O mercado cinza de smartphones está crescendo rapidamente no Brasil e já representa 25% do mercado total, podendo chegar a 30% já no começo deste ano, se mantido o seu ritmo de crescimento, informa a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), com base em dados da IDC. Em 2022, cerca de 3 milhões de smartphones foram contrabandeados para o Brasil, número que mais que dobrou em 2023, chegando a 6,2 milhões. A entidade realizou coletiva de imprensa nesta terça-feira, 26, para alertar para o risco de se inviabilizar o mercado oficial no Brasil e culpou os marketplaces online, pois são o principais canais de distribuição dos produtos contrabandeados.
O problema atinge não apenas o Brasil, mas também México, Colômbia e Argentina, conforme noticiado recentemente em matéria especial do Mobile Time Latinoamérica, e destacado pelo presidente da Motorola na região, José Cardoso, em entrevista para o mesmo veículo.
Pelos cálculos da Abinee, o governo federal deixa de arrecadar R$ 4 bilhões por ano em impostos por causa do contrabando de smartphones. Somente o estado de São Paulo perde R$ 1 bilhão de ICMS por ano com isso, estima.
O problema se concentra principalmente nos modelos de gama intermediária, com preços entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil. Aqueles comercializados corretamente chegam a custar 40% a mais que os contrabandeados. Xiaomi, Oppo e realme são apontadas pela Abinee como as marcas mais contrabandeadas para o Brasil.
Com isso, as empresas que fabricam no País estão ameaçadas, pois se trata de uma concorrência desleal, que torna o preço do smartphone produzido no Brasil muito mais caro que aquele contrabandeado. Samsung, Motorola e TCL são algumas com produção nacional. Mas existe um impacto também sobre todo o ecossistema em torno dessas fabricantes, composto por empresas que produzem no Brasil componentes para smartphones, como memórias e carregadores, chamados de componentistas.
“O contrabando ocupa o segundo lugar em termos de market share no Brasil. Isso efetivamente faz com que quem esteja instalado no País comece a avaliar se é viável manter suas instalações aqui, pois a perda de mercado é substancial. Se as autoridades não tomarem medidas mais drásticas, os investimentos feitos no Brasil serão colocados em risco”, avisa o presidente da Abinee, Humberto Barbato.
Paraguai
A esmagadora maioria dos smartphones contrabandeados entram no Brasil por via terrestre, vindos do Paraguai. Isso fica claro ao se analisar os números do país vizinho: o Paraguai importou no ano passado 16,7 milhões de smartphones, quase três vezes mais do que a sua população de 6,7 milhões de habitantes. A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal fazem um trabalho contínuo de investigação e de apreensões, mas se trata de uma tarefa árdua, pois os contrabandistas atuam de maneira pulverizada.
“Quando a polícia apreende 2 mil smartphones contrabandeados, isso é uma gota d’água no oceano perto dos 6 milhões que foram comercializados no ano passado”, compara o presidente da Abinee.
Marketplaces
É através de marketplaces digitais que os smartphones contrabandeados são comercializados para o consumidor final. Segundo Barbato, trata-se de uma prática generalizada, verificada em todos os principais marketplaces.
A entidade cobra que haja uma responsabilidade solidária por parte dos marketplaces. “Imagine se um dono de shopping alugasse uma loja e o lojista vendesse drogas, armas etc. Como dono do shopping, ele tem responsabilidade. Não pode permitir que algo ilegal seja comercializado com um manto de legalidade por estar dentro do seu shopping”, comparou.
A Abinee entende que é necessário criar uma lei para que os marketplaces assumam essa responsabilidade. “Queremos uma nova lei que possa regular a atuação dos marketplaces. A responsabilidade solidária só vai acontecer se houver uma lei que a determine”, concluiu.
Ilustração no alto: Nik Neves