O 5G foi escolhido como a primeira tecnologia para ser explorada pelo Consórcio de Inovação em Saúde, uma parceria entre o InovaHC, o núcleo de inovação do Hospital das Clínicas (HC), Insper e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Formalizado nesta terça-feira, 28, o consórcio terá como projeto piloto a realização de exames de ressonância e tomografia operados à distância.
“Sabemos que existem áreas no Brasil em que há equipamentos para diagnóstico que funcionam só uma parte do dia porque não existe equipe para operar. Essa operação à distância poderia transformar isso”, contou Marco Bego, diretor do InovaHC, destacando que o 5G não necessita de cabeamento e instalações onerosas dentro do hospital para a realização do exame, apenas um equipamento portátil que se conecte à rede.
A parceria pretende integrar as experiências de um hospital público, um hospital privado e das áreas de engenharia e negócios de uma instituição de ensino para o desenvolvimento de soluções tecnológicas que resolvam problemas da saúde. O projeto terá cinco áreas estratégicas: capacitação e pesquisa em gestão hospitalar; treinamento para o uso de novas ferramentas; conectividade; economia da saúde; inteligência de dados; e bioengenharia.
5G
Para a primeira ação, o HC vai aproveitar sua experiência com o OpenCare 5G, seu projeto de rede privativa 5G, que teve como prova de conceito a realização de exame de ultrassom à distância. O consórcio terá a Claro como parceira, porém a rede privativa poderá ser utilizada onde não houver rede pública disponível. Ela possui arquitetura aberta OpenRAN, em frequência de 3,5 GHz, com banda de 100 MHz.
“Tudo é público aqui, não queremos ganhar. É oferecer isso para a sociedade. É muito importante reforçar toda a parte de conectividade que o 5G traz, conseguimos levar para regiões distantes”, afirmou Carolina da Costa, diretora-executiva de educação, pesquisa, inovação e saúde digital do Hospital Oswaldo Cruz, no evento de formalização do consórcio. Os resultados alcançados com o projeto serão levados para a rede pública de saúde brasileira. Ela ressaltou que o objetivo é que o consórcio agregue outras instituições de saúde.
“Com a chegada do 5G, muitas possibilidades começam a ser desbloqueadas, que até então não conseguíamos fazer, porque a conectividade não nos permitia. Falar que é possível é uma coisa, mas quando você faz um caso de uso e mostra para a sociedade que aquilo é possível e quais são os ganhos, é totalmente diferente. Essa era a ideia, de começarmos por coisas que pudéssemos realmente mostrar, no final, o que isso traz de benefício ou não. [É necessário] também ser honesto se isso não funcionar e evitar que outros gastem dinheiro com isso”, complementou Bego.
Modelo de negócio
O Insper vai ajudar a desenvolver a área de engenharia do projeto e elaborar um modelo de negócio eficiente. A intenção é colocar em funcionamento até o fim do primeiro semestre de 2023 e apresentar os resultados até o fim deste ano. O consórcio está em conversa com cidades do interior de São Paulo para a participação no projeto piloto, que deve se expandir para mais longe futuramente.
“Isso é o mais importante. Como é que o modelo de negócio vai se sustentar de forma que traga diferença mesmo e que aquilo faça sentido – ou de repente está se perdendo muito dinheiro, nem se sabe”, diz Bego. “Nós podemos fazer tecnologicamente, é possível, já sabemos. Mas isso é sustentável? Vale a pena também na área privada? A ideia é tratar isso agora como um projeto de impacto e não só um projeto tecnológico.”
Se os resultados forem positivos, a intenção é expandir o uso da tecnologia para outras cidades por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Todo conhecimento gerado será de domínio público. Entre outras questões de economia da saúde, o projeto piloto também vai avaliar qual será a forma de implementação mais eficiente. O 4G não está fora de cogitação.
“Veremos isso agora, até quanto precisamos do 5G, de fato. Ou se dá para rodar nas duas tecnologias. Não sei se eu tenho os ganhos adicionais 5G. Essa é a ideia até para mostrar economicidade das duas opções. Que vale a pena, temos uma boa ideia que sim, mas vale a pena para onde? Será que aqui em São Paulo ou só para uma cidade mais distante? Ou não, só inverso? É isso que queremos testar agora.”
OpenCare 5G
Sobre a primeira fase do OpenCare 5G, que teve início em setembro de 2022, Bego diz que houve sucesso, na questão da tecnologia. A latência baixa e a velocidade necessárias para a realização do exame de ultrassom à distância foram alcançadas, o que era o objetivo inicial do projeto do HC.
“Agora, estamos preparando a segunda fase, para realmente começar a ir para a parte médica. Conseguimos provar o que gostaríamos, na rede privativa. Estamos numa segunda fase, que é estruturar o modelo de negócio, de como essa rede deve funcionar, e também a parte médica, que é realmente sair das fronteiras do laboratório para prover para a população”, comenta.