Depois de vermos o que é o metaverso, como estruturar um desses universos e quem são os segmentos que saem na frente, a quarta matéria da série feita por Mobile Time aborda como as empresas podem explorar essa nova tecnologia. Quais são os tipos de experiências, aplicações e modelos de negócios que estão sendo usados neste início?
Um exemplo de empresa que começa a criar aplicações para o metaverso é a NTT Data. Cauê Dias, gerente de pesquisa, desenvolvimento e inovação da companhia, explica que trabalha com o conceito de “grandes jornadas de web 2.0 com pequenas jornadas de web 3.0”. Com oito projetos de aplicações para o metaverso em curso na América Latina, a consultoria atua misturando realidades aumentada, mista e virtual.
Os projetos são feitos sempre de forma mobile e “hands free”, ou seja, sem o usuário precisar de um controle que atrapalhe ou retarde a experiência. Um exemplo foi feito com uma utility de energia no Brasil: usando um celular com realidade aumentada, o técnico vê um poste reluzente em três dimensões como um aviso de que precisa de manutenção.
Outro exemplo citado por Dias é na área imobiliária. Imóveis de uma empresa do setor são escaneados com o radar LiDAR de iPhones. Ao abrir o app da empresa, o usuário que estiver na rua usa a realidade aumentada do seu celular para ver quais imóveis estão disponíveis e fazer uma visita virtual ao local.
Na visão do gerente de inovação, as empresas devem fazer “alguma coisa no metaverso”, mesmo que sejam projetos pequenos, pois as linguagens são diferentes daquelas com as quais estão acostumadas. “Estamos falando para um banco tradicional usar Unity e Unreal, linguagens do mundo de games. Essas experiências ajudam a converter a cultura do cliente”, disse o gerente, logo após dar um treinamento para o board de um grande banco tradicional brasileiro. “É preciso entender: o 3D no metaverso, hoje, não cria economias. Mas pode resolver problemas. Por exemplo, nós acreditamos que o banco fará a custódia dos avatares, NFTs transacionados. Isso é um mercado novo para eles”, explica.
Até 2027, a NTT Data estima que metade de seus projetos serão voltados para o metaverso.
Modelos e negócios
De acordo com o seu estudo que explora oportunidades no metaverso, o JP Morgan explica que as chances comerciais passam por uma série de evoluções radicais de formatos da Web 2 para Web 3, como pode ser visto na tabela abaixo:
Tecnologias e estruturas | Web 2 | Web 3 |
Mundos virtuais | Second Life, Roblox, Fortnite e World of Warcraft | Decentraland, The Sandbox, Somnium Space e Cryptovoxels |
Estrutura organizacional | Posse centralizada com decisões baseadas em votos de acionistas | Comunidades dirigidas por Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs), tokens nativos garantem a participação e a governança, e as decisões são baseadas no consenso dos usuários |
Armazenamento de dados | Centralizado | Descentralizado |
Formato das plataformas | PC, console, mobile, VR/AR | PC, console, VR, AR, mobile vem aos poucos |
Infraestrutura de pagamento | Conta em débito e cartão de crédito | Carteiras cripto |
Ativo digital | Alugado dentro da plataforma | Comprado via Non-Fungible Tokens (NFTs) |
Portabilidade digital | Travada na plataforma | Transferível entre plataformas |
Criadores de conteúdo | Estúdios de jogos e ou desenvolvedores | Comunidades, mas também estúdios e desenvolvedores |
Atividades | Socialização, jogos multiplayer, streaming de jogos e jogos competitivos | Jogos com foco em ganhos (play-to-earn), experiências e as atividades do Web 3 |
Identidade | Avatar na plataforma | Identidade autossoberana e interoperável com anonimidade baseada em chaves-privadas |
Meios de pagamento | Moeda virtual dentro da plataforma | Criptomoedas e tokens |
Receita com conteúdo | Revenue share de 30% a 70%, respectivamente entre plataforma e desenvolvedor | P2P, desenvolvedores ganhando receita direto dos compradores, usuários e jogadores ganhando por partidas ou participação em DAOs, e ganhos com royalties em comércios secundários de NFTs para criadores de conteúdo/arte |
Jennie Li, estrategista de ações da XP, acredita que o modelo de negócios no metaverso será “muito diferente” do sistema virtual da web dos tempos atuais: “Hoje é muito a questão do dono dos dados, a empresa ou o usuário. No metaverso, os dados são (totalmente) das pessoas. É uma ‘realidade virtual’ com modelos de negócios que podem ser diferentes hoje, justamente pelo fundamento de Web 3, criptomoedas e descentralização das finanças (DeFi)”, explica.
Citando casos como o tênis digital de edição limitada do jogador de basquete Stephen Curry, Genesis Curry Flow da Under Armour, avaliado em US$ 333, Fernando Moulin, sócio da Sponsorb e professor da ESPM, afirma que há negócios em curso nas realidades alternativas existentes. E que essas atividades – descentralizadas – mexem com o status quo.
“O que é o preço de um produto ou serviço? Tradicionalmente, uma pessoa quer vender algo e outra que pagar por isso. O que estamos vendo agora são assimetrias de mercado. Mas ainda não tem uma equação de valor constituída”, diz Moulin. “O que percebemos é que tem muita liquidez de capital no mundo. Esse movimento acontece junto ao avanço das criptomoedas e dos produtos baseados em NFTs. As pessoas entram em busca de alternativas de investimento”, completa, ao explicar a fome com a vontade de comer do mercado.