A OpenWallet Foundation (OWF) deve aceitar contribuições para os códigos-fonte abertos em até dois meses e espera lançar os seus primeiros módulos com códigos abertos no final de 2023. Em conversa recente com o Mobile Time, Drummond Reed, diretor de trust services da Gen, uma das empresas que colaboram para o consórcio internacional, afirmou que é cedo para prever quando terá os seus primeiros módulos para lançamentos comerciais.
Apresentada em fevereiro deste ano, a OWF uniu 17 empresas e 20 entidades para desenvolver padrões abertos, interoperáveis e seguros para carteiras digitais. Os principais apoiadores da investida são Accenture, Futurewei, Visa, Gen (controladora de Avast e Norton) e a Linux Foundation Europe que hospeda a ação. Também participam companhias como American Express, Deutsche Telekom e Swisscom, além de organizações como Trust Over IP Foundation, Universitat Rovira i Virgil e Digital Dollar Project.
Vale dizer que este é o segundo grande projeto da Linux Foundation. O outro é o Project Sylva, que está desenvolvendo uma estrutura de cloud em telecomunicações com código aberto desde novembro de 2022.
Objetivos
De acordo com o head da Gen, o intuito do grupo não é criar carteiras e credenciais, mas um código aberto que será a base para o desenvolvimento de wallets por organizações, governos e empresas: “As carteiras (criadas com o código da OWF) buscarão paridade de recursos com as melhores wallets disponíveis e interoperabilidade com grandes projetos transfronteiriços, como a carteira de identidade digital da União Europeia”, afirmou Reed, em resposta por e-mail.
O executivo explicou ainda que, uma vez desenvolvido, o código-aberto da OWF pode ser usado por “qualquer pessoa e em qualquer lugar” que queira construir ou integrar-se a uma carteira digital interoperável de padrão aberto. Algo que pode gerar casos de uso para setores que exigem credenciais digitais, assinaturas digitais, pagamentos digitais ou outras interações digitais confiáveis. Entre as áreas citadas que podem desenvolver wallets a partir do código aberto estão: finanças; seguros; saúde; educação; varejo; turismo; governo; jogos eletrônicos.
“Uma das razões pelas quais a OWF foi formada é que as carteiras digitais de padrão aberto serão a principal ferramenta que os consumidores usarão para aproveitar ao máximo o DeFi e as iniciativas regulatórias como o Open Banking”, explicou Reed. “Em uma analogia muito literal podemos dizer: assim como levar as credenciais em uma carteira física para tirar proveito do nosso sistema financeiro hoje, você não irá muito longe no sistema bancário ou de crédito sem alguma forma de credencial de identidade emitida pelo governo. Uma carteira digital será onde você guardará os identificadores digitais, chaves e credenciais que vão permitir participação com segurança, privacidade e confiança no mundo das finanças descentralizadas”, completou.
Convocatória
No white paper da Linux Foundation ‘Why the world needs as open source digital wallet right now’ (na tradução livre para o português ‘por que o mundo precisa de uma carteira digital de código aberto agora’), o pesquisador Gordon Graham afirma que há uma série de problemas com carteiras digitais existentes, como lock-in do fornecedor de tecnologia, falta de interoperabilidade e modelos de negócios intrusivos. Por esses motivos, o autor faz um chamamento para trabalho conjunto entre empresas e organizações.
“As carteiras digitais estão se tornando a interface digital de nossas vidas. Mas as wallets estão em estágio inicial na atualidade, são incompatíveis e sem padrão. Essa é a hora para todos (empresas, organizações e governo) conversarem com intuito de criar um motor central de adoção de padrões com interoperabilidade embarcada para ajudar o nosso mundo digital a florescer”, escreveu o pesquisador.
“A nossa economia e o progresso social estão indo para trás com as limitações das carteiras digitais atuais, em especial com a falta de interoperabilidade. Ao mesmo tempo, os países e muitos grupos estão correndo para criar suas próprias wallets. Por isso precisamos de carteiras digitais seguras e abertas para qualquer pessoa usar em qualquer dispositivo, sistema operacional, com quaisquer moedas e idiomas”, concluiu.
Estruturação
Atualmente, a OWF está na etapa de criação de sua estrutura de operação e de governança. Mas alguns trabalhos já estão em curso, como o grupo de trabalho Governance Stack que atua na definição de padrões abertos de W3C, ISO, Decentralized Identity Foundation e da Trust Over IP (ToIP) Foundation para interoperabilidade técnica. Posteriormente esse grupo deve avançar para a governança na interoperabilidade, com intuito de garantir o funcionamento de uma carteira entre países ou setores diferentes.
Segundo Reed, a Gen pretende atuar em todas as áreas de criação da OWF: requisitos; arquitetura; código; e testes de interoperabilidade.