Os principais líderes de Magazine Luiza e Mercado Livre apresentaram visões diferentes de como veem o futuro do setor comercial no País. Durante o segundo dia do Fórum E-Commerce Brasil 2023 nesta quarta-feira, 26, Luiza Trajano, presidente do conselho do Magalu, defendeu a queda da taxa de juros do Banco Central (Selic) e dos bancos para aliviar o setor. Por outro lado, Stelleo Tolda, cofundador e advisor do MeLi, apontou o tamanho do Estado como principal entrave do comércio.
Luiza Trajano, Magazine Luiza
“Temos que lutar agora para baixar os juros (taxa Selic). A gente tem que lutar junto. Me ajudem, pois esse juro [alto] não ajuda a vender de jeito nenhum. Concordam comigo ou não”, questionou Trajano à plateia do evento, que respondeu com um sonoro ‘sim’.
“Ninguém vai comprar um juro de cartão a 20%. E isso está atrapalhando a pequena e a média [empresa]. No Magazine [Luiza], nós estamos bem. Temos capital de giro. Mas o pequeno e o médio não aguentam”, completou a executiva, ao dizer que uma das formas para reaquecer as vendas foi fazer campanha com opção de pagamentos em até 24 vezes e juros baixos.
Stelleo Tolda, Mercado Livre
“Um aspecto negativo tem a ver com o tamanho do Estado brasileiro. Ele é grande e não quer diminuir. Todos nós – que pagamos impostos – sustentamos o estado grande. E isso é ruim. Afeta o lado macroeconômico. O Brasil está em um momento econômico ainda difícil, mas com perspectiva de melhoras. O PIB vai crescer mais que o esperado, a inflação está diminuindo, há expectativa de que os juros vão baixar. Tudo isso é bom e boa notícia. Apesar do tamanho do Estado,” afirmou Tolda, em outro momento no evento.
Mas tirando esse “lado negativo”, Tolda afirmou que enxerga “oportunidades no Brasil”. Inclusive no crescimento de oferta e democratização via Mercado Pago, além do avanço do Mercado Livre em novas linhas de negócios.
Análise
Embora os dois líderes afirmem que seus posicionamento não possuem relação direta com política, é importante lembrar que há uma divisão nos dois temas: a direita, que defende o enxugamento da máquina pública e menor intervenção do Estado na economia; e a esquerda, que luta pelo bem-estar social por meio de intervenções e políticas públicas (um Estado mais expansivo).
O estado mínimo era um dos focos principais da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, de extrema-direita. Algo que foi amplamente refutado no último ano de mandato com políticas sociais visando a reeleição. Tais políticas geraram um furo no teto de aproximadamente R$ 200 bilhões e que teve como principal propulsor a PEC Kamikaze de R$ 41 bilhões, que aumentou políticas públicas como o Auxílio Brasil, Vale-Gás e deu um voucher mensal de R$ 1 mil para taxistas e caminhoneiros.
Já a redução da principal taxa de juros defendida por Trajano, é um dos pontos de crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua equipe econômica contra o Banco Central. Atualmente em 13,75%, a taxa Selic é gerenciada pelo BC e seu presidente Roberto Campos Netto, escolhido por Bolsonaro e Paulo Guedes.