O 4G está finalmente se tornando uma alternativa viável para a oferta de banda larga fixa sem fio (FWA, na sigla em inglês) por ISPs no Brasil graças ao barateamento dos equipamentos de rede. É o que apontam fontes entre fabricantes e provedores ouvidos por Mobile Time. Fabricantes relatam que a demanda tem aumentado especialmente por parte de provedores em regiões remotas, onde a fibra não chegou e onde falta cobertura móvel das operadoras tradicionais (Claro, Vivo e TIM).
“O 4G agora está barato por causa da transição de tecnologia para o 5G, o que acelera a queda de preço da tecnologia anterior”, explica Ricardo Pianta, CEO da Venko Networks.”O primeiro bolsão de demanda está localizado nas áreas mais remotas do País, nos estados do Pará, Amazonas, Rondônia e Roraima. São áreas em que os municípios são muito extensos e desguarnecidos de infraestrutura”, completa o executivo.
“Vemos oportunidade para FWA onde há certa densidade populacional e o entroncamento de fibra já chegou, para evitar os custos de lançamento final (de fibra)”, comenta Rodrigo Santos, vice-presidente de inovação da WebSIA.
Pianta lembra que muitos provedores estão acostumados a trabalhar com tecnologias de conectividade sem fio, especialmente rádios microondas. “A partir de um determinado volume e distribuição de assinantes começa a ser economicamente interessante migrar do rádio para LTE”, compara. E acrescenta uma vantagem do LTE sobre o rádio: “Quando se instala rádio, o ISP tem que ir na casa do cliente posicionar a antena, viajando vários quilômetros em estradas complicadas etc. Com 4G ele não precisa ir até a casa do cliente. É o cliente que vai até o ISP, retira o equipamento, coloca o chip e instala. É um serviço de balcão”, descreve.
Uma vantagem relatada por provedores é que os clientes em áreas remotas pagam um tíquete médio mais alto, dificilmente cancelam o serviço e não trocam de provedor, até porque falta concorrência. O que é vendido, na prática, não é um plano baseado em velocidade, mas a conectividade em si em uma região onde até então não havia qualquer opção, relata Ricardo Pence, vice-presidente de vendas para América Latina, Portugal e Espanha da Baicells, outra fabricante que tem conseguido baratear os preços dos equipamentos para FWA 4G no Brasil.
A Venko Networks distribui no País os equipamentos da norte-americana BTI Wireless. No momento, 10 provedores estão experimentando FWA 4G com equipamentos instalados pela Venko. A expectativa é chegar a 100 ERBs até o final do ano, diz Pianti. A WebSIA, por sua vez, é a revendedora oficial no Brasil da dinamarquesa MiWire, que desenvolveu um CPE com antena direcional comandada por software para apontar automaticamente para a ERB mais próxima – o equipamento opera com frequências de 700 MHz a 3 GHz e em breve ganhará uma versão 5G. Sua expectativa é vender de 100 mil a 200 mil CPEs em quatro anos no Brasil.
Com a palavra, os ISPs
Estima-se que hoje haja cerca de 50 provedores oferecendo banda larga com rede LTE (4G) na faixa de 2,5 GHz, diz Pence, da Baicells. Trata-se de menos de um terço dos cerca de 180 que compraram licenças no leilão de sobras dessa frequência, em 2015. De lá para cá, muitos acabaram devolvendo o espectro por falta de uso – em alguns casos, o custo dos equipamentos inviabilizou os projetos. Mas agora, com a chegada do 5G no Brasil, os preços dos equipamentos de rede 4G estão caindo e trazendo de volta o interesse pelo FWA com essa tecnologia entre os ISPs.
“Começamos a oferecer 4G LTE em 2019. Demoramos um pouco devido à falta de um fabricante confiável, com produtos sólidos no mercado. Essa foi a dificuldade de vários provedores que até hoje não implementaram a rede”, relembra Alisson Giuliani, diretor administrativo da Plugnet, provedor da cidade de São Sepé/RS, que optou por equipamentos da Baicells.
A Plugnet instalou seis ERBs LTE para atender a área rural de São Sepé. No momento, tem 420 assinantes com a tecnologia, de um total de 6 mil clientes – na área urbana, ela utiliza fibra ótica para a última milha.
“Usamos o 4G LTE exclusivamente na área rural. Não concorre com fibra, pois são tecnologias diferentes e de qualidades diferentes. 4G é para o cliente do interior onde não tem opção de Internet e nem sinal de celular, mas que precisa de conectividade. Hoje o homem do campo precisa de Internet para tudo: para ter a previsão do tempo, para emitir nota fiscal, para comunicação etc”, relata Giuliani, da Plugnet.
A estabilidade, a velocidade e o alcance do sinal são as principais vantagens do LTE sobre as redes de rádio em frequências não licenciadas, aponta o executivo da Plugnet. O provedor conseguiu atender um cliente a 15 Km de distância de uma ERB. E, dependendo da distância, a velocidade chega a 40 Mbps. A Plugnet vende o LTE sem franquia de dados, o que é uma vantagem sobre a conectividade por satélite. Os planos são por velocidade: 10, 20 ou 30 Mbps.
A Ertel, que atua na região de Dourados/MS, é outro ISP que tem utilizado LTE para oferecer conectividade em áreas rurais, especialmente sítios e pequenas propriedades. Começou a implementação em 2019 e conta hoje com quatro ERBs em 2,5 GHz atendendo a aproximadamente 300 clientes. O alcance do sinal é destacado como a maior vantagem dessa tecnologia: a Ertel tem um assinante localizado a 28 Km de distância de uma ERB, por exemplo.
Entretanto, a expansão da rede LTE da Ertel é lenta em razão do alto custo dos CPEs, reclama Maurílio Parangaba, diretor do ISP. “Prometeram CPEs a um preço compatível com a realidade brasileira, mas estão custando mais de R$ 1 mil. É muito caro”, se queixa.
A tendência é que os preços dos CPEs também caiam, conforme aumenta a demanda. Esta pode crescer bastante caso outros ISPs que possuem licença para operar em 2,5 GHz sigam o mesmo caminho de Plugnet e Ertel, montando suas próprias redes 4G. Essa tecnologia demonstra ser uma opção economicamente interessante para áreas remotas que carecem de fibra e cobertura celular mas que tenham uma certa quantidade de assinantes em potencial dentro do raio de alcance de uma ERB. Para áreas com maior densidade demográfica, a fibra e o rádio atendem bem, e para aquelas mais isoladas, o satélite cumpre essa função.