O investidor Elon Musk entrou com um processo contra Sam Altman, CEO da OpenAI, e Greg Brockman, presidente do conselho da empresa, na Califórnia. O motivo é por eles desvirtuarem o caminho da companhia e por tomar outro rumo, longe de sua missão principal, ao preferir o lucro no lugar do benefício para a humanidade com o desenvolvimento de sua IA generativa.
Do começo até a saída da OpenAI
A ação civil foi apresentada junto à Corte de São Francisco na última quarta-feira e publicada primeiro pela Bloomberg nesta sexta-feira, 1, e revela detalhes da demissão e readmissão de Sam Altman no comando da OpenAI e até detalhes do investimento feito pela Microsoft.
No documento de 46 páginas, os advogados de Musk contam todo o histórico de criação da OpenAI, uma empresa que nasceu para fazer frente ao avanço do Google em IA, em dezembro de 2015, em uma união entre o investidor, Greg Brockman e o atual CEO da companhia, Altman.
Musk deixou o conselho da companhia em fevereiro de 2018. Alega que doou dinheiro para erguer a OpenAI e alugou um escritório em São Francisco. O motivo da saída foi que a OpenAI teria em seu princípio ser uma organização sem fins lucrativos. Com o passar do tempo, se demonstrou ter comportamento de uma empresa normal, que busca a rentabilidade.
“Ou vocês fazem algo próprio ou continuam com a OpenAI como uma empresa não lucrativa. Eu não vou mais investir na OpenAI enquanto vocês não fizerem um comprometimento de ficar (não lucrativa, ou eu serei apenas um tolo que deu capital para vocês fundarem uma startup”, informou Musk para Altman, Brockman e o então cientista-chefe Ilya Sutskever.
Em 2019, Musk recebeu a informação de que a OpenAI criaria um braço com foco no lucro para crescer, algo que o então investidor rechaçou, mesmo assim, aportou mais dinheiro na empresa. Em setembro de 2020, a empresa firmou o primeiro acordo com a Microsoft e passou a montar uma estrutura corporativa.
Apenas em dinheiro, Elon Musk teria investido US$ 86 milhões na OpenAI entre 2015 e 2019.
Disputa
Mas o rompimento de vez veio com uma série de eventos em 2023 com o lançamento do modelo GPT-4, entre eles:
- O avanço e licenciamento dos modelos do GPT4 acima da capacidade humana, um risco à humanidade;
- A criação de um modelo de negócios com paywall, ou seja, só pode usar por completo e ‘pular o muro’ se pagar;
- O fato de que o GPT-4 continua um segredo e não disponibilizado com código aberto;
- E não há documentos científicos sobre o GPT-4.
“Ao atingir o limiar da IA generativa, que pelo Acordo de Fundação (não lucrativo) deveriam desenvolver a tecnologia em benefício para a humanidade e não para qualquer empresa com fins lucrativos ou lucro pessoal, os réus afastaram-se radicalmente da sua missão”, diz trecho do documento.
Mas a reação mais forte de Musk foi com o acordo com a Microsoft para incluir os produtos e serviços da OpenAI em seus próprios produtos, além da adição da empresa no conselho.
“A Microsoft fará uma fortuna vendendo o GPT-4 para o público, o que não seria possível se a OpenAI – como é obrigada fazer – tivesse disponibilizado a tecnologia ao público gratuitamente”, completa, antes de dedicar um capítulo inteiro do processo à demissão e “poder coercitivo” da Microsoft para reconduzir Altman ao comando da OpenAI.
Novela
Os advogados do investidor então passam a relatar todo o episódio da demissão de Sam Altman e Greg Brockman pelo conselho da OpenAI. Lembram que o conselho da companhia fez uma última tentativa de forçar os dois executivos a disponibilizarem o GPT-4 ao público antes do corte.
Na sequência, o documento revelou a fúria de Satya Nadella, CEO da Microsoft, quando soube da demissão. O líder da big tech – que segundo Musk tem 49% da operação lucrativa da OpenAI em um investimento de US$ 10 bilhões – ficou irritado pelo fato de que não foi avisado das demissões.
Vale lembrar, o valor do acordo da Microsoft e o percentual de compra da companhia foram mantidos em segredo na época do investimento, em janeiro de 2023.
Com isso, Nadella contratou Brock e Altman para a Microsoft e teria orquestrado a saída dos conselheiros da OpenAI com advogados e outros investidores da companhia. O resultado foi o retorno dos dois executivos à companhia e a destituição dos conselheiros em 21 de novembro de 2023.
Pá de cal
Além da ação orquestrada com a Microsoft, Altman e Brockman alteraram o rumo da empresa, que passou a focar completamente no retorno sobre o capital investido de seus sócios:
“Se o novo modelo de negócios da OpenAI for válido, cada US$ 1 aportado por seus investidores, cada investidor recebe de volta US$ 0,50 em redução de impostos (estadual ou federal), portanto, o custo líquido de US$ 1 é US$ 0,50”, algo que segundo o documento, abriria um precedente para cada startup no Vale do Silício usar essa cartilha.
O processo acusa ainda Altman de usar a OpenAI para benefício próprio, uma vez que o executivo está atuando para montar uma empresa de chipsets de IA com o Softbank e Jony Ive (ex-Apple), ao mesmo tempo que possui um investimento pessoal em uma startup de semicondutores da ordem de US$ 51 milhões.
Como contrapartida por essas ações, Musk pede:
- Que a OpenAI coloque sua tecnologia disponível ao público;
- Proíba o uso dos ativos da OpenAI para lucro de Altman, Brockman e da Microsoft;
- Tire a tecnologia da OpenAI do escopo da Microsoft, assim como suas tecnologias futuras;
- Restitua o dinheiro investido na companhia, assim como o dinheiro que Altman e Brockman fizeram uso pessoal;
A OpenAI ainda não se manifestou publicamente sobre o tema.
Musk e IA
Vale dizer que esse é apenas o lado de Elon Musk.
No processo, ele exclui o fato de que foi um dos signatários, em março de 2023, de uma carta pública que pedia uma pausa de seis meses nas pesquisas e no desenvolvimento da IA generativa, devido ao risco à humanidade. Ou seja, ele pedia um freio no desenvolvimento da OpenAI.
Isso ocorreu menos de dois meses após o investimento da Microsoft na OpenAI.
Além disso, Musk criou no mesmo mês que assinou a carta a xAI, uma empresa de inteligência artificial generativa que tem dois produtos:
- O PromptIDE, uma plataforma para engenharia de prompt e pesquisa de interpretabilidade (no original em inglês, interpretability);
- E o Grok, um modelo de IA generativa que tem como objetivo ser um assistente para pessoas com base em dados em tempo real do X (ex-Twitter), a rede social que Musk comprou em 2022 por US$ 44 bilhões.
Imagem principal: Mike Sievert, CEO da T-Mobile com camiseta de sua operadora; Elon Musk, dono e engenheiro-chefe da Tesla com a camiseta “Occupy Mars” (Crédito: T-Mobile/YouTube)
