Nesta semana, o Banco Central lançou mais uma funcionalidade do Open Finance, a transferência inteligente, avançando na agenda de entregas do sistema de finanças abertas. A solução permitirá que uma pessoa faça movimentações entre suas contas de maneira programada e automática. A novidade pode atrair mais pessoas ao sistema financeiro aberto, mas, para Boanerges Freire, da consultoria especializada em serviços financeiros Boanerges & Cia, existem dois fatores de naturezas diferentes que impedem o sistema financeiro aberto de avançar: o primeiro é estrutural do próprio BC, que enfrenta as consequências da evasão de funcionários; e a segunda é que há ainda pouco aprofundamento por parte das instituições bancárias de soluções de crédito para os usuários, sejam eles pessoa física ou jurídica.
“É admirável que eles (BC) continuem firmes no mundo do Open Finance, mas há um processo de postergação das agendas. É o que vem acontecendo se olharmos para o histórico recente. E há coisas importantes a serem desenhadas, como o crédito, tanto pelo lado do Pix como crédito acoplado dentro do Open Finance. A agenda fica pressionada pelas dificuldades”, afirma o consultor.
Segundo Freire, as agendas de Pix e Open Finance foram alongadas pela ausência de pessoal para tocar as operações no BC. E, para completar, há uma preocupação com relação ao novo presidente da autoridade monetária, já que o mandato de Roberto Campos Neto acaba no final deste ano. “A preocupação maior é estrutural. Quem será o novo presidente do Banco Central? Já existem sinalizações de que seria alguém da própria diretoria, como o Gabriel Galípolo (atual diretor de Políticas Monetárias do BC) ou Picchetti (Paulo Picchetti, diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos)”, comenta. O consultor espera que seja alguém “combativo” e que “puxe a agenda de inovação” e que “trabalhe a independência financeira do banco”.
“Apesar de todas as críticas, merece elogios o Banco Central mesmo diante das dificuldades todas. Quem não saiu está sobrecarregado, mas mantendo a chama acesa e fazendo a coisa acontecer. É uma luta difícil, mas ainda estão bem. Poderia ser melhor, se tivessem apoio. Tem mais de 10 anos que não há concurso para o BC”, lembra.
Falta de soluções de crédito
A transferência inteligente, assim como outras soluções lançadas recentemente – como agendamento recorrente e Pix automático – fazem parte da fase 3 do Open Finance, ou a fase dos pagamentos. Para Freire, essa parte já está bem assistida, o que falta agora são as soluções de crédito, que são capazes de atrair mais pessoas para o sistema financeiro aberto.
“O Open Finance está longe de ser uma solução relevante para o crédito, tanto por falta de conhecimento dos usuários – há uma deficiência da demanda, poucas informações – quanto do lado da oferta”, comenta. Para o consultor, os bancos ainda não usam profundamente o mecanismo de consentimento para conhecer melhor o perfil do cliente e, com isso, oferecer benefícios consistentes a essa pessoa, como mais parcelamento, taxas menores etc. “O crédito está ainda numa fase muito inicial. A percepção de valor de quem já é usuário do Open Finance é limitada. Fora aqueles que nem sabem direito do que se trata. E, além do mais, os termos ainda estão em inglês. Existem todas essas barreiras a serem superadas pelo Banco Central, pelas instituições financeiras e outras entidades que podem ser entidades de educação financeira”, resume.