O conceito de network slicing (fatiamento de rede) está intimamente ligado ao padrão 5G Standalone, mas as operadoras brasileiras ainda precisam adequar essas infraestruturas, segundo o diretor de soluções de redes da Ericsson, Paulo Bernardocki. Na visão dele (e da própria fornecedora), contudo, não há obstáculos regulatórios para a implantação, o que pode trazer novas oportunidades de receitas.
“Quando se olha a capacidade atual das operadoras brasileiras, o que falta para o network slicing é a adaptação de sistemas de orquestração e billing para ter a flexibilidade de comissionar os serviços e monetizar”, argumentou Bernardocki durante painel no segundo dia do Fórum de Operadoras Inovadoras (FOI 2023), evento organizado por Mobile Time e Teletime nesta quinta-feira, 23, em São Paulo.
Para o representante da fornecedora sueca, já há sinalizações do regulador de que a utilização da tecnologia não fere as regras de neutralidade de rede do Marco Civil da Internet. “Já tivemos diversas declarações [da Anatel] com a possibilidade de fazer isso. Esse tráfego está circulando dentro da rede da operadora”, declara. Ou seja: se encaixaria na diferenciação para fins técnicos, pelo menos inicialmente. Naturalmente, seria necessário também que não houvesse deterioração do tráfego “comum” para levar à necessidade de sempre buscar a rede fatiada.
Bernardocki citou diversos casos de uso da Ericsson com operadoras em outros países. Em Taiwan, com a SmartOne, há um “botão de acelerador”, que permite, mediante pagamento adicional, um boost no throughput da rede por uma hora conforme a necessidade do usuário. Na Alemanha, dois casos: na Deutsche Telekom, em que se pode obter o fatiamento para assegurar a qualidade de serviço (QoS) em aplicação corporativa; e na Vodafone, que usa a camada para assegurar uplink em transmissão de TV. A Telefónica na Espanha usa a tecnologia com a fornecedora para entregar experiência de realidade aumentada nos jogos de futebol da La Liga.
Redes privativas
A visão da Ericsson é que o network slicing pode ser uma alternativa para oferecer uma rede privativa dentro da rede pública. Por isso, Paulo Bernardocki chama o recurso de “canivete suíço”. “É a mesma rede construída para atender às necessidades do consumidor genérico, mas trazendo características de rede privada, e com cobertura muito maior. O slicing poderia servir para uma rede de Internet das Coisas, por exemplo”, descreve.
“É uma maneira eficiente de se construir uma rede privada. Não cobre todas as necessidades de uma rede privada normal, mas não deixa de ser uma alternativa muito boa”, argumenta. Ele cita como exemplo a oferta de serviço 5G para acesso fixo-móvel (FWA), limitando a utilização da rede residencial fixa na ERB para não afetar a capacidade disponível para os usuários móveis.