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[Matéria atualizada às 14h12 do dia 07/01/2022 com o posicionamento da Abrasel] A Uber vai encerrar as operações do Uber Eats no Brasil. Em nota enviada para Mobile Time, a companhia informou que o serviço de intermediação de restaurantes funcionará até o dia 7 de março. Depois disso concentrará seus esforços em outros serviços de entrega.

“A partir de agora, a empresa vai trabalhar em duas frentes: com a Cornershop by Uber, para serviços de intermediação de entrega de compras de supermercados, atacadistas e lojas especializadas; e de entrega de pacotes pelo Uber Flash”, informou. “Depois desta data (7 de março), os usuários poderão usar o app do Uber Eats para aproveitar a melhor seleção de supermercados e atacadistas do Brasil, assim como itens de decoração, papelaria, bebidas e produtos para pets, entre outros”, completa.

Atualmente, o Cornershop está disponível em mais de 100 cidades do Brasil. De acordo com a companhia, o delivery de mercado quase triplicou o número de pedidos. A Uber afirma ainda que expandirá o Uber Direct, produto corporativo que permite que lojas façam entregas no mesmo dia para seus clientes e que mantém o “compromisso com seus mais de 1 milhão de motoristas parceiros” que geram renda fazendo viagens e entregas pela plataforma.

Coincidentemente, a ação da Uber terminou nesta quinta-feira avaliada em US$ 42, queda de 2,8% ante US$ 43,3 da última quarta-feira. A saída do Uber Eats do mercado brasileiro foi amplamente noticiado por veículos internacionais.

Impacto

Stories Uber Eats

Procurada por Mobile Time, a Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O) disse que, se concretizado, o fim das operações no Brasil da Uber Eats é muito ruim para o setor: “O mercado precisa de mais empresas competindo no segmento de entrega de restaurantes. Sem um ambiente regulatório e decisões, especialmente do CADE, que assegurem essa boa competição, consumidor e restaurantes ficarão cada vez mais vinculados a algumas opções de aplicativos disponíveis no País”, avalia.

Por sua vez, a Associação Nacional de Restaurantes (ANR) lamentou o encerramento das atividades da Uber Eats no Brasil, e vê a saída do app como uma “perda de competitividade” no setor de food service.

“Neste momento ainda delicado, no qual a economia precisa de maior tração, é importante ter um leque de operadores. Embora seja uma baixa importante, o mercado de delivery vem ganhando novos atores com propostas inovadoras e bastante interessantes para garantir melhores condições e benefícios a todo o ecossistema – dos entregadores aos restaurantes e consumidores”, responde a ANR.

No começo da noite desta quinta-feira, 6, o presidente do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas Intermunicipais do Estado de São Paulo (SindimotoSP), Gilberto Almeida dos Santos, disse a esta publicação que a saída do Uber Eats do segmento de delivery de bares e restaurantes acontece devido ao domínio do iFood com mais de 80% do mercado.

Na visão do SindimotoSP, é menos uma empresa para “precarizar a situação dos entregadores”. Ainda assim, enxergam o iFood como o “grande vilão” na piora de entrega de alimentos nos dias atuais.

Por sua vez, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, acredita que é sintomático que a saída da Uber Eats do segmento aconteça um mês após o fim do Delivery Center: “Ficamos em alerta máximo especialmente pelos motivos aventados: a dificuldade de transpor as barreiras impostas pela empresa líder desse mercado. Embora essas hipóteses ainda não estejam confirmadas, o fato da Uber Eats ter encerrado as atividades apenas por aqui é um indicativo de que esse mercado esteja adoecido, precisando de um remédio mais forte”, afirma Solmucci em nota ao Mobile Time.

Na visão do representante da Abrasel, a solução para o setor seria o Open Delivery, um código aberto para padronização de cardápios e pedidos. Assim como o SindimotoSP, os comerciantes também citam como problema o amplo domínio do iFood. Solmucci lembra que a associação de bares e restaurante entrou com um pedido – ao lado de 99, Rappi e Uber – no CADE para acabar com os contratos de exclusividade do iFood, algo que foi aceito em 2021.

