Os anúncios de lockdown ou restrições de deslocamentos em Xangai e outras regiões fabris na China não devem prejudicar as vendas de smartphones no Brasil. A explicação não é tão nobre: é que as vendas já estão fracas no mercado interno. É o que afirma Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria de consumer devices da IDC Brasil. Em conversa com Mobile Time, o executivo explica que fatores como demanda em baixa, inflação e desemprego em alta, renda baixa, eleições e até mesmo uma Copa do Mundo fora de época – no fim do ano – vão fazer o número de vendas cair.
Sakis lembra que as projeções da IDC para 2022 eram conservadoras, porém melhores do que para 2021. No entanto, os meses de janeiro e fevereiro foram aquém do esperado e não houve melhoras até agora. “Para o usuário brasileiro, a falta de produção na China não será sentida. O varejo está abastecido porque as vendas desde a Black Friday, que foi morna, estão fracas. Ou seja, se faltar na China, o varejista brasileiro ainda tem para vender. Mas imagino que o sell-in no segundo trimestre seja mais baixo pela falta de componentes saindo da China”, explica.
“Talvez a gente não sinta o problema. Ele existe e vai afetar o mercado mundial porque a produção nas fábricas na China são 24/7. Ou seja, se eles fecham um dia, uma hora ou uma semana, isso afeta profundamente a produção do trimestre e a produção de um ano inteiro. Não tem como recuperar”, explica.
O executivo conta também que os preços dos smartphones no Brasil estão altos e isso espanta o cliente. “Um celular de R$ 2 mil é o equivalente à renda mensal de uma família inteira da classe C. Não é viável”, diz.
Outro ponto que Sakis destaca é a redução do número de parcelas oferecidas no varejo. Se antes era comum o cliente encontrar produtos sendo vendidos a 12 vezes sem juros, atualmente, com a taxa Selic alta, o número de parcelas diminuiu. “Estamos em um cenário bastante complicado.”
Sakis prevê que o segundo trimestre de 2022 será pior do que o projetado pela IDC e o terceiro talvez seja um pouco melhor na comparação com o segundo, mas pior do que a expectativa original da empresa de análise de mercado. “Serei obrigado a baixar a previsão do terceiro trimestre. Deve haver uma evolução, mas em uma escala menor do que a prevista. De todo modo, no segundo semestre as vendas para o varejo devem melhorar”, aposta.
O executivo da IDC está curioso para ver o que vai acontecer com a Copa do Mundo acontecendo desta vez no fim do ano. “Normalmente, na Copa o Brasil vende mais televisores e no fim do ano, mais celulares. Agora é entender o impacto dessa mudança”, diz.