O Google apresentou nesta quarta-feira, 16, o projeto Privacy Sandbox, a sua resposta para redução de rastreio de dados em dispositivos Android. De acordo com a companhia, o pacote de proteção ao usuário tem como objetivo adicionar mais soluções de publicidade privada.
Na prática, o movimento é uma continuação do endurecimento de Google e Apple contra a coleta de dados de usuários feita por empresas de publicidade e redes sociais. As ações mais notórias foram o fim dos cookies no navegador Google Chrome e a atualização a partir do iOS 14.5 que retirou a opção de coleta de dados na configuração inicial do sistema operacional com a criação do Apple Tracking Transparency (APT).
Debaixo do capô
Em sua proposta inicial, o Privacy Sandbox apresenta APIs de preservação de privacidade e segue os mesmos padrões do sistema criado para retirar o uso dos cookies do Google Chrome. Essas APIs têm como intuito permitir a publicidade com “personalização e mensuração” de uma forma “mais privada”, pois separarão e manterão os dados privados do usuário no celular.
Por outro lado, o desenho do Google dá mais poder ao desenvolvedor do aplicativo. A companhia disponibilizou três formas para que empresas tenham dados robustos para fazer campanhas:
- Topics – São informações granulares baseadas nos aplicativos que o consumidor tem no smartphone para que kits para o desenvolvedor (SDK) feitos por empresas de publicidade usem os dados para gerar campanhas relevantes para o usuário;
- Fledge – Mostra publicidade baseada em audiências customizadas que são definidas pelo desenvolvedor do app e as interações desse público com o app;
- Attribution Reporting – suporta mensuração de conversão, melhoria com machine learning, como modelos de construção de taxa de conversão e detecção de atividade inválida (fraude, por exemplo).
Cronograma
O Privacy Sandbox para Android está disponível para análises e feedbacks no site do desenvolvedor Android. Ao longo de 2022, a companhia apresentará atualizações e os primeiros designs do sistema de proteção ao usuário. No final do ano, o Google pretende lançar o primeiro beta do SDK do Privacy Sandbox com as APIs de preservação de privacidade para ser testada por desenvolvedores.
Rivalidade
Curiosamente, o Google trouxe a Snap – rival direto da Meta – para abordar a importância da redução de coleta de dados e privacidade do usuário: “Na Snap, nós colocamos a privacidade como prioridade que fica no centro de como desenvolvemos nossos produtos. Estamos contentes em colaborar com o Google para desenvolver os novos padrões de manutenção de privacidade no Android”, disse a rede social em nota publicada pelo Google. Além de Snap, Rovio e Duolingo também demonstraram apoio à iniciativa.
Anthony Chavez, vice-presidente de produto para privacidade e segurança no Android, escreveu no blog da empresa que o Privacy Sandbox será feito em parceria com a indústria, uma vez que desenvolvedores poderão dar suas avaliações sobre as propostas do Google que estão no site do Android.
Na parte para desenvolvedores do OS, o Google ressaltou que este é um movimento gradual e que planejam manter o sistema de plataforma de publicidade – como o advertising ID – por pelo menos dois anos, além de dar suporte e avisos de mudanças à indústria durante todo o período de criação do novo arcabouço.
Esse posicionamento pode ser visto como diferente daquele da Apple, que foi criticada por ter uma posição unilateral no APT.
Entenda
A alteração no Android era aguardada pela indústria de publicidade, como relatado por Mobile Time no especial do iOS 14,5 em 2021. “Acreditamos que o Google também restringirá como a Apple. O usuário se nega a compartilhar dados. Tudo está conectado. A rede social começa a pensar em outros modelos de negócios”, afirmou Leila Guimarães, country manager da Adsmovil no Brasil, no ano passado.
“A privacidade e a proteção de dados é uma questão de sobrevivência. Será a base de sustentação das grandes companhias de tecnologia. Não adianta ‘passar o pano’ de ‘vamos ajudar os pequenos’. Os dados precisam ser protegidos, regulados e filtrados. Começamos a ver consciência maior por parte dos usuários e das empresas de tecnologia”, completou a executiva.
Para ler o especial com as mudanças na publicidade a partir do iOS 14,5, clique nos cards abaixo:
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Os problemas causados
Em grande escala, a mudança no OS da Apple trouxe problemas para o segmento de publicidade, em especial nas finanças de empresas do setor. A Meta espera por uma queda de US$ 10 bilhões na receita com anúncios neste ano por não poder entregar dados como fazia antes do APT.
Somando essa redução com a queda de usuários, a disputa com novos players como TikTok, Kwai, YouTube Shorts e Snap, além dos altos investimentos no Metaverso, a companhia perdeu mais de US$ 250 bilhões de valor de mercado nos dias seguintes ao seu resultado financeiro de 2021.
Vale lembrar que logo após a Apple anunciar as alterações no OS em agosto de 2020, a companhia alertou que perderia 50% da receita com publicidade empresarial. Snap e Twitter também relataram perda de faturamento com a mudança em 2021, porém no Twitter o impacto foi menor.
Privacidade x publicidade
Por outro lado, as ações de Google e Apple em prol da publicidade das duas empresas podem ser vistas como uma forma de reter e aumentar os seus ganhos nessa área, uma vez que ambas têm suas próprias ferramentas de marketing programático.
Entretanto, muito mais forte está o desejo de evitar multas e passar pelo escrutínio de governos e reguladores sobre o uso de dados na publicidade, em especial na Europa e nos Estados Unidos. Vide a publicação de Anthony Chavez no blog da empresa:
“Estamos comprometidos a trabalhar próximos dos reguladores. Nós oferecemos um posicionamento público sobre os nossos esforços no Privacy Sandbox, incluindo a garantia que não damos preferência aos produtos de publicidade do Google. Adicionamos esses princípios ao trabalho no Android e continuaremos trabalhando com a Autoridade de Competição de Mercado (CMA) do Reino Unido e outros”, afirmou o VP do Android.
Vale lembrar que há um histórico com processos movidos por CMA, CNIL da França, Comissão Europeia e FTC contra o Google.