Em 2008, o Google chegou a considerar a contratação ou aquisição de uma empresa, Space Data Corp., que enviava balões com pequenas estações rádiobase (ERBs) e ficavam a cerca de 32 km de altitude. Aideia era fornecer conectividade para os caminhoneiros e empresas de petróleo no sul dos Estados Unidos. Não foi para frente, mas a big tech começou a se movimentar sobre o assunto, desenvolvendo (não oficialmente) um projeto de maneira inicial, em 2011, incubado no Google X Lab, com uma série de testes no Vale Central da Califórnia.
Em 2013, o projeto foi anunciado oficialmente com o nome Project Loon. Sua missão era fornecer acesso à internet para áreas rurais e remotas, especialmente durante catástrofes naturais.
Os balões do Projeto Loon voavam na estratosfera a cerca de 20 quilômetros de altura, bem acima de aviões, pássaros e dos eventos climáticos. Eles possuíam o tamanho de uma quadra de tênis e carregavam equipamentos de rede móvel alimentados por energia solar. Um grupo de balões espalhados criava uma rede que disponibiliza conexão sem fio em determinada área, ou seja, o funcionamento era semelhante ao das torres terrestres. A maior diferença é que os balões estão em movimento constante. O sistema de navegação funcionava de modo autônomo, supervisionado por operadores, e usava inteligência artificial para se aperfeiçoar.
Loon pelo mundo
A partir dali, a companhia começou a fazer um experimento piloto na Nova Zelândia, onde 30 balões foram lançados em coordenação com a Autoridade de Aviação Civil em Lake Tekapo, na Ilha Sul. Cerca de 50 moradores locais em torno de Christchurch e da região de Canterbury testaram a rede utilizando antenas especiais.
A cidade de Christchurch foi um local de lançamento simbólico, porque alguns residentes ficaram sem acesso às informações online durante semanas após o terremoto de 2011. Na época, a promessa deste projeto era, por meio do balão, poder ajudar locais que eram atingidos por desastres naturais a voltarem a se conectar mais rapidamente.
Após este teste inicial, o Google planejou o envio até 300 balões ao redor do mundo no Paralelo 40 S para prover cobertura para Nova Zelândia, Austrália, Chile e Argentina. Os balões Loon foram usados posteriormente para implantar serviços de emergência em zonas de desastre, como em Porto Rico na época do furacão Maria, em 2017 – que forneceu Internet móvel para mais de 100 mil pessoas –, e no Peru, também em 2017, e em 2019, após um terremoto de magnitude 8.0 na escala Richter.
O primeiro serviço comercial de Internet, em um contexto não-emergencial, foi lançado em 2020 na zona rural do Quênia, com cerca de 35 balões que cobriam uma área de 50 mil quilômetros quadrados. Trata-se especificamente de uma área montanhosa e mais difícil de fornecer serviços.
Além disso, em 2014, o projeto chegou ao Brasil, depois de o ex-ministro das comunicações Paulo Bernardo convidar o Google para fazer testes em algumas regiões do País. Foi a primeira vez que o 4G foi utilizado no Loon, em parceria com a Vivo e a Telebras. Os lançamentos foram feitos no Piauí, nas cidades de Teresina e Campo Maior. A escolha da localidade foi feita por necessidade regional. Em Campo Maior, apesar de haver Internet na área central, não tinha na área rural. A escola Linoca Gayoso Castelo Branco utilizou a conexão do Project Loon durante uma hora para uma aula de Geografia com ferramentas como o Wikipedia e Google Earth.
Alphabet
Em 2015, o Google havia expandido sua estrutura corporativa para a Alphabet. Ao ter uma holding controlando os negócios do grupo, seria possível investir em projetos mais caros. Dessa maneira, um dos executivos, Larry Page, acabou escolhendo o “Projeto Loon” para se dedicar.
A ideia do Loon era espalhar o acesso à Internet usando uma rede de balões de hélio, que flutuavam a 60 mil pés de altura, em parceria com empresas de telecomunicações, que transmitiriam seus serviços LTE para locais de difícil acesso. Um único balão voava na estratosfera e conseguia prover sinal de rede móveis em uma área de cobertura de 11 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 200 vezes a cobertura de uma torre celular.
Em 2018, o Loon foi transformado pela Alphabet em uma empresa solo, com uma estrutura corporativa própria. Desde então, a iniciativa teve alguns episódios notáveis, como a transmissão de sinal de Internet por 1 mil km, em 2018. Em 2020, a companhia começou a operar no Quênia e bateu o recorde de tempo de voo, registrando 312 dias seguidos no ar.
Encerramento
Em 21 de janeiro de 2021, o Google anunciou o cancelamento do projeto alegando questões de viabilidade comercial. “Embora tenhamos encontrado uma série de parceiros dispostos ao longo do caminho, não encontramos uma maneira de reduzir os custos o suficiente para construir um negócio sustentável de longo prazo”, afirmou Alastair Westgarth, executivo que estava no comando da Loon, em uma postagem feita na plataforma Medium.