A maioria da população brasileira (60%) acha que as plataformas de aplicativo de transporte e de entregas devem garantir todos os direitos trabalhistas a esses trabalhadores. E 72% consideram que essas empresas deveriam ser responsáveis por fornecer os equipamentos de trabalho. Os dados são da Pesquisa nacional sobre a percepção dos brasileiros sobre trabalho por aplicativo, feita por ITS Rio em parceria com o Ipec e foi apresentada nesta quinta-feira, 25.
O estudo também mostrou que 69% dos entrevistados consideram as condições de trabalho ao escolher usar um aplicativo.
“Esse é um dado que me deixa feliz porque mostra que as pessoas estão preocupadas, mas também por que ainda temos tantas pessoas usando essas plataformas?”, questiona Aline Os, fundadora do coletivo Señoritas Courier e uma das integrantes da mesa do GT de regulação do Trabalho por Plataformas e participante da discussão sobre a pesquisa. “E a única resposta que tenho é que não há alternativas. A gente só tem plataformas com as mesmas características: um CEO que busca o lucro sem pensar se isso vai ferir direitos trabalhistas, se isso vai ou não fazer com que as pessoas morram enquanto trabalham e se isso vai ou não levar à judicialização. Se sete a cada dez pessoas estão preocupadas com as condições de trabalho, seria saudável que a gente tivesse alternativas”, responde.
Apesar dos números que apontam uma percepção mais voltada para o trabalhador, a minoria (46%) dos respondentes disse conhecer “muito” (12%) ou “mais ou menos” (34%) do trabalho por aplicativo. E a maioria (52%) respondeu “um pouco” (28%) ou “nada” (25%). 2% não souberam responder.
Ao serem perguntados sobre qual a palavra ou frase que vem à mente quando se fala sobre trabalho por aplicativo, a principal lembrança (15%) foi “transporte”. Outros 13% responderam “agilidade/praticidade” e 5% citaram “emprego”. E o mesmo percentual disse “dinheiro/renda/salário”. Vale dizer aqui que a pergunta era livre, sem alternativas para serem escolhidas.
Ao associar com os tipos de trabalho realizados por aplicativo, 93% responderam “entregadores de comida ou encomendas”; 86% “motoristas”; 53% “programadores de computação”; 40% “profissionais de saúde”; 38% “professores”; 33% “caminhoneiros”; e 31% “empregados domésticos”
Com relação à preocupação com o trabalho por aplicativo, 73% disseram estar “pouco” ou “nada” preocupados e 24% responderam “muito” ou “preocupados”.
63% dos respondentes disseram conhecer alguém que trabalha por aplicativo. Desses, 10% são os próprios entrevistados e 60% alguém próximo ou da sua família. E 37% não conhecem.
“Na academia, a gente fala que existe uma variedade enorme de trabalho por aplicativo. Na União Europeia, existem ótimos estudos mostrando isso. Mas quando a gente olha para o brasileiro, ele entende que entregadores e motoristas são as principais categorias. E isso é relevante porque quando o executivo criou um grupo de trabalho, ele criou duas frentes: motoristas e entregadores. Significa que, de alguma forma, a gente está preocupado com aqueles mercados que são os mais reconhecidos pela população e também aqueles com mais trabalhadores mobilizados por melhores condições de trabalho. E essa é uma boa ideia porque, apesar de haver outros trabalhadores, esses são os mais urgentes de a gente prestar atenção”, avaliou Fábio Stiebel, diretor executivo do ITS Rio, durante a apresentação da pesquisa.
Apenas metade dos respondentes diz conhecer “muito” ou “razoavelmente” o trabalho por aplicativo. “Ou seja, consome mas há informação a ser compreendida”, diz o diretor do ITS. Stiebel lembra que o estudo mostra que há uma percepção de que as empresas devem fazer mais, o governo deve fazer mais e que o trabalhador já está fazendo demais.
A maioria da população (84%) tem a percepção de que o governo deveria estabelecer e fiscalizar regras para o trabalho por aplicativo, e que a empresa deveria garantir todos os direitos trabalhistas aos trabalhadores por aplicativo (60%).
Quando questionados sobre quais direitos os trabalhadores por aplicativos deveriam ter, 88% dos brasileiros acreditam que esses profissionais deveriam saber os critérios que os aplicativos usam para definir os serviços que cada trabalhador vai realizar, assim como ter seguro saúde (87%), aposentadoria (83%), entre outros direitos.
Sob a perspectiva do consumidor, 77% dos entrevistados já usaram um serviço de aplicativo, seja de entrega ou de transporte. Cerca de sete em cada dez brasileiros (69%) consideram as condições de trabalho do trabalhador na escolha de usar um app do tipo. 23% dizem não pensar sobre isso e 9% não responderam.
As pessoas acreditam que o trabalho por aplicativo está “melhorando muito/um pouco” (69%) e 13% acham que está mantendo as mesmas condições de trabalho e outros 13%, piorando pouco/muito.
A pesquisa perguntou também quem é e quem deveria ser o responsável por fornecer aos profissionais os equipamentos necessários para o trabalho. 53% afirmaram que é o trabalhador. Porém, 72% disseram que a empresa deveria ser responsável.
Metodologia
A pesquisa ouviu 2.005 brasileiros, maiores de 18 anos, entre novembro de 2023 e janeiro de 2024, de todas as regiões do Brasil. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para o total da amostra, considerando um nível de confiança de 95%.
Vale dizer ainda que 86% dos entrevistados são usuários de Internet (ou seja, 14% não são) e 19% estão mais à esquerda no campo político, 23% ao centro e 33% mais à direita.