A conectividade como um direito humano, bandeira levantada há bastante tempo por ativistas e ONGs diversas, virou pauta também da indústria móvel na edição deste ano do Mobile World Congress (MWC 2023), em Barcelona. Além de o diretor geral da GSMA, Mats Granryd, ter destacado no painel de abertura do evento que há 3,6 bilhões de pessoas sem conexão à Internet móvel no mundo, o termo “usage gap”está estampado nas paredes de todo o centro de convenções, para lembrar os participantes da existência e da importância desse problema. Como parte da agenda oficial da conferência foi realizado nesta terça-feira, 27, o painel intitulado “A conectividade será um direito humano?”.

Nesse painel, o Chief Digital Officer do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Robert Opp, lembrou que a falta de conectividade é mais grave entre as mulheres e entre as pessoas que vivem em áreas rurais.

“Sem conexão você fica mais vulnerável. Vimos isso na pandemia. Ali entendemos a importância da conectividade. Não dá mais para ignorar isso. Seja para acessar educação, telemedicina, ou serviços financeiros: é crítico ter conectividade”, comentou Opp.

“Na América Latina, a cobertura da rede móvel alcança 94% da população. Mas 34% não acessam a Internet móvel. O problema não é a cobertura, mas o preço e o letramento digital”, avalia o CEO do grupo Millicom, Maurício Ramos. O executivo aproveitou para criticar os altos impostos e custos regulatórios que incidem sobre o setor de telecom e a utilização desse dinheiro para outros fins que não a universalização da conectividade.

Christopher Fabian, responsável pelo projeto Giga da Unicef, não tem dúvidas de que a conectividade deveria ser um direito humano. “Tem gente que deixa de comer para pagar pela conexão”, afirmou.

O moderador do painel, Mohammad Chowdhury, CEO e fundador da Long Street Advisors, relembrou os números de desconectados no mundo, divididos entre 400 milhões que vivem em locais sem cobertura móvel e 3,2 bilhões em áreas com acesso ao serviço mas sem condições financeiras para a contratação. Ele destacou que mesmo em países desenvolvidos há pessoas sem acesso, às vezes por causa de catástrofes naturais, mas também por falta de cobertura ou de condições financeiras.

Na Inglaterra, 6% das residências não têm banda larga, informou Yoon Chang, representante da Ofcom, órgão regulador britânico. Mas ela ressaltou que a maioria dessas casas está desconectada não por dificuldade financeira, mas porque as pessoas não querem se conectar, em geral por falta de habilidades digitais.

 

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