Antena

Após adquirir 1 GHz apenas na frequência de 26 GHz, a Algar Telecom deve mirar seus esforços para o segmento de oferta de conectividade fixa por meio da rede 5G, o fixed wireless band (FWA) na região do Triângulo Mineiro. Em conversa exclusiva com Mobile Time logo após o encerramento do leilão nesta sexta-feira, 5, Jean Borges, presidente da operadora, explicou que a tecnologia tem sinergia com a estratégia da companhia.

“O modelo de negócios que vai ser explorado no começo será o de off-load e FWA, na última milha. Tem muitos prédios que não conseguimos mais passar fibra e queremos fazer a redução de churn do cliente Wi-Fi”, disse Borges. ”O nosso grau de convergência no móvel e em fibra ótica (conexão fixa) é muito alto. Crescemos em simetria em ambos. Desde 2016 focamos em proximidade e diferenciais de atendimento com o cliente. Temos grandes oportunidades, como a oferta one-stop-shop. E o 26 GHz fortalece essa estratégia”, completou.

Borges lembra ainda que na maioria das operadoras o Wi-Fi residencial não é bem atendido. O executivo estima que a rede sem fio representa cerca de 70% do total de reclamações. Por isso, o uso do FWA em 26 GHz pode colaborar para reduzir as reclamações e o churn de seus consumidores. Em offload de tráfego da rede, Luís Lima, vice-presidente de tecnologia e evolução digital, abordou que há benefícios também para os clientes B2B da companhia.

“Em área com alta densidade de tráfego, é possível usar um hotspot de 26 GHz, como em regiões comerciais ou de grandes eventos. Não falamos de substituição do Wi-Fi, mas no FWA complementando o Wi-Fi”, afirmou Lima. O executivo lembrou ainda que a frequência pode ser usada para indústria 4.0. “O 26 GHz é muito bem avaliado para FWA, ele tem uma capacidade muito boa para esse tipo de coisa. Você consegue cobrir com mais qualidade e throughput quando tem espectro. Mas você consegue levar altos throughputs também para conexões na Indústria 4.0. Igualmente pode ser aplicado em VR, AR e Cloud Gaming (em novas vertentes)”, completou.

Sobre o modelo de negócios para novas aplicações, Borges afirmou que ainda não está definido, mas deve ser desenhado a partir de sua plataforma de inovação aberta, a Brain.

Olho no lance

Após pagar ágio superior a 1.000% em uma faixa de 2,3 GHz no Triângulo Mineiro no primeiro dia do certame por R$ 57 milhões, a Algar teve uma postura mais comedida em termos de gastos (R$ 5,3 milhões), mas teve apetite ao comprar cinco blocos nesta sexta-feira, 5, na faixa de 26 GHz. Tulio Abi-Saber, VP de finanças, relações com investidores e jurídico da Algar, atribui esse movimento ao fato de garantir as frequências para manter o movimento de crescimento da companhia.

“O valor total dos nossos lances foi de R$ 64,7 milhões. O valor mínimo é pago ao governo em 20 anos e o ágio é investimento. O ágio é de R$ 55 milhões. Temos uma longa experiência no setor, desde o primeiro “G”, com serviços e evolução tecnológica. O nosso time está se preparando há alguns anos para o leilão”, disse Abi-Saber. “A outorga pode ser parcelada em 20 anos e as contrapartidas serão realizadas ao longo do tempo. O importante era garantir a frequência”, completou, ao responder sobre o ágio nos blocos.

Borges ressaltou que, embora o ágio seja algo que ninguém quer pagar, o modelo do leilão foi importante e garantiu “competição” e crescimento do segmento móvel no País, além de permitir novos modelos de negócio: “Queríamos pagar o menor valor possível, mas não foi possível. Principalmente na frequência do 2,3 GHz – que teve forte disputa nos blocos C8 e C6, por exemplo. Mas o ágio é revertido em obrigações. Ou seja, ao longo do tempo e dentro das nossas projeções, o ágio não altera nada. E partimos de uma base (de clientes e infraestrutura) existente”, disse o CEO.

“Na nossa região, fomos os grandes vencedores com 1,2 GHz de frequência. Esse mundo da melhor experiência da banda larga, em latência e cobertura de rede, é o que chamamos de ubiquidade: a melhor tecnologia para o cliente no melhor momento. Com isso, estamos bem posicionados com esses espectros”, completou.

Entre parceiros e rivais

Outro tema abordado na conversa foi a vitória de dois outros players na região do Triângulo Mineiro: Claro e Fly Link. Borges explica que a Claro era esperada, assim como outras operadoras nacionais, pela importância do 2,3 GHz. Porém, viu com surpresa o “pouco interesse” de provedores regionais no 26 GHz. Em relação à Fly Link, Borges vê a entrada com bons olhos inclusive para parcerias e trocas de experiência.

“Antes era só a gente e a Sercomtel. Queremos ter êxito, massificar e interiorizar a tecnologia do 5G, igual fizemos com a fibra ótica. Nós temos uma boa história que podemos trocar experiência e até realizar compras conjuntas. Mas no caso da nossa região, foi apenas um lote, vamos ter uma competição um pouco diferente”, explicou.

O CEO da operadora explica ainda que, em um cenário mais amplo, são “favoráveis a cooperar com outras empresas regionais”, em especial em questões de roaming e na oferta de aluguel de frequências (mercado secundário) para os players locais: “Isso tudo é possível. Nós estamos abertos e positivos para essas questões. A competição não é na infraestrutura, mas no melhor atendimento ao cliente”, concluiu.

Fornecedores

Sobre fornecedores, o executivo falou que a Algar é agnóstica, e vem trabalhando e conversando com todos os players, dos três principais fornecedores (Huawei, Ericsson e Nokia) até novas empresas que tentam entrar no setor com oferta de OpenRAN. Lembrou ainda que realizou testes com 5G em diferentes cidades, frequências e equipamentos de fornecedores para entender a dimensão da tecnologia e realizar os seus bids.

 

 

 

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