Desde que Mark Zuckerberg anunciou a troca do nome da sua empresa de Facebook para Meta, e sua priorização estratégica no desenvolvimento do que chama de “Metaverso”, este conceito passou a ser um dos mais discutidos no setor de tecnologia do mundo. Mas será que é algo tão novo assim? Bom, depende do que você chama de “metaverso”.
Para o fundador do Facebook, o Metaverso seria o próximo passo na evolução da Internet, combinando a rede mundial de computadores com realidades aumentada e virtual. A primeira aplicação em debate é a de construção de uma espécie de universo virtual, onde as pessoas possam interagir umas com as outras através de seus avatares e explorar o espaço de forma imersiva, com óculos VR. Reuniões de trabalho remoto ficariam mais “reais” desta forma do que as videochamadas com as quais nos acostumamos na pandemia. Junto com a construção de avatares já se fala em criar negócios dentro desse universo e até vender imóveis e outros bens virtuais nesse espaço.
Não duvido que as tecnologias de realidades aumentada e virtual serão cada vez mais combinadas com a Internet daqui em diante. Mas não sei se poderemos falar em um único Metaverso, com M maiúsculo, como um novo nome para a Internet. Acredito que teremos, na verdade, inúmeros metaversos, ou universos virtuais paralelos, controlados por empresas distintas, nos quais teremos avatares, serviços e modelos de negócios diferentes. Alguns vão se integrar entre si. Outros, não.
Além disso, a construção de um universo virtual online no qual podemos criar avatares (ou personagens) para interagirmos uns com os outros não é algo novo. Quem tem mais de 30 anos e se interessa por tecnologia deve se lembrar da tentativa frustrada do Second Life, no começo dos anos 2000. O conceito era o mesmo do Metaverso. A diferença é que as ferramentas e a rede de Internet evoluíram muito de lá para cá, permitindo hoje uma experiência mais imersiva.
E por trás do conceito de Metaverso de Zuckerberg, ou metaversos, em minúsculas e no plural, como prefiro, está uma necessidade do ser humano de exercitar sua imaginação, de escapar dessa realidade brutal em que vivemos, um escapismo dos problemas sociais, financeiros e de saúde que nos cercam. Exploramos isso com diferentes ferramentas desde os princípios da nossa existência enquanto espécie. É o que acontece quando jogamos videogame. Ou quando estamos em uma partida de RPG. Ou quando assistimos concentrados a um filme, uma série ou uma peça de teatro. Ou quando lemos uma história incrível em um livro. Ou mesmo quando sonhamos.
A história da humanidade sempre envolveu a construção de metaversos mentais, analógicos ou, mais recentemente, digitais. Resta ver como vamos lidar com esse novo capítulo em nossa eterna relação com a imaginação, agora sob a influência das big techs.