Conversar é uma das melhores formas de treinar uma língua estrangeira. Que tal ter uma amiga nativa à disposição para bater-papo no WhatsApp a qualquer hora do dia, por texto e por áudio, sobre qualquer assunto e por quanto tempo quiser? Essa é a proposta da startup brasileira Kokedama AI Studio, que criou duas assistentes virtuais, a Emily e a Anna, para treinar a conversação de estudantes de inglês e alemão, respectivamente, dentro do app de mensageria.

“A ideia é que pessoas possam praticar no dia a dia. Não somos concorrentes de escolas tradicionais ou de apps com exercícios gamifcados. Somos uma atividade extra para o estudante”, esclarece Guilherme Seabra, CEO e fundador da Kokedama, em conversa com Mobile Time.

Emily e Anna foram desenvolvidas pela Kokedama usando o GPT 4o. Cada uma tem uma personalidade e uma história pessoal e foram desenhadas para manterem uma conversa amigável por quanto tempo for desejado. Elas podem propor o tema para iniciar o bate-papo, mas o estudante pode mudar o assunto a qualquer momento.

kokedama

Exemplo de primeira conversa com a Emily

“As pessoas falam sobre os temas mais diversos porque sabem que não têm ninguém lhes julgando, afinal, é uma IA. Falam sobre problemas de saúde, relacionamento, trabalho, carreira etc”, relata Seabra.

Obviamente, as duas assistentes não falam sobre temas ilegais ou violência: além das restrições da própria OpenAI, a Kokedama adicionou alguns parâmetros de segurança para o controle das conversas.

O bate-papo pode acontecer por mensagens de texto ou de áudio. Se a pessoa mandar uma mensagem de áudio, a amiga virtual responde também por áudio em questão de poucos segundos. Elas têm uma certa memória e conseguem manter a conversa fluida, sem perder o fio da meada.

Vale destacar que durante o onboarding o estudante informa o seu nível de proficiência (básico, intermediário ou avançado), o que determina a extensão do vocabulário e a profundidade das conversas. Também pode informar se deseja ser corrigido pelas assistentes virtuais. Elas corrigem os erros de maneira cuidadosa e amistosa, evitando tom professoral e sem perder o foco no tema da conversa.

Modelo de negócios

A Kokedama vende o acesso a essas assistentes como um serviço, cuja mensalidade custa R$ 69,90 para cada uma. A contratação é feita através dos sites da Emily e da Anna. No cadastro, o estudante informa seu número do WhatsApp para que a o sistema libere a conversa com a assistente escolhida. Cada uma tem um WhatsApp separado.

O preço da mensalidade leva em conta o custo dos tokens processados pelo GPT 4o e também o custo das sessões do WhatsApp Business API, incluindo algumas mensagens que as assistentes enviam para o estudante para convidá-lo a retomar uma conversa, caso tenha ficado muito tempo sem interagir. Essas mensagens são cobradas pelo WhatsApp para a Kokedama como mensagens de marketing. “Seria ótimo se o WhatsApp tivesse um preço diferenciado para aplicações de educação”, comenta.

A Emily foi lançada em janeiro e a Anna acabou de entrar no ar. O serviço está disponível para o mundo todo. Atualmente, 80% dos assinantes estão no Brasil e 20%, no exterior.

Expansão para outras línguas e modelo white label

A Kokedama pretende ter assistentes para 12 idiomas diferentes. Os próximos devem ser Espanhol e Português. Segundo Seabra, a plataforma desenvolvida permite lançar uma língua nova em apenas 15 dias. Mas a ideia agora é buscar parcerias com outras empresas para o lançamento de novas línguas em um formato white label.

“Queremos firmar acordos de revenue share com empresas que queiram colocar sua marca em um serviço como esse. Pode ser um produto a mais dentro de um pacote, no caso de companhias em mercados concorridos e que precisam de diferenciação. Ou pode ser um benefício para funcionários”, sugere Seabra.

Análise

As assistentes Emily e Anna são mais um exemplo de serviço de terceiros que nasce dentro do WhatsApp. Diante do usso massificado desse app de mensagens no Brasil, é natural que ele se transforme numa plataforma para novos negócios. Outros exemplos são o banco digital Magie e o ChatClass, também de educação. Na prática, é uma gradual transformação do WhatsApp em um superapp, nos moldes do que aconteceu com WeChat na China.

Ilustração: Nik Neves para Mobile Time

 

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