De antemão digo que não sou expert quando o assunto é ciclo menstrual. Mas a coluna de dicas de apps não é focada apenas no olhar do consumidor homem, cis, mas é para qualquer pessoa, consumidores em quaisquer posições sociais, gêneros, etnias e religiões. Por isso, a dica de hoje é voltada às pessoas que menstruam com o app Cycles (iOS).

Por mais que vivemos em um mundo com 5 milhões de aplicativos nas lojas de apps, segundo dados da Statista, ainda há dificuldades para termos soluções simples e práticas para o dia a dia de certas camadas da população. Quantas vezes você não ouviu: “falta um app para isso”?

Um tema que é pouco abordado entre os apps é o ciclo menstrual. Tem apps para isso? Sim. Inclusive em smartwatches. Mas nem todo mundo tem relógio inteligente (eu mesmo estou voltando aos analógicos por ‘n’ razões que caberiam em outra coluna). E a outra questão é que muitos dos apps são pagos.

Isto em um cenário global em que um em cada três jovens e adolescentes têm dificuldades de acesso à itens de higiene em escolas ou locais públicos, como revela recente estudo da Unicef e OMS. Desde 2022, a OMS pede que a saúde menstrual seja colocada como direito básico e de saúde nos países, não somente como um tema de higiene, uma vez que as pessoas que menstruam enfrentam constrangimento e vergonhas que podem acarretar problemas na vida acadêmica, pessoal e profissional.

No Brasil, nós tivemos avanços nas pautas, em especial com o Dignidade Menstrual que permite acesso da população a absorventes gratuitos via Farmácia Popular. Após um ano de projeto, 1 milhão de pessoas que menstruam já receberam absorventes por meio do programa que, inclusive, precisa de autorização por meio do app Meu SUS Digital.

No mundo ideal, uma função de acompanhamento de ciclo menstrual funcionaria muito bem no Meu SUS Digital, de forma gratuita, com fácil uso, gráficos e alertas para ajudar a prever e até para ajudar as unidades básicas de saúde e farmácias populares a se organizarem para a demanda. Na prática, o que temos é um punhado de apps cuja maioria é paga ou freemium (gratuitos até um certo ponto).

Cycles na prática

Produzido pela desenvolvedora suíça Perigees, o próprio Cycles é freemium, mas sua parte gratuita é bem completa. Na versão sem custos, ele traz o ciclo de 23/24 dias com TPM, menstruação e período fértil. Isso pode ser visto em um círculo ou através de um calendário, ambos com pontos coloridos, como:

  1. Vermelho é o período de menstruação;
  2. Verde é o fértil;
  3. Amarelo é o de TPM.

Também é possível registrar as atividades (logs) da saúde feminina, como:

  • Grau de menstruação, do leve ao intenso;
  • Efeitos no corpo, como náuseas e dor de cabeça;
  • Mudanças no humor, como feliz ou estressada;
  • Tipo de atividade sexual, com ou sem proteção;
  • Quando tomou a pílula.

Com essas informações, o app informa sobre como está a saúde da usuária, quanto tempo durou o fluxo e o ciclo até o começo da próxima menstruação. E, nesses aspectos, ele é considerado bom. Vale dizer ainda que ele alerta mudanças de fase do ciclo, como a chegada da TPM e da menstruação.

Porém, o Cycles cobra R$ 5 por mês para dar mais informações, como insights sobre fertilidade (informações extras sobre o período de fertilidade, por exemplo), previsões sobre a próxima etapa do ciclo menstrual (como mudanças de humor) e – em caso de casais – ter sincronia das duas vidas sexuais em combinação com a agenda, como férias ou viagens.

Outro problema do Cycles é que o app é apenas para iOS. Para usuários de Android, a dica de app é o Femometer Rastreador de Ciclo (Android) que é bem similar. Aliás, um outro problema dos apps de ciclo menstrual é a falta de troca de dados e padronização. Por exemplo, eu uso o Cycles e minha esposa Femometer, mas os dois apps não se conversam. Com isso, nós precisamos colocar todos os registros em dois apps diferentes.

Imagem principal: Telas do app Cycles (divulgação: Perigee)