Um brinco de plástico feito para bois e conectado à rede 4G com NB-IoT promete resolver vários problemas dos pecuaristas nacionais. Criado pela brasileira UP2Tech, o iBoi deverá ter 100 mil unidades entregues até dezembro e a projeção é chegar a 1 milhão ao fim de 2025, informa seu sócio-fundador e CEO, Rodrigo Abreu, em conversa com Mobile Time.

O iBoi tem duas versões, a “full” e a “light”. Ambas têm conectividade 4G NB-IoT, eSIM, GPS e RFID. A diferença é que a “full” inclui um sensor de temperatura e contagem de passos. A bateria dura de um a dois anos e pode ser recarregada em uma hora via USB. O produto está em processo final de homologação pela Anatel.

No momento, os brincos estão sendo importados da China. Mas depois de superar a marca de 1 milhão de unidades, começa a valer a pena a produção nacional, estima o executivo.

iBoi

As duas versões do brinco criado pela UP2Tech

O tamanho da pecuária no Brasil e os problemas resolvidos com iBoi

Estima-se que haja 260 milhões de bois no Brasil. A cada ano, cerca de 50 milhões são abatidos. Um bezerro vale em média R$ 2,5 mil. O abate acontece quando o animal tem entre 28 e 30 meses de idade. Um boi gordo vale cerca de R$ 6 mil.

Os produtores enfrentam uma série de problemas que podem ser resolvidos com monitoramento pela rede móvel. O primeiro deles é comprovar o tamanho do seu rebanho e usá-lo como garantia fiduciária, reduzindo o custo para a obtenção de crédito. Com o iBoi, o produtor (ou o banco que lhe emprestou dinheiro) pode a qualquer momento localizar os animais. Atrelado ao serviço, é possível gerar um certificado digital para validar as informações enviadas. A parceira de certificação digital é a Valid.

“A pecuária vai ter um salto financeiro grande se puder colocar o boi como um ativo para garantia”, avalia Abreu.

Outra vantagem do monitoramento é saber exatamente por onde o animal andou em sua vida inteira, o que permite garantir, por exemplo, que nunca esteve em uma região com casos de alguma doença que impeça a sua exportação para determinados mercados.

O controle da localização também desencoraja roubos de animais, problema comum no Brasil. É possível definir cercas virtuais, com alertas caso algum animal ultrapasse os limites. Se um brinco for removido da orelha do boi, também é emitido um alerta.

Na versão full, o controle de temperatura do boi ajuda a prevenir ou tratar doenças, como pneumonia. Se a temperatura estiver mais alta ou mais baixa que o normal, um alerta é enviado. Estima-se que 2% do rebanho brasileiro morra de pneumonia por ano.

O iBoi inclui o armazenamento dos dados na nuvem, com acesso através de um painel na web ou por app móvel para Android e iOS.

Um próximo serviço no roadmap da UP2Tech é incluir a transmissão automática dos dados na pesagem do boi, em vez de ter o peso anotado em papel como acontece hoje em dia.

A solução iBoi foi inventada por Abreu e está patenteada.

Modelo de negócios

“Nossa ideia não é vender brinco, mas um serviço de conectividade fim a fim. É um boi com lastro: sabemos aonde nasceu e por onde andou”, explica o executivo.

A UP2Tech quer vender o iBoi como um serviço, o que pode ser feito em parceria com operadoras móveis. O preço ainda não foi definido, mas Abreu estima que a versão light custará em torno de R$ 3,50 por mês, incluindo a conectividade. E a full deve focar perto de R$ 4,80 por mês.

O tempo mínimo de contrato é de cinco anos. A ideia é que os brincos vendidos sejam reaproveitados depois do abate, passando para outro boi.

Caso a fazenda não tenha cobertura NB-IoT, uma das soluções pode ser a construção de uma rede 4G privativa. Por sinal, o agronegócio é a vertical com maior quantidade de RCPs em operação no Brasil, de acordo com o mais recente Mapa das Redes Celulares Privativas no Brasil, produzido por Mobile Time. A UP2Tech, porém, não pretende atuar no mercado de implementação de RCPs.

Imagem no alto: boi com brinco da iBoi (Crédito: Divulgação)