O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) quer ser o coordenador responsável por centralizar os dados do Governo Federal, como aqueles armazenados pela DataPrev, Serpro e DataSUS, para que seja possível se fazer o tratamento, pareamento (homogeneização) a certificação dos dados com o intuito de alcançar a interoperabilidade das informações. De acordo com Marcio Pochmann, presidente da instituição, a ideia é resgatar o papel do órgão e transformá-lo não apenas no instituto de geografia e estatística, mas também de dados.

Em conversa com Mobile Time, Pochmann lembrou que o IBGE, até 1964, era responsável por coordenar as informações produzidas pelo governo a partir do anuário estatístico realizado pela instituição. Quando o órgão se deslocou da presidência para o Ministério do Planejamento, perdeu a capacidade de coordenar os diferentes dados. “Isso fez com que cada ministério criasse o seu próprio sistema de cadastro para poder gerir as informações e suas políticas públicas”, explicou. E, assim, surgiram Serpro, DataPrev, DataSUS e CadÚnico ao longo dos anos.

Mas, agora, esta fragmentação dos dados prejudica a formação de políticas públicas e sua melhor governança. A ideia é que o Siged, órgão do IBGE, seja o coordenador desta integração.

“Os ministérios e as instituições manteriam os seus dados fundamentais para suas políticas específicas e o IBGE faria a certificação dos dados, ou seja, se o dado é ou não verdadeiro, se ele pode ou não ser utilizado, como ele vai ser harmonizado com os diferentes temas, como mortes, pobreza, emprego. É preciso fazer o pareamento, ou seja, homogeneizar os dados e, com isso, se permite a interoperabilidade dos dados”, resumiu em sua participação na abertura da Conferência dos agentes produtores e usuários de dados, que começou nesta segunda-feira, 29, na UERJ, e segue até sexta-feira.

IBGE e parcerias com órgãos do governo federal

Ao longo do dia, o IBGE assinou uma série de acordos de cooperação técnica com UERJ, Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), além dos ministérios da Educação e da Previdência Social para o compartilhamento de dados. A proposta é unir as estatísticas produzidas pela instituição com os dados dos outros setores do governo.

“É um exercício que o IBGE se dispõe a fazer considerando que são bancos de dados distintos, com metodologias e objetivos diferentes. O processo de pareamento é complexo, mas estamos dispostos a demonstrar que temos condições de fazê-los”, disse em conversa com jornalistas.

Aproximação com as big techs

Além de instituições governamentais, o IBGE também pretende se aproximar de empresas para que elas façam o compartilhamento de seus dados coletados. Para isso, já foram iniciadas conversas com as concessionárias de energia elétrica e de telefonia. A ideia é incorporar dados produzidos pelos usuários para a construção de políticas públicas.

“Com informações da telefonia móvel, por exemplo, o governo poderia entender os deslocamentos nas grandes cidades. São dados interessantes para políticas de transporte público ou para o turismo”, exemplificou.

O IBGE iniciou conversas também com as big techs e, não à toa, a conferência contou com a participação de representantes de empresas como Alibaba, Dell, Microsoft e SAP. A ideia é a mesma pensada para as instituições públicas: que essas grandes plataformas compartilhem seus dados com a instituição.

“Nosso objetivo não é nomear as pessoas, mas trabalhar o conjunto dos dados, até porque temos o sigilo estatístico que impede qualquer tipo de possibilidade de passar qualquer informação nomeada, Por isso, convidamos algumas dessas empresas para a conferência. É a primeira vez que vamos fazer esse tipo de diálogo, diga-se de passagem”, explicou.

“O IBGE vai à casa das pessoas, vai às empresas, mas têm setores que não temos acesso ainda. Já somos uma referência do sistema nacional de geociências e estatística, duas áreas tradicionais do IBGE, mas a gente quer entrar nos dados. O IBGE leva 10 anos para fazer o censo demográfico; visita cerca de 70 milhões de domicílios, fazemos a coleta e depois a análise dos dados e somente um ano, dois anos depois divulgamos. É uma demora”, explicou.

“No entanto, nós todos aqui fazemos um censo diário nas redes sociais porque tomamos decisões utilizando essas plataformas. São decisões de música, de roteiro de deslocamento, as mensagens, as contas, as compras, os pagamentos. Existe uma infinidade de decisões que tomamos e elas constituem um censo do País e com base nessas informações é possível termos um horizonte preventivo a respeito das decisões tomadas para o futuro. Com elas (as grandes plataformas), estamos abrindo o diálogo para nos apresentar”, completou Pochmann

 

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