Homem, branco e jovem: este é o perfil do trabalhador do setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC), segundo levantamento feito pela Associação das Empresas de TIC e de Tecnologias Digitais (Brasscom). O Relatório de Diversidade é referente ao primeiro semestre deste ano, foi baseado em números da própria Brasscom, mas também daqueles que foram divulgados no Censo de 2022, pelo IBGE, na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Cagerd). 

Segundo dados da associação, levantados em junho deste ano, dos 1,2 milhões de profissionais atuantes no mercado legal de TIC, 39% eram mulheres, enquanto 61%, homens. 

Em relação ao comparativo étnico racial, mais de 50% se declara branco, enquanto negros foram 31% e minorias étnicas (asiáticos e indígenas), em torno de 1%. Nesta parte da pesquisa, chama a atenção a porcentagem de profissionais que não se declararam, que passou dos 16%. 

A faixa etária dominante é entre 19 a 29 anos, com mais de 55%.

Mais escolarizadas, menos reconhecidas

O percentual de mulheres em TIC cresceu 1,6% no comparativo entre dezembro de 2019 e junho de 2024. O relatório também apontou que elas têm maior grau de especialização. Enquanto 10% dos homens que ocupam cargos de liderança possuem pós-graduação, mestrado ou doutorado, entre mulheres são 12%. Em ensino superior, a diferença cresce nos cargos de Especialista e Coordenador. Elas são 62% e eles, 52%.

Apesar de terem maior tempo de estudo, o reconhecimento financeiro fica com os homens. Em média, uma mulher em TIC ganha 37% a menos que um homem. Para se ter a ideia, a média salarial do sexo feminino é R$ 2.995,00, enquanto a do masculino é de R$4.106,00. 

Quando se fala do cargo com maior número de profissionais, o de analista de desenvolvimento de sistemas, homens têm média salarial 4,27 vezes superior à das mulheres. Eles ainda são maioria absoluta na posição, correspondendo a 78,5% do total de cargos ocupados, contra 21,5%.

A Brasscom aponta que parte dessa diferença vem do fato de a maioria dos cargos de liderança ainda ser ocupada por homens. No setor de TIC, eles são mais de 64,4% e, quando se trata da área de operações de TIC e P&D, o percentual sobe para 71,9%.

Para o presidente executivo da associação, Affonso Nina, essa diferença não reproduz o nível de capacidade das mulheres. “Para essa realidade mudar, é preciso criar condições para que mais mulheres assumam postos de liderança”, afirmou em entrevista coletiva realizada em São Paulo, nesta quinta-feira, 17. 

Embora seja um cenário desafiador, o presidente executivo da Brasscom acredita que, nos próximos dez anos, essa disparidade deve diminuir e ficar mais igualitária. 

Racismo estrutural é maior em cargos mais altos

Nos cargos de diretoria e gerência, a diferença percentual entre brancos e negros é significativa. Enquanto o primeiro grupo ocupa 70% dessas posições, o segundo tem apenas 16%. Só que na base da pirâmide, como auxiliares e assistentes, os índices têm uma diferença de aproximadamente 10 pontos percentuais, com 44,6% brancos e 34,9% pretos. Vale destacar que, nesta parte do estudo, a pesquisa não incluiu as minorias étnicas e os não declarantes.

Setor se concentra no eixo Sul-Sudeste, com maioria branca

O setor de TIC tem em torno de 58% dos seus trabalhadores atuando na região sudeste e dos quais mais da metade, 58,4%, se declaram brancos. A região Sul vem atrás, com 19,4% do total nacional, porém, a maioria é ocupada por pessoas brancas (62,3%). 

O Nordeste fica em terceiro lugar, concentrando em torno de 10,7% dos profissionais. Por lá, quase 59% deles se declaram negros. No entanto, a região teve a maior porcentagem de não declarados, passando dos 20%. Por fim, o Norte conta com 4,6% da mão de obra empregada no setor. A região tem o maior percentual de pretos, beirando os 70%.

PcDs

No primeiro semestre deste ano, 260 mulheres e 318 homens com deficiência (PcDs)  foram contratados para a área de TIC. No total, eles são mais de 9,9 mil pessoas dentro do setor, a maioria homens (58,1%). Além disso, grande parte dos profissionais PcDs têm deficiência física, representando mais de 47% do total. Na visão do presidente da associação, é preciso que as empresas do setor tenham programas de contratação para dar mais oportunidades a pessoas com deficiência.

E os LGBTQIAPN+?

O Mobile Time notou a falta de números no relatório sobre pessoas LGBTQIAPN+. A diretora executiva da associação, Mariana Oliveira, explicou que dentro do levantamento do Caged não há essa categoria, mas que a associação deve divulgar no próximo mês o seu próprio censo sobre a população. No estudo, 19 mil pessoas participaram respondendo ao questionário de 25 empresas diferentes. A ideia surgiu em um dos encontros de um dos Grupos Temáticos de Trabalho (GTT), o de Diversidade.

“Desde 2018, os GTTs realizam encontros para discutirem o que cada um está fazendo em sua empresa. No de Diversidade, isso não é apenas uma forma de trocar informação, mas também de promover inclusão e aprender a como fazer isso”, explicou a diretora executiva da Brasscom.

Mudanças com Plano Brasil Digital 2030+

Na avaliação de Nina, essas diferenças tendem a diminuir caso o Plano Brasil Digital 2030+, desenvolvido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o Conselhão, entre em prática. No momento, ele é recorrentemente alvo de debates entre o próprio Conselho e o Governo Federal. 

A ideia é que, com o plano, seja estabelecido um modelo de governança, que conte com todos os atores envolvidos, governos, indústria e sociedade civil. 

O presidente executivo da Brasscom também relatou que entidades de vários setores da economia estão buscando diálogo para encontrar formas de colocar em ação o plano. 

Foto: Presidente executivo da Brasscom, Affonso Nina, explica sobre o Relatório de Diversidade da Associação – Karina Merli