A União Química começou a introduzir nas embalagens dos seus medicamentos um QR code em que é possível acessar um menu interativo com diferentes tipos de mídia para ler, ouvir ou ver informações sobre a bula do remédio. São textos, vídeos e áudio-bulas, além de a possibilidade de ligar para o SAC da empresa ao clicar na opção e obter informações sobre descarte das embalagens.
No caso dos vídeos, seus conteúdos são gerados por meio de inteligência artificial e são apresentados pelo avatar Laura. “A gente chegou a fazer um benchmarking e pensamos em contratar um estúdio para fazer os vídeos – tinham algumas empresas no mercado fazendo vídeos em estúdios já. Mas pagava-se muito, então, criamos um pacote de inovação, entre elas as vídeo-bulas geradas por IA”, explica Guilhermo Fragelli, diretor de Tecnologia da Informação, da União Química, em conversa com Mobile Time.
Outra ferramenta que faz parte do pacote de inovação são as bulas dentro da Alexa, que permite uma acessibilidade maior para pessoas com alguma dificuldade para ler, seja por limitação visual ou de compreensão de leitura. Com a skill da União Indústria, a pessoa deve pedir: “Alexa abrir bulas da União Química” e a assistente virtual vai perguntar para qual produto. Em seguida, o usuário deve falar o nome do medicamento e a Alexa questionará sobre o que se quer saber a respeito daquele remédio – que pode ser sobre princípio ativo, contraindicações, modo de usar, de conservação, entre outras informações presentes em uma bula. Disponível desde setembro do ano passado, atualmente a assistente virtual tem uma média de 15 acessos por dia.
O contexto e a Alexa
O QR code e a Alexa foram recursos que surgiram depois que o Congresso aprovou e o então presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionou a lei que criou a bula digital, em maio de 2022. Neste caso, as embalagens dos medicamentos deveriam vir com um código QR e com uma versão em texto, áudio ou vídeo da bula para o cliente acessar pelo celular.
“Nessa época muitas empresas começaram a trabalhar com o PDF, ou seja, o usuário acessava o QR code e aparecia a versão da bula em PDF. E, nós, dentro da área de TI começamos a pensar em como gerar valor agregado, sendo um diferencial no mercado. Há também, nesse trabalho, uma vertente ESG. Estamos sempre tentando conectar nossos projetos de inovação que permitam acessibilidade. Percebemos que não havia ninguém no mercado utilizando a assistente virtual”, lembra Fragelli.
O time de inovação digital da União Química saiu do zero para desenvolver a solução na Alexa. Contataram a Amazon, estudaram, compraram uma Echo Dot e, depois de um mês e meio, conseguiram fazer a ativação para a demonstração. Em seguida, para fazer o pitch para o presidente da companhia, Fragelli e sua equipe inseriram dados de uma bula. Foi um sucesso.
Depois do projeto aprovado, o time precisou construir o ambiente de atualização das bulas e de leitura. Para isso, desenvolveram uma aplicação web em que foram cadastradas as fonéticas dos produtos e que vincula essas informações aos dados da bula. Uma vez o ambiente construído, foram chamadas as áreas donas das informações, para preencher os dados.
Além de um mês e meio para o processo de construção do projeto – com estudo, conhecimento da tecnologia e desenvolvimento – foram necessários mais dois meses e meio para inserir todos os dados. “Em paralelo a isso, desenvolvemos o QR code e as vídeo-bulas, além de uma mudança na arte desses produtos, que agora precisam ter um espaço para o código QR. Isso tudo leva um tempo para que o estoque antigo se esgote na farmácia e cheguem os novos produtos. Isso está começando a acontecer a partir de agora”, explica Fragelli.
Inteligência artificial
A União Química possui cerca de 8 mil colaboradores e é uma das maiores operações farmacêuticas do Brasil. Ao todo, são nove indústrias no País e uma no exterior. Tudo conectado de uma forma padronizada. Além do parque fabril, a empresa faz a gestão de unidades de distribuição
No momento, a União Química está investindo em uma série de projetos que vão além da bula. Um deles é em inteligência artificial voltada aos negócios e geração de insights. Atualmente, a IA é usada para: previsão de demanda, apoio na previsão de mercado; análise de crédito, com os clientes parceiros; e uma melhor roteirização da logística de transporte. “Estamos tentando massificar seu uso dentro do grupo. Dos cerca de 8 mil funcionários, metade usa um computador. Por isso, estamos pensando em usar a IA para otimização de rotinas, trabalhos operacionais para o ganho de produtividade, principalmente. Assim, neste ano, além de novas frentes, vamos investir no aculturamento do uso de novas tecnologias para que a gente continue com o movimento de transformação digital dentro da companhia”, explica o diretor de TI.
A IA utilizada para essas soluções é de parceiros e está conectada às bases da União Química. “Mas estamos desenvolvendo a nossa inteligência artificial, em cima do nosso big data”, conta o executivo.
Canais de atendimento
A União Química também inicia os estudos do uso de bots nos canais de atendimento, de modo que sejam responsáveis por uma triagem inicial. “Queremos que as pessoas que acessam os nossos canais passem primeiro pela inteligência artificial e pode ou não haver transbordo para o atendimento humano. Isso é algo que ainda está em estudo”, explica Fragelli.
E, para o início do segundo semestre, a empresa vai introduzir os robôs no WhatsApp, canal responsável pelo atendimento aos parceiros. Entre as funcionalidades que poderão ser acessadas no app de mensageria, Fragelli prevê geração de boletos e tracking do pedido, por exemplo.