O WhatsApp (Android, iOS) não contará com um mecanismo de busca de comunidades, sua nova ferramenta anunciada na semana passada e que se encontra em fase de testes. Desta forma, uma pessoa só poderá fazer parte de uma comunidade se for convidada por um dos seus administradores. Isso é uma diferença crucial em relação à funcionalidade de canais do rival Telegram, que permite a qualquer usuário pesquisar canais pelo seu nome e ingressar diretamente neles independentemente de convite.
Outra diferença é que haverá um limite de participantes em cada comunidade do WhatsApp. O número máximo ainda não foi divulgado, mas deve ser na casa dos milhares e será estendido conforme o WhatsApp crie novos recursos para melhorar o controle e a gestão dos administradores sobre as comunidades. No Telegram os canais têm capacidade ilimitada.
Também merece destaque uma diferença estrutural. No WhatsApp, cada comunidade será uma espécie de guarda-chuva debaixo da qual poderão existir vários grupos, cada um com seus próprios administradores, mas todos subordinados à administração da comunidade em si. No Telegram o canal é um monolito, sem subdivisões em grupos menores.
Ainda não está claro, porém, se um mesmo grupo poderá fazer parte de mais de uma comunidade no WhatsApp.
Análise
Quando um aplicativo está instalado em 99% dos smartphones de um país, qualquer nova funcionalidade vira notícia. É o que acontece com WhatsApp no Brasil, vide a repercussão de suas novidades nos últimos anos, como o botão de pagamentos, a reprodução rápida de áudios ou a nova versão para web. Assim, o anúncio sobre os testes da ferramenta de Comunidades provocou alvoraço e gerou reação até mesmo do presidente da República. Não é para menos: esse novo recurso é provavelmente um dos mais impactantes na estrutura do WhatsApp nos últimos tempos.
Veja a seguir uma análise sobre outras características conhecidas sobre essa funcionalidade e algumas reflexões sobre o que se sabe e o que ainda não se sabe dela.
. Empoderamento (e responsabilização) dos administradores – Será criada a figura do administrador de comunidade. Cada comunidade poderá ter mais de um administrador. Essa pessoa terá o poder de criar grupos novos dentro da comunidade ou associá-la a outros grupos já existentes. Poderá também remover grupos e banir pessoas da comunidade. Os administradores de grupos, por sua vez, conseguirão excluir conversas e arquivos de mídia que forem considerados inapropriados.
Tal como anos atrás surgiu o cargo de gerente de redes sociais dentro das empresas, é provável que seja criado o cargo de gerente de comunidade de WhatsApp, no caso de comunidades de grande porte de uma determinada companhia ou entidade para a comunicação com seus funcionários ou com seu público.
O administrador de comunidade, portanto, terá uma grande responsabilidade em suas mãos. Isso, provavelmente, terá implicações jurídicas. Caberá ao administrador tomar providências em caso de conteúdo inadequado ou mesmo criminoso circulando dentro de uma comunidade. E eventualmente ele poderá ser responsabilizado judicialmente se for negligente ou cúmplice.
. Broadcast – A nova ferramenta permitirá o envio de mensagens do administrador para todos os membros de uma comunidade, espalhados por diversos grupos. É uma comunicação de broadcast. Hoje, esse tipo de comunicação no WhatasApp está restrita ao limite de 256 pessoas em um grupo ou lista de transmissão. Com as comunidades é aberta uma série de novas possibilidades. Uma marca, por exemplo, poderia criar uma comunidade para seus fãs e usar esse recurso para divulgar novas promoções ou campanhas. É preciso, contudo, verificar se os termos de serviço vão autorizar o uso desse recurso para marketing externo.
. Privacidade – Os membros de uma comunidade terão seu número telefônico visível apenas para administradores e para as pessoas dos grupos que fazem parte, não para a comunidade inteira. Além disso, as pessoas terão a opção de saírem de um grupo silenciosamente, ou seja, sem que isso seja avisado aos remanescentes.
. Integração com WhatsApp Business API – Uma dúvida é se a ferramenta de comunidade estará integrada com a API do WhatsApp Business, permitindo com que BSPs e ISVs criem produtos para a sua gestão junto com o atendimento via WhatsApp. Será permitida, por exemplo, a atuação de bots dentro de comunidades?
. Integração com WhatsApp Pay – Outra dúvida é se haverá algum tipo de integração das comunidades com a ferramenta de pagamento do WhatsApp, para a transferência de valores. A princípio, aparentemente, nada impede que administradores cobrem uma taxa (que poderia ser paga via WhatsApp ou por fora dele) para adicionar uma pessoa a uma comunidade ou grupo com conteúdo ou serviços exclusivos.
. Criptografia e combate a conteúdo abusivo – Todo conteúdo dentro de comunidades circulará criptografado, como já acontece no restante do WhatsApp. A empresa afirma que não serão toleradas comunidades sobre pornografia infantil, coordenação de violência e tráfico de seres humanos. O WhatsApp poderá banir essas comunidades e todos os seus membros com base em dados não criptografados, como o nome e a descrição da comunidade, ou analisando denúncias de usuários. Haverá mecanismos para para os usuários enviarem denúncias.
As características do novo recursos foram divulgadas pelo WhatsApp em seu blog oficial.