| Publicado originalmente no Teletime | Na audiência pública que discutiu a destinação da faixa de 6 GHz nesta segunda-feira, 30, na Câmara dos Deputados, as grandes operadoras de telecomunicações apresentaram opiniões a favor da mudança de destinação da faixa no Brasil – com exceção da Oi, favorável ao uso não licenciado do recurso.
Na ocasião, Fabio Andrade, VP de relacionamento institucional da Claro Brasil, disse que hoje 92% dos brasileiros acessam a Internet pelo celular e para 62%, ele é o único meio. Dessa forma, rever a decisão sobre a destinação da faixa de 6 GHz seria chave para a política de ampliação da banda larga móvel no Brasil.
“Como estamos na casa do povo, devemos olhar o País com suas características. Acho que defender outra tese aqui é não olhar para o povo. Acho que é cara de pau defender algo diferente disso”, disse Andrade. Para ele, para ampliar o acesso à Internet para a parte dos brasileiros que não a possuem, será necessário mais espectro para conectar pessoas via redes móveis.
“Parem de olhar para o próprio umbigo e vamos olhar para o Brasil. O uso de tecnologias virtuais, será apenas pelas classes mais altas. A população brasileira acessa a Internet pelo celular. É difícil ver até nos estados mais ricos, pessoas gastando com estes equipamentos de realidade virtual”, disse o VP da Claro.
Já Helton Posseti, representante da Oi, destacou que a faixa de 6 GHz, se usada para o uso não licenciado, poderá oferecer ao usuário velocidades de até 2 Gbps, complementando assim serviços com a tecnologia 5G. “Defendemos a disponibilização total da faixa de 6 GHz para o uso não licenciado. O WiFi é uma tecnologia importante para as redes fixas”, afirmou o representante da Oi, que não atua mais no segmento móvel.
“O Wi-Fi é uma prática de uso dos usuários que desafoga as redes móveis. O que existe é uma complementaridade com o WiFi com a tecnologia 5G. Já que o primeiro é responsável por parte significativa das conexões [no País]”, disse Posseti. Para ele, a destinação da faixa deve estar alinhada com a padronização internacional, e seu uso deve trazer mais benefícios para o cidadão.
A representante da operadora TIM, Camila Monteiro, seguiu no mesmo caminho da operadora Claro e defendeu que a disponibilização deste espectro para a telefonia móvel é a melhor alternativa. “Entendemos que reservar essa parcela para a telefonia vai permitir que tenhamos o 5G demonstrando toda a sua potencialidade e mais investimentos no Brasil na aquisição de espectro de radiofrequências”, afirmou Monteiro.
Já o diretor de Relacionamento Regulatório da Telefônica Vivo, José Gonçalves Neto, entende que destinar a faixa de 6 GHz para a telefonia móvel é um avanço para a evolução do serviço no Brasil. “Ela permite uma interoperabilidade entre as redes. Ela é uma faixa remanescente com boa capacidade de alcance”, destacou.
Larissa Jales, gerente de políticas públicas da GSMA, apresentou estudos da entidade que mostram que o uso do 5G atingirá um pico, e que é preciso um planejamento para as necessidades adicionais. Isso poderia ser feito, por exemplo, com a alocação da faixa de 6 GHz para esses serviços. Além disso, a representante pontuou que mais espectro para o serviço móvel permite o surgimento de outros serviços como o FWA. Larissa Jales também afirmou que os estudos da GSMA mostram que a destinação do acesso integral da faixa de 6 GHz para o WiFi gerou um maior benefício para a sociedade.
Internet
Já entidades que representam big techs apoiam a destinação do uso do 6 GHz para uso não licenciado. Durante a audiência, estiveram presentes a Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net), Associação Latino-Americana de Internet (Alai) e a Information Technology Industry Council (ITI). Essas têm como associados nomes como por exemplo Amazon, Apple, Meta, Google, TikTok, e Microsoft.
O coordenador do comitê jurídico da camara-e.net, Igor Luna, disse que a posição da Anatel “é a decisão mais democrática e compatível com a realidade brasileira”. Ele justificou que o 6 GHz para o uso não licenciado é o caminho mais econômico para democratização da conectividade no País.
O diretor-executivo da Alai, Raúl Echeberría, defendeu a manutenção de alocar integralmente a faixa de 6 GHz para uso não licenciado, citando como exemplos outros países das Américas com posição semelhante à da Anatel, como Canadá, Argentina, Estados Unidos e Colômbia. “O Brasil não está sozinho nesta. Isso tem gerado uma imensa oportunidade de harmonização, coordenação e cooperação em toda a região”, afirmou Echeberría.
“A alocação do espectro para uso de tecnologias não licenciadas pode ajudar o Brasil a se tornar o centro para o desenvolvimento de tecnologias emergentes que dependem da banda larga”, completou Husani Durans, gerente de políticas públicas da ITI.
(Colaborou Danilo Paulo)