem de marketing? Vimos que havia necessidade de lançar um canal de mensageria flexível que funcione em qualquer aparelho. Então criamos o Gupshup IP Messaging Service (GIP), nosso serviço próprio de mensageria.

O GIP pode vir embarcado em alguns devices, em parceria com fabricantes de aparelhos. Ou pode funcionar como um web app, no formato PWA, com a mesma API e com as mesmas capacidades. A identificação do usuário é feita pelo número telefônico.

O GIP está disponível para qualquer um. Não temos restrições. E não precisa trabalhar com a gente diretamente: pode ser de forma indireta, oferecido por outras companhias.

[Nota do editor: Durante a entrevista em videoconferência, Beerud realiza uma demonstração do GIP. Através de um link enviado por SMS ou acessado por QR Code, por exemplo, é possível iniciar uma conversa via GIP com uma marca ou abrir um marketplace onde estão presentes vários canais de bots de empresas que usam o GIP.]

Qual é o volume de mensagens mensais trafegadas no GIP?

São centenas de milhões de mensagens por mês no GIP. E são milhares de empresas usando. 

O GIP está disponível somente na Índia?

Está na Índia, mas vai ser oferecido globalmente, inclusive no Brasil, muito em breve.

O que achou de abertura da API de mensageria do Instagram?

O impacto será positivo. Os negócios precisam conversar com seus consumidores independentemente do canal. E alguns se encaixam bem no Instagram. Se uma empresa tem um catálogo visual de produtos, o Instagram é perfeito para seu negócio e pode servir para vendas instantâneas. Acho que Instagram é muito poderoso e tem muitos usuários no mundo inteiro. Será um canal de mensageria muito importante.

E qual a sua opinião sobre o lançamento do pagamento no WhatsApp?

Pagamento no WhatsApp terá impacto enorme. A maioria das conversas estão em volta de mensagens de suporte. Com pagamento, fica aberta a possibilidade de comércio. Imagine consumidor fazer uma pergunta e depois, se gostar, poder comprar o produto, selecionando o cartão e fazendo o pagamento? 

 

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