Começou a segunda etapa do open banking na última sexta-feira (13). No momento, apenas 0,1% da base de clientes dos 11 maiores bancos do País pode sentir os efeitos dessa nova fase, transferindo dados cadastrais de uma instituição na qual já possui conta para a abertura em outra. Especialistas ouvidos por Mobile Time enxergam os primeiros dias dessa nova fase como um teste, um momento de cautela e análise. Mas que, no futuro, será de variedade de produtos e serviços e concorrência, fazendo jus ao que o Banco Central chama de “o maior open banking do mundo”.
“O open banking é uma mudança de infraestrutura e os produtos que serão oferecidos ainda não foram definidos”, diz Juan Ferrés, economista e cofundador da Teros Participações em conversa com Mobile Time. Neste momento, o que era importante era estar pronto. E qual era a obrigação? Criar um padrão tecnológico único. Esta é a grande novidade o open banking. Agora não existe uma obrigação em disponibilizar os dados se eles forem pedidos. Isso vai acontecer naturalmente, é um processo. Cada banco está criando seus produtos e suas estratégias”, explica.
“No fundo, são testes. E é prudente que seja assim. É uma mudança gigantesca. Querem analisar o sistema e ver que tipos de problemas surgem”, completa Ferrés.
Os primeiros meses
No curto prazo, Boanerges Ramos Freire, presidente da consultoria da Boanerges & Cia, espera que as instituições tenham muita cautela. “A prioridade é garantir que as coisas funcionem bem, do ponto de vista do sistema, da segurança da informação”, resume. “Existe uma obrigatoriedade de funcionar, mas isso é parcial, porque é gradual”, explica.
Para o consultor, enquanto os bancos menores, mas cujo core está na tecnologia, vão aproveitar para apresentar novos produtos e serviços para “desafiar o modelo tradicional e conquistar clientes com novas ofertas”, os grandes terão que se mexer. “Não dá mais para ficar parado ou defendendo posições. Eles precisam se tornar mais flexíveis e mais competitivos”, diz Freire.
Rogério Melfi, especialista em novas plataformas da TecBan e líder do GT de open banking da ABFintechs, aposta que nas próximas semanas vai haver uma aceleração do uso de aplicativos agregadores de contas (como Guiabolso e Mobills). “Antes você teria que acessar suas contas separadamente e com os agregadores elas estão em um app apenas. Pode ser que as pessoas, então, decidam ter mais contas porque não precisarão olhar vários apps. Eles agregam dados e, no futuro, serão melhores conselheiros financeiros”, aposta.
Melfi acredita que as instituições vão usar os próximos 15-30 dias para analisar o andamento desta etapa do open banking e aprimorar seus produtos e serviços pensados para este momento. “E as empresas que não são obrigadas a entrar nessa etapa, terão mais tempo para analisar a situação e definir a melhor estratégia de consumo e compartilhamento de dados, ver o que vai acontecer no primeiro ou segundo mês de open banking”, estima.
Médio e longo prazo
O economista Juan Ferrés aposta que depois desse período de testes é que vai começar a corrida para lançar produtos e serviços.
“E outros setores da economia, vendo que o sistema está funcionando, vão começar a criar produtos de open banking. É possível fazer várias aplicações só com os dados de cadastro”, diz. Para ele, será possível levar a experiência do online para o mundo físico: “Sabe o ‘faça login com sua conta Google’? Então, no mundo físico será: faça seu login com seu banco”, prevê.
Em um ou dois anos, Melfi acredita que os bancos e as instituições financeiras estarão conectados aos assistentes pessoais virtuais. Assim, para acessar a conta corrente, o usuário não precisaria abrir o app do banco, mas falar com Google Assistente, Alexa ou Siri, por exemplo. “São possibilidades que o open banking traz e que agora não fazem muito sentido, mas que são possibilidades para o futuro. Poderemos compartilhar dados com o relógio inteligente, assistentes virtuais, aumentando a disponibilidade do sistema financeiro em múltiplos canais”, diz.
No futuro, Freire, da Boanerges & Cia, prevê que serão criadas “coisas novas e inusitadas”, com varejistas oferecendo produtos financeiros ainda mais amplos para seus clientes, ou mesmo empresas de diferentes verticais, como distribuidores, atacadistas, indústria, fornecedores etc.
“Os bancos vão deixar de ser os únicos provedores de serviços financeiros. Entram nessa conta varejistas, distribuidores, empresas de telecom, de streaming, a indústria. Qualquer empresa que debita potencialmente pode ser um prestador de serviços financeiros”, explica.