A Identidade Digital Descentralizada será uma realidade em breve no Brasil. Isso porque existe uma forte demanda por parte de diferentes indústrias, que perdem receitas por causa da desconfiança e das fraudes que acontecem no mundo online. Com a IDD é possível comprovar mais facilmente que aquela pessoa é realmente ela e haverá mais segurança nas transações. Para Fernando Marino, gerente do produto iD do CPQD, este será “o ano das grandes iniciativas” e, em 2025, o período em que veremos “importantes casos de uso”.
Entre as verticais interessadas na solução estão varejo, bancos e empresas de telecomunicações. De acordo com Marino, já existem conversas avançadas com uma telco para utilizar a solução Sou iD, do CPQD. Durante o 25º Workshop RNP, que aconteceu nesta semana, na UFF, em Niterói, Marino conversou com este noticiário sobre identidade digital descentralizada e os avanços do Drex – o CPQD participa em um consórcio junto com a TecBan e o Banco da Amazônia para desenvolver soluções de contratos inteligentes.
“Estamos no início da jornada da identidade digital. Ainda precisamos provar todas as vezes quem somos e nossas informações. Começamos uma jornada em que, de fato, vamos ter uma identidade utilizável como no mundo físico. A identidade empodera o indivíduo como trabalhador, consumidor, empreendedor”, disse. Como exemplo de identidade digital, o gerente do CPQD citou o gov.br, onde o brasileiro consegue utilizar uma mesma credencial para acessar diferentes serviços.
O que é IDD?
A identidade digital descentralizada é uma estrutura que armazena, valida e garante o acesso aos dados eletrônicos do utilizador. A IDD funciona como uma credencial armazenada em uma “carteira digital” no celular, e o utilizador tem controle sobre os seus dados pessoais, podendo escolher o que é mostrado e/ou recolhido nas transações.
A blockchain funciona como uma autoridade que elimina intermediários na verificação dos dados e nas transações. A IDD também utiliza criptografia avançada e mecanismos de consenso distribuídos para oferecer níveis elevados de segurança e proteção das informações pessoais.
A identidade digital descentralizada é armazenada em uma rede, como o nome diz, descentralizada, como a blockchain. Com a IDD não é necessária a integração com o emissor dos dados. Ao invés disso, ele (o emissor) confirma as informações emitidas (pelas pessoas). “Mas para isso é necessária a criação de regras, governança de uso que explique como a identidade foi emitida, o que é necessário fazer para ter a identidade e por que ela é confiável”, complementou Marino.
Os interessados em IDD
Marino observa um interesse grande por parte de diferentes indústrias na identidade digital descentralizada, em especial o setor bancário, o varejo e as telecomunicações. “Vejo empresas contratando especialistas em IDD, adquirindo conhecimento e definindo estratégias para a implementação da solução em suas empresas”, disse.
Por outro lado, o gerente do CPQD sente falta de uma discussão mais aprofundada por parte da academia em como adotar a identidade digital descentralizada na realidade brasileira.
Já o governo está numa fase de experimentação. “Vemos PoCs (como o Drex), estudos de entendimento e de planejamento para a adoção. É um caminho sem volta. A Europa, o Canadá e os Estados Unidos estão adotando a identidade descentralizada. É um movimento natural o governo ir para este caminho”, resumiu.
Drex
A identidade digital descentralizada também proporciona outras soluções combinadas com ferramentas poderosas. Entre as novidades que devem aparecer num futuro não muito distante estão as transações sem intermediação ou transações desintermediadas, sem que uma agência ou empresa faça a ponte entre comprador e vendedor. Para isso, existem os estudos e grupos do Drex desenvolvendo uma série de funcionalidades.
O CPQD faz parte de um consórcio, junto com o Banco da Amazônia e a Tecban, para desenvolver soluções relacionadas a contratos inteligentes. Com ele associado à identidade digital descentralizada e ao protocolo de credenciais verificáveis, será possível comprar e vender veículos, imóveis, entre tantos outros produtos de pessoa para pessoa. Essa estrutura digitalizada permitirá a comprovação de que o veículo não possui pendências e que a pessoa compradora não está em uma lista de lavagem de dinheiro, não é terrorista ou outras questões que a impediriam de adquirir o automóvel.
“Os dados pessoais sensíveis – como CPF pu posse de um carro – não podem estar (hospedadas) no Drex porque isso vai contra o princípio de privacidade da LGPD. Nós (pessoas) possuímos as nossas informações e provamos por contrato inteligente”, explicou.
Na prática, essas credenciais são dadas pelos bancos a seus usuários e, numa transação desintermediada, é possível provar com o contrato inteligente do Drex que aquelas pessoas envolvidas estão aptas a formalizar aquela transação, por exemplo. E, no fim, o dinheiro vai para a compradora e o carro vai para o nome do novo dono.
As credenciais verificáveis e o Drex podem ser utilizados em uma série de outras transações desintermediadas, como: compra de imóveis, troca de proprietário de título público federal tokenizado, entre outras.
“Hoje, muitas transações não são realizadas porque as pessoas desconfiam umas das outras. O CPQD acredita bastante no potencial de identidade descentralizada em complemento ao Drex. Então você tem três coisas que são muito importantes, muito poderosas: o próprio Drex, com os contratos inteligentes; o Open Finance; e as próprias credenciais, que vão permitir que a gente use de forma desintermediada e natural”, explicou Marino. “Teremos nossos dados autenticados e isso muda bastante a perspectiva”, completou.
O match entre Celular Seguro e IDD
De acordo com Marino, o celular é o agente que melhor nos representa no mundo digital. Nele, são realizadas transações bancárias, compras e tantas outras decisões feitas e tomadas por meio do smartphone. Porém, apesar de ser o dispositivo mais importante, é também o mais vulnerável. Para tentar amenizar questões de roubo e furto de smartphones, por exemplo, o gerente do CPQD aposta na junção de forças do Celular Seguro com a IDD.
Para Marino, as duas ferramentas vão ajudar em muito na redução do número de fraudes e roubos do mundo físico. Isso porque, uma vez existindo a IDD, o Celular Seguro bloqueia a possibilidade de se usar as credenciais da pessoa. “A identidade descentralizada parte do pressuposto de que só ter os dados não bastam, é preciso ter os dados autenticados por meio de um documento digital e quando os documentos digitais não valem mais (porque o Celular Seguro os bloqueou), não importa se o criminoso tem os dados”, resumiu.