Ainda não é possível afirmar que os celulares dobráveis são uma febre, mas é inegável que os modelos são, no mínimo, interessantes. Se hoje há aparelhos da Honor, LG, Oppo, Samsung, TCL, Xiaomi, Motorola e Huawei disponíveis no mercado é porque uma empresa chinesa, chamada ZTE, apostou nisso. No final de 2017, a fabricante começou a comercializar o Axon M nos Estados Unidos, por US$ 725,00. Dobrado, sua tela era de 5,2 polegadas, enquanto aberto chegava às 6,75 polegadas. O modelo possuía apenas uma câmera, de 20 megapixels. 

ZTE Axon M

ZTE Axon M. Foto: Amanthi Hiru/Flickr

No ano seguinte, a Royole Corporation (Royu Technology), apostou também em um smartphone dobrável. Ela começou a comercializar o Royole FlexPai. Os modelos tinham preço final variando entre US$ 1.300,00 e US$ 1.470,00. Durante a CES 2019, em Las Vegas, o smartphone chamou bastante a atenção. O Royole FlexPai já era uma espécie de combinação de celular com tablet.

A fabricante pretendia oferecer uma experiência diferente para visualização de conteúdos em vídeos e jogos, por isso, incluiu no smartphone outra tela, de tal modo, que ao abrir, você tinha um tablet em mãos. Com tecnologia AMOLED de 7,8 polegadas, o visor era Full HD, feito de plástico, com resolução de 1920 x 1440 pixels. Dobrado, o aparelho podia ser guardado no bolso.

A questão era que tudo isso acabava deixando-o mais pesado, chegando a 320 gramas, quase o dobro dos outros modelos da época. A espessura também foi um problema. A parte dobrável ficava com um vão. Nesse processo de dobra e desdobra, as câmeras saíam da traseira e passavam a ser frontais. No caso, o Royole FlexPai contava com uma câmera dupla, uma de 16 megapixels e outra de 20 megapixels.

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Royole FlexPai. Foto: Vladimir Semenov.

Ainda havia a questão de, com o uso, a dobra apresentar um vinco, quando o dispositivo adquiria o formato de tablet. Por outro lado, a performance era relativamente positiva, com o processador Snapdragon 8150 e bateria 3.800 mAh. Só que o sistema Android 9.0 nem sempre ofertava uma boa qualidade para os usuários e o touch também não tinha uma performance muito boa, segundo comentários de consumidores.

Concorrentes na cola

No mesmo ano em que o Royole FlexPai começou a ser comercializado, a Samsung anunciou o seu dobrável, que no ano seguinte chegou ao mercado com o nome de Galaxy Fold e custando US$ 1.980. No Brasil, ele foi lançado em janeiro de 2020, por R$ 13 mil, sendo considerado o mais caro do país. O alto preço não foi impeditivo para os consumidores entusiastas, que em um dia de vendas esgotaram os estoques do modelo.

Com tela Infinity Flex Display, ele tinha a mesma dinâmica de funcionamento do dispositivo da Royole, mas em tamanho menor, de 7,3 polegadas, quando desdobrado. Já dobrado, a tela media 4,6 polegadas. Em relação às fotografias, a Samsung apostou alto ao incluir no modelo seis câmeras, sendo três traseiras, duas frontais (quando aberto) e outra frontal (quando fechado).

Diferentemente do seu antecessor concorrente, o aparelho contava com duas baterias, que somadas chegavam aos 4.300 mAh de capacidade. Só que depois de sofrer críticas de personalidades e influenciadores, a marca resolveu adiar o lançamento que estava previsto para abril de 2019. Com ajustes feitos, o modelo adentrou no mercado em setembro daquele ano, primeiramente na Coreia do Sul.

Samsung Galaxy Fold

Samsung Galaxy Fold. Foto: HS You/Flickr

Embora tenham anunciado no mesmo evento, em fevereiro de 2019, Huawei e Oppo passaram a comercializar seus modelos dobráveis mais tarde. Enquanto a primeira iniciou as vendas do Mate X no final daquele ano, por US$ 2.600, a segunda levou cerca de dois anos para dar início ao comércio do Find N.

