| Publicada originalmente no Teletime | Em audiência pública na Câmara dos Deputados que aconteceu nesta terça-feira, 14, o ministro das Comunicações Fabio Faria foi questionado por parlamentares sobre a possível parceria entre o governo brasileiro e o empresário Elon Musk, dono da empresa Starlink.

Fabio Faria disse que a empresa Starlink oferece a maior velocidade e qualidade de sinal de conexão via satélite. Faria apresentou a qualidade de conexão da empresa de Elon Musk como uma justificativa para parceria que pode acontecer com o governo brasileiro e a Starlink, que visa garantir conectividade de escolas e monitoramento via satélite na Amazônia. Mas não foi específico sobre os termos do acordo, uma hora dizendo que alguns pontos de conectividade gratuitamente, em outras dizendo que ele, Musk, já havia ficado de fora de uma licitação (provavelmente em referência ao aditivo contratual da Telebras para ampliar a quantidade de pontos do WiFi Brasil). Ele também disse que os compromissos de conectividade em escolas assumidos pelas operadoras poderão ser atendidos pelos satélites de Elon Musk.

“A Starlink oferece uma velocidade entre o 4G (sic) e a fibra”, disse o ministro, referindo-se evidentemente às velocidades do 5G e aos compromissos do edital do ano passado, e para os quais foram reservados R$ 3,1 bilhões dos recursos arrecadados no edital. No edital de 4G na faixa de 700 Mhz, realizado em 2013, não houve compromissos de conexão em escolas, e no leilão das faixas de 2,5 GHz, realizado em 2012 e também utilizadas para 4G, o compromisso foi para acesso rural por meio de uma rede 4G fixa. Atualmente, a Anatel está permitindo a troca destes compromissos por satélite.

“A operadora SpaceX Starlink oferece hoje 300 Mbps de velocidade, com uma latência de 40 ms. A HuguesNet, oferece 21 Mbps e latência de 725 ms. A Viasat americana tem velocidade de 22 Mbps e latência de 627 ms e a brasileira [Viasat] oferece 30 Mbps e 610 ms de latência. O SGDC, oferece 20 Mbps e 610 ms de latência. Nós no Brasil temos uma Internet fraca, ruim”, disse o ministro.

No quadro comparativo apresentado pelo ministro do MCom na audiência, a fibra ótica no Brasil atinge em média de 1 a 10 Gbps de velocidade e 6 ms de latência. Do 5G “puro”, a expectativa do governo é que se atinja 1 Gbps de velocidade e menos de 4 ms de latência, e no 4G, atualmente, a velocidade é de 40 Mbps e 27 ms de latência.

Ressalta-se que são tecnologias diferentes e com custos diferentes. A Starlink é uma constelação de órbita baixa (LEO), que de fato apresenta performance melhor de velocidade e latência, mas os equipamentos são bem mais caros e a viabilidade econômica do projeto ainda está a se provar. Já as soluções da HughesNet, Viasat e Telebras, hoje, utilizam satélites geoestacionários (GEO). A Hughes e outras operadoras de satélites têm planos para constelações de órbita baixa. A SES já opera uma constelação de órbita média.

Sem projeto

Um dos pontos importantes sobre essa relação com Elon Musk foi apontada pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP). O parlamentar disse que solicitou por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) informações sobre a parceria anunciada por Faria para o uso dos satélites de Musk na Amazônia, e a resposta do MCom foi de que não há nada acertado sobre isso. “Por meio de LAI, solicitei informações sobre o projeto de conectividade da Amazônia. Em resposta à manifestação, a secretaria de telecomunicações do ministério diz que não há processo e nem projetos em andamento sobre conectividade na Amazônia que envolva a StarLink”, afirmou o parlamentar. Pelas informações de Valente, ainda não há nada formalizado sobre a parceria com Musk.

Monitoramento a laser

Ainda sobre a parceria com o bilionário sul-africano, Faria disse que os satélites de Musk são os únicos que oferecem “sistema de laser”, o que permite fazer um monitoramento da região amazônica de maneira mais eficaz. “Por que o satélite do Elon Musk na Amazônia? Porque o dele é o único satélite que tem laser, que detecta o barulho da serra elétrica na Amazônia. E aí, isso permite saber se aquele desmatamento é ilegal ou legal”, explicou o ministro aos parlamentares. E prosseguiu: “Isso torna o monitoramento da Amazônia muito mais rápido e dinâmico”.

Não existem detalhes conhecidos, contudo, sobre qual seja essa funcionalidade dos satélites da Starlink de captar sons por meio de laser, a não ser que seja uma informação privilegiada passada por Musk ao ministro. O que se conhece é a capacidade de conexão dos satélites entre si com um sistema de conexão por laser para evitar a necessidade de uma grande quantidade de gateways em Terra, mas mesmo assim as primeiras levas de satélites não estão ainda com capacidade de operar esse recurso.

Aprovação

Fabio Faria teve também que responder aos questionamentos dos deputados sobre possível influência para agilizar a atuação da Starlink no Brasil. O ministro explicou que os satélites de Musk já passavam em cima do Brasil, e que não teve influência nenhuma na decisão da Anatel que autorizou a atuação do empresário no Brasil. A empresa de Musk obteve a licença para operação de 4.408 satélites não-geoestacionários de baixa órbita (LEO) para oferta de banda larga no País. O plano total é de uma constelação de 40 mil, mas a Anatel determinou uma reavaliação em cinco anos dos pedidos da empresa. (Colaborou Samuel Possebon)

 

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