O setor financeiro tem passado por mudanças sem precedentes, que ocorrem em ritmo acelerado e, muitas vezes, de maneira disruptiva. Esse movimento tem sido impulsionado, principalmente, por inovações tecnológicas, novos players no mercado e constantes mudanças no comportamento dos consumidores. No Brasil, é possível observar que nos últimos anos o Banco Central tem se movimentado na busca por um cenário mais competitivo entre as instituições, com regulações que trazem agilidade e reduzem barreiras para novos entrantes. De maneira a possibilitar ao consumidor final mais acesso a serviços financeiros, podemos citar como exemplo as resoluções que regulamentam Instituições de Pagamento, Sociedades de Crédito Direto, Sociedade de Empréstimo entre Pessoas e até mesmo o Pix.

Todas essas transformações foram então acentuadas pela pandemia da Covid-19, que promoveu uma maior demanda por serviços financeiros digitais. Em abril do último ano, por exemplo, de acordo com a Febraban, as transações bancárias feitas por pessoas físicas nos canais digitais chegaram a representar 74% do total. Esse resultado foi registrado um mês após o início da quarentena e se destaca pelo aumento de 10 pontos percentuais em relação ao que havia sido mostrado em janeiro. Além disso, as fintechs e os meios de pagamento eletrônico ganharam grande espaço no mercado: em 2020, muitos projetos de arrecadação de doações para o combate à pandemia foram construídos com base em pagamento via QR code e transações por meio de carteiras digitais, o que fez esses modelos se popularizarem.

Para mergulharmos nesse cenário de transformação, que hoje é impulsionado pelo open banking, é importante entendermos o histórico da digitalização no setor financeiro. Em 2015, o Parlamento Europeu adotou a Diretiva Europeia de Serviços de Pagamentos Eletrônicos, conhecida como PSD2, com novas regras com objetivo de promover o desenvolvimento e uso de modelos de pagamentos inovadores, incluindo os via open banking. Em 2016, a United Kingdom Competition and Markets Authority (CMA) emitiu regras para que nove bancos do Reino Unido dessem acesso a seus dados para startups. Isso introduziu a obrigatoriedade dos provedores de serviços financeiros disponibilizarem APIs (Application Programming Interface) para compartilhamento de dados transacionais de clientes.

A partir de então, vários outros países seguiram o modelo Europeu e do Reino Unido, seja por exigências regulatórias ou por iniciativas das indústrias financeiras, pois viram inúmeras vantagens, tanto para os consumidores como para o setor em geral, como foi o caso de Austrália, Brasil, Estados Unidos, Hong Kong, Singapura, México e outros.

No Brasil, o open banking se dá por regulação emitida pelo Banco Central, inclusive no que diz respeito aos requisitos para compartilhamento de informações, que abrange as etapas de consentimento, autenticação e confirmação; bem como por iniciativas de autorregulação, no que tange a padronização tecnológica e procedimentos operacionais, modelos de segurança e implementação de interfaces, tudo em conformidade com a regulação.

É uma mudança significativa de um modelo de dados fechados para uma abordagem na qual dados são compartilhados entre distintos provedores de serviços financeiros. Dessa forma, o open banking abre espaço para um maior ambiente de parcerias, para desenvolvimento de novos produtos e serviços; uma melhor experiência do consumidor financeiro – sendo ele a prioridade nesse processo – criação de novas fontes de receita; vantagens competitivas, com marcas mais fortes e maior expertise; e redução de custos operacionais.

Apesar de se tratar de um processo transformacional relevante, algumas vezes ainda é visto como desafiador, pois esbarra em algumas questões no País, como a garantia da proteção dos dados compartilhados, a verificação da identidade dos usuários e a segurança nas transações financeiras. Ainda nota-se também certa desconfiança do consumidor sobre o tema, conforme indicado pela pesquisa conduzida pelo C6Bank/Ipec, que mostra que 43% dos respondentes disseram ainda não ter interesse em abrir seus dados. Isso indica uma necessidade de esforços para educação da população sobre o assunto. São problemas que, em sua maioria, podem ser contornados se a tecnologia e a comunicação forem usadas a favor da evolução.

Neste universo mais digital, os bancos precisam estar preparados para gerenciar um volume exponencial de dados, que podem variar ao longo do tempo, e somente a computação em nuvem oferece a elasticidade necessária para acomodar essas possíveis flutuações. Mesmo tendo apenas a análise de apenas três meses de operação da fase 1 do open banking no Brasil, é possível notar que os volumes de chamadas de APIs realizadas é quase três vezes o volume incorrido durante o mesmo período de operação no Reino Unido, o que nos traz a percepção de que alcançaremos patamares maiores do que lá. Com isso, à medida que as operações se desenvolverem, a computação em nuvem passará de útil a essencial no setor.

Vale ressaltar que alguns fatores importantes são bastante diferentes em ambos os modelos: o número de participantes mandatórios é diferente entre os países, assim como as datas e escopo das fases previstas aqui no Brasil. Esses fatores fortalecem a necessidade de que as instituições estejam preparadas para se adaptar às mudanças tecnológicas de maneira automática, sem a necessidade de novas atualizações, e a escalabilidade da nuvem aumenta a eficiência do processamento. A tecnologia ainda combina os mais altos padrões de segurança para que as transações ocorram de acordo com todas as normas prevalecentes de proteção de dados.

Ou seja, as instituições financeiras têm o controle e a confiança necessários para executar o open banking no ambiente de computação de nuvem. No contexto atual, em que os bancos buscam aumentar sua agilidade no lançamento de novos serviços, esse é apenas o começo de uma transformação que poderá habilitar maior integração entre os setores bancário e de seguros, e talvez, futuramente, os de energia e telecomunicações. A democratização das APIs também vai estimular a competição para um setor concentrado, permitindo a ampliação da oferta de produtos e serviços financeiros.

O importante é entender que a parte central de tudo isso é o consumidor. A tecnologia permitirá que o cliente faça escolhas sobre quais dados deseja compartilhar e com quem. Veremos empresas utilizando cada vez mais análise de dados e inteligência artificial para conhecer seu usuário e esse avanço culminará no sucesso das instituições que agregarem mais valor às ofertas. Assim, o open banking surge como acelerador de uma relação mais fiel, e a nuvem aparece como viabilizadora com inteligência de negócios e novas experiências. Sair na frente em seu desenvolvimento é aproximar o futuro.

 

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