É muito provável que, ao ler o título desta matéria, você tenha desbloqueado uma lembrança, com o perdão do trocadilho. Em 2007, a operadora Oi resolveu fazer um comercial com um coral de pessoas, que representavam suas concorrentes, algemadas aos clientes. Naquele tempo, os aparelhos vendidos nas lojas das operadoras eram bloqueados para não funcionar com chips dos concorrentes. Ou seja, só conseguiam realizar ligações se tivessem um SIMcard da operadora na qual o celular havia sido comprado. A Oi resolveu mudar e foi a primeira a abolir esse bloqueio.  

Não demorou muito para que o comercial caísse no gosto do povo, com uma música chiclete. A peça convidava os clientes a participarem de um abaixo-assinado contra o bloqueio, que estava disponível no site Bloqueio Não, inspirado no sucesso do jingle. Em apenas três meses, o documento recolheu 1,5 milhão de assinaturas. A iniciativa tinha como objetivo fazer com que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) colocasse fim à prática.

Além da mobilização, a página reunia depoimentos de clientes e pessoas famosas descontentes com o bloqueio, além de notícias que embasavam o pedido. Curiosamente, ela não exibia o logo da Oi e nem mencionava qualquer relação com a empresa. A ousadia da operadora brasileira chegou a ser interrompida pela Claro, através de uma liminar.

A ação foi uma resposta à denúncia feita pela Oi quanto a uma oferta da concorrente, que oferecia desconto ao cliente que adquirisse um aparelho bloqueado da prestadora. Diante disso, a marca brasileira direcionou seu foco ao website, que já havia mobilizado a sociedade e pressionava o governo a impedir o bloqueio na troca de operadora. No primeiro ano da ação, a prestadora conquistou em São Paulo cerca de 1 milhão de novos consumidores.

Entretenimento desbloqueado

Para aumentar o engajamento em sua campanha, a Oi criou o concurso “Algema Dourada” pelo Bloqueio Não, que premiava o vencedor com um celular desbloqueado da própria operadora. Para concorrer, a pessoa precisava dançar o jingle de forma criativa. Se ela não dominasse muito a arte, estava tudo bem, recursos para aprender não faltavam no site. Entre eles, um tutorial com ilustrações, que evoluía passo a passo conforme o deslocamento do mouse e arrancava risadas com a expressão irônica do personagem. Todos os conteúdos enviados eram exibidos em um layout bastante semelhante ao do YouTube. Quem entrava na página podia votar e comentar cada um dos vídeos.

Se o negócio fosse aprender a tocar, o Bloqueio Não também fornecia a partitura da música e, não contente, resolveu disponibilizar a função “Karaokê”, que abria um outro link, com um personagem da operadora atuando como maestro, enquanto tocava apenas o instrumental do jingle, com as letras sendo exibidas. O conteúdo era disponibilizado em outros três idiomas: espanhol, inglês e italiano. Sendo o primeiro e o último referências indiretas à Claro e TIM, respectivamente.

Liberdade aos bloqueados

No final das contas, a Oi conseguiu cerca de 2 milhões de assinaturas, mas só em 2010 a Anatel finalmente acatou os pedidos, por meio da Súmula nº 8/2010, que prevê que o consumidor tem direito a um aparelho desbloqueado, sem cobrança de valor adicional. 

Imagem: Oi S.A / Wikimedia Commons

 

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