Oficialmente, a Huawei chegou a explicar que o motivo de adiar o lançamento do smartphone foi pela recepção negativa que a Samsung teve com o primeiro Galaxy Fold. Ainda naquele período, o Google entendeu que era preciso acompanhar os novos modelos. Pelo menos essa foi a proposta do Android Q, que não só suportaria um modelo dobrável como também a conexão 5G.

No início de 2020, foi a vez da Motorola se reinventar e relançar um clássico dos anos 2000, o Razr. Repaginado e diferente dos concorrentes, sua tela se ampliava na vertical, ao abrir o flip. Sem espaço nas dobras, o modelo era mais fácil de ser colocado no bolso. Em questão de dias, a Samsung resolveu anunciar o Galaxy Z Flip, que teve sua tela bem avaliada pelo mercado. A Microsoft também não perdeu tempo. Em setembro, lançou o Surface Duo, que abria como um livro e custava US$ 1.400. Sua tela girava 360º e, embora o deixasse menor que um tablet, ao fechar o aparelho, o consumidor percebia que o seu tamanho era acima da média.

Microsoft Surface Duo

Microsoft Surface Duo. Foto: Divulgação

Mesmo em meio a tanta novidade, o preço e a resistência dos dispositivos eram um dilema para as marcas – fora os corriqueiros problemas nas dobras dos aparelhos, que acabavam quebrando em menor tempo do que o esperado.

A virada de chave

A partir de 2021, os smartphones da categoria melhoraram e passaram a conciliar melhor preço com performance e durabilidade. Dois exemplos de destaque foram o Galaxy Z Fold 3 (Samsung) e o Motorola Razr 5G. Há também quem diga que o Z Fold 2 5G foi, na verdade, o divisor de águas, por já apresentar todas essas melhorias e o modem 5G, embora ainda tivesse o espaço entre as dobras, uma vez fechado. Comparado à versão anterior, sua tela foi expandida, passando a ter 6,2 polegadas na secundária e 7,6 polegadas na principal. Por outro lado, o preço teve um incremento de R$ 9 mil, chegando a R$ 13,9 mil.

As terceiras versões do Z Fold e Flip foram lançadas conjuntamente e em 5G, em agosto de 2021. Ambos trouxeram novidades interessantes. O Galaxy Z Fold3 5G foi pioneiro na câmera frontal debaixo da tela, com capacidade de 4 MP. Já o Flip 3 5G apresentava carregamento rápido de 15W. O primeiro foi comercializado a US$ 1,8 mil, já o segundo, por US$ 800. 

Em 2022, a Xiaomi lançou o seu celular dobrável MIX Fold 2. O modelo perdeu 115 gramas em relação ao seu antecessor, passando a pesar 202 gramas. A câmera traseira era tripla, com sensor principal Sony IMX766, capacidade de 50 megapixels e estabilização óptica. A outra lente era angular, de 13 MP, enquanto a teleobjetiva tinha 8 MP. A frontal contava com 20 megapixels

2024 entregou mais

Embora os lançamentos deste ano demonstrem avanços significativos, ainda há a questão da durabilidade da bateria, afinal, é um dispositivo que sai do formato de celular e se expande, a ponto de se tornar um tablet. As dobras também têm um limite. Se o consumidor é uma pessoa que abre o aparelho com frequência, pode ser que o dispositivo não tenha uma durabilidade razoável.

Segundo pesquisa feita pela Kantar, em 2023, mais da metade dos smartphones dobráveis adquiridos (55%) não conquistaram os usuários, que acabaram voltando aos modelos convencionais. Nos mercados de Alemanha, Austrália, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra e Itália, os handsets de tela expansível são apenas 1% do total vendido. Já o domínio é da Samsung, que detém 90% de share nessa categoria.

Ainda assim, a empresa sul-coreana tem em seu calcanhar a Huawei. Esta, por sua vez, foi bastante ousada em seu mais recente modelo dobrável, o Mate XT Ultimate Design, com tela tripla. A novidade pode acirrar a disputa das marcas. Em junho deste ano, a chinesa se tornou a maior fabricante da categoria. Já Honor, Huawei, LG, Motorola, Oppo, Samsung, TCL e Xiaomi tentam adentrar no embate principal.

Xiaomi MIX Fold 4

Xiaomi MIX Fold 4. Foto: Divulgação

Imagem extraída do site oficial da Huawei.