Fornecedores de rede neutra estão começando a ver os casos de uso justificando os modelos de negócio. Por isso mesmo, o Brasil vem se tornando um celeiro para essas empresas, que aproveitam a proliferação do mercado de prestadoras de pequeno porte (PPPs) e a pressão nas margens do setor de telecomunicações. Apesar de concorrentes, a FiBrasil, a American Tower e a I-Systems mostraram durante o Fórum de Operadoras Inovadoras (FOI 2023) nesta quinta, 23, que há esse entendimento comum de oportunidades.

“Hoje podemos falar que deu certo. Do ponto de vista dos clientes que colocamos para dentro, todos eles estão satisfeitos com o nível de serviço”, declarou o CCMO da FiBrasil, Alex Jucius, citando não apenas a Sky Brasil, mas também a própria Megatelecom, que estava presente no painel. O caso mais recente é o da operadora XPlay, do Rio Grande do Sul, que tem foco no segmento de empresas de segurança residencial e passou a utilizar a rede neutra para oferecer os serviços.

Mas não significa que foi tarefa simples: o executivo lembra que há complexidades, com pontos de atrito em todos os níveis – por exemplo, a “neutralização” da infraestrutura em cidades com rede legada da Vivo, operadora originária (e cliente âncora). Jucius diz que a integração também é um desafio, e por isso a FiBrasil já saiu com acordo com dois dos maiores sistemas ERP do mercado pré-integrados. “O fato de ser preconectorizado facilita demais também. Ficamos com o papel de síndico de condomínio. Tem que ter inteligência, inventário, tem que ser muito bom para que [o técnico de campo] não desligue outro tenant [inquilino].”

Diretor sênior de fibra e desenvolvimento de negócios da American Tower, Daniel Laper argumenta que o mercado brasileiro está demonstrando a viabilidade do negócio. A companhia foi a primeira a oferecer o modelo de rede neutra, inicialmente para Internet das Coisas em 2018, e com fibra a partir do final de 2019. Ele diz que havia pouca referência no mundo, mas que adotou a estratégia de priorizar uma rede que pudesse ser compartilhada. “Passamos por todas as etapas”, coloca. A própria integração, diz, já está mais pacificada com a utilização de padrões do TMFórum.

Atualmente, Laper vê que há até alguma parceria entre as empresas de rede neutra na evangelização do modelo. “Tem até um certo nível bom de cooperação, mesmo que implícita”, diz, referindo-se à experiência de clientes que utilizam mais de um fornecedor da infraestrutura. “De forma natural, a gente vai se ajudando, vamos ambientando o mercado.”

Interesse do mercado

CEO da I-Systems, Daniel Cardoso avalia que o maior desafio será quando precisar “encher as redes”, ajudando os clientes âncora a venderem mais e continuar a usufruir da rede neutra. “Isso vai desde garantir que a nossa parte está feita, com a qualidade esperada, e o prometido está sendo entregue ou até ultrapassado”, diz. O executivo coloca que são esses tenants que acabam indicando a expansão da rede, mas reforça que é uma possibilidade também receber demandas de novos clientes âncoras.

“Estamos neste momento de construção e transformação do mercado e vemos com muitos bons olhos o interesse de clientes de fazer isso acontecer junto”, afirma Cardoso. A empresa, que nasceu da separação da infraestrutura da TIM, começou com a visão de “aproveitar o potencial de poder trazer investidores” e direcionar o Capex. “Ela foi vendida majoritariamente para a IHS e, com esse DNA de infraestrutura compartilhada, traz muito a visão de neutralidade com esse mandato de dar acesso à infraestrutura – não só crescer, mas dar acesso de forma neutra e isonômica para os potenciais clientes.”

 

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