Wi-Fi

O sócio de TMT da Deloitte no Brasil, Matheus Rodrigues, não acredita na possibilidade de que players regionais do mercado de telecomunicações consigam criar uma força nacional capaz de preencher o espaço deixado pela Oi Móvel. Pelo menos não no curto prazo: “Sem fazer juízo de valor, não consigo identificar uma consolidação para se criar o quarto player em curto prazo”, disse.

O tema foi levantado em conversa com Mobile Time durante o processo de assinatura para trazer o Telecom Networks Engineering Excellence (TEE) da Deloitte para o Brasil, em uma parceria com a operação portuguesa da empresa. Antes, Rodrigues respondeu à publicação sobre a devolução de outorgas feitas por dois players (Neko e Fly Link) após o leilão e como fica o cenário do 5G no Brasil.

“De certa forma era natural (a devolução dessas frequências). Porque o 5G trouxe uma possibilidade inexistente até então, já que os espectros ficaram todos com as grandes. Com o leilão, surgiu a possibilidade de novos entrantes. Vejo isso como algo interessante para o mercado, pois cria oportunidades de soluções, empregos e facilita a consolidação de outros players”, disse. “Ao mesmo tempo existem os aventureiros. O que temos é um reflexo de empresas não estruturadas que acabam entrando. Posteriormente, esse espectro será comercializado novamente. Já os players novos podem se consolidar para ganhar força”, completou.

O executivo da Deloitte ainda disse que o momento do 5G é quente no mercado de telecom, mesmo diante de um cenário com inflação alta e taxas de juros altas. Portanto, Rodrigues não acredita que a macroeconomia e as saídas desses dois players podem atrasar a adoção da tecnologia.

Por outro lado, acredita que um impeditivo ao desenvolvimento do 5G é o legado de infraestrutura de rede das grandes operadoras, algo que trará um custo de investimento no 5G standalone (AS). Neste cenário, as novas entrantes podem se diferenciar por terem um caminho verde a trilhar, uma vez que não têm legado.

Infra x Serviço

Outro ponto da conversa foi o novo cenário que foi sendo criado com o surgimento das empresas de infraestrutura, as InfraCos. Olhando pelo aspecto global, Tavares explicou que a tendência da Europa mostra as operadoras se transformando de “NetCo para ServCo”, deixando toda a parte de infra para empresas que serão seus fornecedores. Deu como exemplo a Vodafone, que vendeu suas torres para a Vantage Towers por 15 bilhões de euros em março deste ano.

Mas o principal diferencial visto pelo executivo não é apenas o avanço das empresas de infraestrutura, mas os serviços que estas proverão em médio e longo prazo para as operadoras, começando com o edge computing.

“O 5G traz a realidade do edge com latências curtas. Nisso, o processamento tem que estar mais perto do utilizador. As empresas de infraestrutura podem oferecer microdatacenter que, por sua vez, conseguem entregar o edge. As empresas de infraestrutura começam a avançar do aluguel da fibra e torre para edge”, explicou Tavares. “Todas as InfraCos com as quais trabalhamos – no Reino Unido, na África do Sul e na Alemanha – atuam nisso, sem exceção. Essas InfraCos terão portfólios para além do espaço de torres dentro de três a cinco anos. E se o mercado e as operadoras começarem a oferecer edge, essa adoção pode acelerar”, completou.

TEE

Com contrato assinado na última sexta-feira, 20, a Deloitte traz para o Brasil o seu centro de excelência em telecom, o TEE. Segundo Tavares, o objetivo do TEE é debater práticas de telecomunicações que existem há 15 anos em Portugal. Atualmente é composto por 150 profissionais (em sua maioria engenheiros) e conta com unidades na Holanda, Alemanha, Reino Unido, Emirados Árabes Unidos, Austrália e Estados Unidos. Para os próximos três anos a expectativa é chegar aos 500 membros.

“Por que é importante a chegada do TEE no Brasil? Todos os países têm níveis de maturidade diferentes na adoção de tecnologias TIC. Capturamos esse conhecimento e levamos de um país para outro e de uma operadora para outra”, explicou. “Há uma especialização do TEE que é o 5G. Nela, nós olhamos o ponto de vista de negócio e os novos casos de uso. Isso deu gancho para o lançamento do TEE no Brasil. As duas Deloitte (Portugal e Brasil) trabalhavam isso de forma iniciante. Mas o 5G acelerou nos dois países e estamos trazendo formalmente hoje”, revelou.

OpenRAN

Outras duas linhas de trabalho em 5G que a Deloitte trará para o Brasil são: o metaverso, por meio de um estudo que deve sair nos próximos meses; e o sistema de redes abertas, o OpenRAN, que pode inclusive ter parcerias com as alianças existentes do setor.

“O OpenRAN é um caminho sem volta, porque os jovens de hoje são bem inovadores e criativos, e por ser uma rede aberta. Essa união trará muita inovação para o setor. Então, acredito que esse é um futuro que chegará em breve. Porque as indústrias vão pressionar por isso. Talvez o brownfield (operadoras com legado) queira segurar isso para ter tempo de se adequar, mas o greenfield (novas entrantes) vai querer acelerar”, disse Rodrigues.

Assim como seu colega, Tavares explicou que o OpenRAN tem dois desafios: future parity, a comparação das redes tradicionais com o OpenRAN; e o otimismo em relação aos custos, em especial para as grandes operadoras do brownfield: “Tem letrinhas pequeninas. Essa redução de custos atinge operadoras novas, não as operadoras com legado”.

“Acho que o Brasil tem um papel determinante aqui, pois o conhecimento em telecom é forte e tem escala. Como quando pensamos que uma operadora em São Paulo é duas vezes maior que uma operadora em Portugal e Espanha. Falta só um empurrão do governo para promover a adoção do OpenRAN, como fizeram os EUA com US$ 1 bilhão para promover o OpenRAN nas grandes operadoras. Ou seja, o Brasil pode ser um player interessante em OpenRAN”, disse.

 

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