Análise I – Uber

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Esta não é a primeira vez que o Uber Eats fecha operações em países. Em maio de 2020, a empresa deixou de atuar em oito países e sua subsidiária no Oriente Médio demitiu 536 pessoas. Na época, um dos motivos foi o impacto da pandemia nos pedidos, mas também o fato que esses locais não ganharam tração e representavam menos de 1% da receita total da Uber.

Agora, uma série de fatores podem ter colaborado para o fim da operação nacional:

  1. O primeiro sinal amarelo foi a saída no final de 2021 de sua principal executiva no Brasil, Silvia Rodrigues;
  2. O resultado financeiro no terceiro trimestre de 2021 mostra que a Uber não é lucrativa, tendo registrado prejuízo líquido de US$ 2,4 bilhões, uma piora de 123% ante US$ 1,1 bilhão do mesmo período um ano antes;
  3. Na apresentação do relatório do terceiro trimestre, Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, e Nelson Choi, CFO da companhia, não citam Brasil ou América Latina como exemplo no delivery, mas Estados Unidos e Canadá. O Brasil é destacado pelo serviço de corridas particulares, que retornou ao patamar de pré-pandemia. No passado, a região era destacada como tendo muito potencial a ser explorado;
  4. Em agosto do ano passado, a Uber precisou lançar oferta de notas de crédito de US$ 1,5 bilhão para pagar uma aquisição no segmento de fretes e logística e não comprometer o caixa;
  5. Em 2020, a companhia chegou a desembolsar US$ 450 milhões para repassar ativos que eram considerados o futuro da Uber, mas que exigiam muitos esforços e investimentos que poderiam ser utilizados em corridas e delivery;
  6. No mercado de delivery e logística brasileiro, este não foi o primeiro alerta de mudança ou consolidação. Vale lembrar que o Delivery Center também anunciou o término de suas atividades no final de 2021;
  7. Pesa contra também a macroeconomia brasileira: o País está com 13,5 milhões de desempregados, passou 2021 em inflação acumulada de quase 11% no ano e entrou em recessão técnica em dezembro;
  8. Há franca competição do Uber Eats em duas frentes: delivery com iFood, Rappi, 99 e outros; e entregas de marketplace como Mercado Livre, Americanas, Amazon e Magalu.

Na disputa pelo mercado de delivery de comida no Brasil, o Uber Eats nunca conseguiu fazer frente ao iFood, que sempre liderou o segmento, de acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre comércio e pagamentos móveis. Na edição mais recente, de outubro de 2021, o iFood é apontado como o app de delivery de comida preferido de 72% dos brasileiros que utilizam esse tipo de serviço, enquanto o Uber Eats figura em um distante segundo lugar, com a preferência de 8% do público.

Análise II – iFood

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Mesmo com a saída do Uber Eats do delivery de bares e restaurantes, ainda é cedo para dizer que o iFood ganhou o mercado de delivery no Brasil. Sim, o iFood é o maior player de procedência nacional. Mas, o app ligado à Movile tem uma série de desafios adiante:

  • Encara ampla e franca concorrência com Rappi que vem recebendo fortes rodadas de investimento anualmente;
  • Os grandes marketplaces avançaram em entregas de mercado e começam a olhar para bares e restaurantes, basta lembrar dos movimentos de aquisição de apps do Magalu nos últimos dois anos;
  • O avanço de competidores de nicho, como o Zé Delivery, que tem construído junto aos comerciantes na pandemia com taxas atrativas;
  • Há demandas por regras mais rígidas para o setor que podem ameaçar o domínio do iFood e incentivar mais competição. Um exemplo é a CPI dos Apps que ocorre atualmente na Câmara dos Vereadores de São Paulo.

A vitória do iFood não é completa uma vez que a saída do Uber Eats foi total. A companhia norte-americana ainda tenta ganhar espaço com a entrega de itens de mercado com o Cornershop, que foi comprado em 2021, mas poderia muito bem ter fechado a operação de delivery de vez, ou vendido para um rival menor que o iFood de modo que não houvesse percalços de aprovação no CADE.

Importante lembrar que o próprio iFood comprou a unidade local do Pedidos Já no passado, um outro app de delivery que não ganhou tração no mercado delivery brasileiro. E a Uber vendeu sua operação na Rússia para o Yandex.

 

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